Integrantes da família Bolsonaro ganharam cerca de 200 mil novos seguidores no Twitter após a venda do aplicativo para o bilionário Elon Musk na segunda-feira, 25. Especialistas levantam a hipótese de haver impulsionamento por contas automatizadas. Esse padrão não foi identificado nos perfis dos políticos no Instagram.
O presidente Jair Bolsonaro (PL) foi o que obteve o maior número de novos seguidores nos últimos dois dias: 101 mil novos. O segundo que mais cresceu na plataforma foi o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos), com 46 mil novos seguidores, seguido do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), com 42 mil, e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), com 9 mil.
Segundo levantamento do Estadão, nos dias 24 e 25, os perfis da família Bolsonaro ganharam 25 mil usuários novos. Já entre ontem e a tarde desta quarta-feira, o aumento foi de 199,9 mil, uma diferença de mais de mil por cento.
A hipótese da professora da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e diretora do Netlab, Rose Marie Santini, é que o crescimento foi impulsionado por contas falsas automatizadas, criadas após um suposto afrouxamento nos critérios de manutenção da rede. “O que parece que aconteceu é que, com a compra definitiva de Musk, a empresa desligou as máquinas que detectavam os bots”, disse.
Segundo a pesquisadora, em resposta a críticas pelo excesso de bots, o Twitter vinha usando nos últimos tempos critérios internos (provavelmente com máquinas baseadas em Inteligência Artificial) para banir contas suspeitas, automatizadas e ações coordenadas que pudessem comprometer a imagem da plataforma. Por meio dessa filtragem automática, explica ela, o Twitter provavelmente conseguia banir os bots mais elementares e realizar uma certa moderação. “A sensação que temos hoje é que qualquer um está conseguindo criar diversos perfis novos em poucas horas. Parece que o Twitter não está mais banindo”, disse.
Christopher Bouzy, fundador do Bot Sentinel, plataforma que rastreia com inteligência artificial contas automatizadas, também associa o crescimento de seguidores à criação de bots.Segundo análise de Bouzy, mais de 61 mil dos novos seguidores de Bolsonaro foram contas criadas nesta terça-feira, 26. A análise foi divulgada pelo próprio pesquisador em sua rede social.
Bouzy foi questionado se as novas contas que passaram a seguir o presidente são orgânicas. “A resposta é não. Não acho que dezenas de milhares de brasileiros decidiram criar novas contas ao mesmo tempo e seguir Bolsonaro porque Elon Musk está comprando o Twitter”, publicou.
Para criar uma conta no Twitter, é necessário identificar um número de celular. Para Marie, entretanto, isso não é visto como empecilho para grandes operadores de bots. “Estamos falando de pessoas que, provavelmente, possuem click farms por trás, uma infraestrutura de WhatsaApp e Telegram toda montada há alguns anos”, disse.
Como mostrou o Estadão, políticos e influenciadores bolsonaristas também apontaram um aumento de seguidores em seus perfis no Twitter e atribuíram o crescimento à compra da plataforma por Elon Musk, alegando que vinham sendo “censurados” pelas diretrizes da empresa.
Em nota, o Twitter atribuiu as oscilações que aconteceram "globalmente" na plataforma a mudanças orgânicas. "Temos analisado as recentes variações na contagem de seguidores de perfis no Twitter globalmente. Ao que tudo indica, essas oscilações parecem ter sido, em grande parte, resultado de um aumento na criação de novas contas e desativação de outras, organicamente", disse. "Seguiremos analisando essas alterações e, como parte de nossos esforços contínuos, tomando medidas contra contas que violem nossa política de spam."