“A casa grande surta quando a senzala aprende a ler”, dizia um texto estampado numa camisa de um estudante da Universidade de Brasília há poucos anos. A sentença resume a arrogância de tanta gente com a ilusão de que o simples hábito de leitura vai levar as pessoas para certo caminho político e não ao outro. E, também, revela a ignorância de quem não conhece – e nem quer conhecer – uma série de autores conservadores, muitas vezes reacionários, que poderiam conduzir o nosso influenciável leitor para muito longe de, suponhamos, os ideais socialistas ou igualitários.
Quem tem a formação por meio de obras de gente do calibre como a do filósofo irlandês Edmund Burke, do economista americano Thomas Sowell, do pensador britânico Roger Scruton, do sociológico francês Raymon Aron, do prêmio Nobel peruano, Vargas Llosa, do prussiano Immanuel Kant, do romancista Fiodor Dostoievski – gente de lugares e épocas diferentes – possui chances razoáveis de se transformar em um elegante e circunspecto, digamos, liberal conservador. Esse sujeito também pode iniciar seus estudos com o filósofo Olavo de Carvalho, com foco nas postagens do antigo Twitter, e seguir para o livro de Carla Zambelli e se filiar nas hostes do puro e simples reacionarismo.
Ou seja, associar cultura, erudição, boas intenções, mesmo o iluminismo, automaticamente à esquerda é coisa de gente iletrada, obtusa, preguiçosa, ideologicamente cega, ou todas as alternativas citadas anteriormente. Pensando aqui, em um exercício de imaginação, se pudermos fazer um futebol de filósofos de esquerda versus os de direta, como num esquete do grupo humorístico Monty Python, podendo escalar gente de todos os séculos, faltaria elenco para o pessoal da canhota.

Mas dito isso, é preciso conceder que existe sim uma direta xucra no Brasil. Que parece se orgulhar da sua falta de estudos, das grosserias que proferem, da vulgaridade que emanam de todos os poros. De alguma maneira se irmanaram na idolatria insensata a gente como Jair Bolsonaro ou agora ao presidente eleito Donald Trump.
Essas pessoas, representadas pelos parlamentares e demais figuras públicas que foram a Washington à posse de Trump (Na verdade, passar frio nas filas para os eventos), ou dançar deslumbradamente, como se não houvesse amanhã, ao som do cantor Gusttavo Lima, o candidato presidencial das Bets, em algum salão da capital americana.
Para essas pessoas caiu bem a atitude de Trump com a simbólica frase dita à repórter da Rede Globo ao ser perguntado sobre como será a relação com o Brasil e a América Latina: “A relação é excelente. Eles precisam de nós, muito mais do que nós precisamos deles. Não precisamos deles. Eles precisam de nós. Todos precisam de nós”, numa síntese sincera, que revela o íntimo do que o presidente pensa daqueles nossos compatriotas barangos que foram ao frio do hemisfério norte usar o boné vermelho do “Make America Great Again”: o mais que evidente desprezo.