
Dia desses, chovia.
Corria os canais de televisão quando, por acaso, deparei-me com um documentário sobre Heráclito Fontoura Sobral Pinto.
Heráclito foi advogado de Luis Carlos Prestes durante o governo militar.
Cristão fervoroso, defendeu um ateu convicto.
Isso já dá ideia da grandeza de Heráclito Sobral Pinto.
Fez brilhante defesa dele e de outros durante o regime militar.
Não direi que foi o maior advogado brasileiro de todos os tempos.
Conhecendo a história de Rui Barbosa, Evandro Lins e Silva, Waldir Troncoso Peres e René Ariel Dotti, dentre outros, seria o acaso do excelente documentário assistido sugestionando minha opinião.
Serei incontroverso: Sobral Pinto foi um grande brasileiro.
E contarei por quê.
Nos idos de 1960 houve uma movimentação para a instalação de uma ditadura comunista no País.
Os militares se organizaram para debelar essa revolução.
Foram exitosos.
A isso se seguiu um período de exceção.
Nenhuma novidade até aí.
O fato é que Sobral Pinto apoiou o golpe militar e tempos após se colocou ferrenhamente contra o governo de caserna.
Questionado diretamente numa entrevista televisiva sobre uma possível contradição, o acaso permitiu que a grandeza do homem se revelasse mais uma vez.
Sobral Pinto explicou ao repórter que soubera da tentativa de instalação de uma ditadura comunista no País.
Condenou-a com vigor.
Em seguida, narrou ter sabido dos propósitos militares.
Questionou-os direta e inacreditavelmente.
Sobral Pinto era um Titã.
Os militares prometeram-lhe restaurar a legalidade democrática, e devolver o governo ao povo, nada mais.
Sob essa promessa, Sobral Pinto apoiou os militares.
O tempo passou, e nada de se devolver o governo ao povo.
Sobral Pinto percebeu que essa demora não era obra do acaso.
Traída a confiança - sua e da Nação - Sobral Pinto se voltou firmemente contra o regime ditatorial de direita.
Sobral Pinto não apoiava ditaduras, de esquerda ou direita.
O acaso não me agraciou com a majestade de Sobral Pinto.
Mas nada me impedia de absorver, pelo exemplo, a lição de coerência, equilíbrio, firmeza e compromisso com a Nação de um homem virtuoso.
Enquanto assistia ao documentário, foi inevitável a associação com o momento presente.
Num período de profunda divisão ideológica fraterna em que a rotulação a um dos extremos é imposta em qualquer discussão, seguirei o exemplo de Sobral Pinto: o equilíbrio.
Repilo ambos os polos.
Tenho a firme convicção de que a maioria dos brasileiros pensa assim também.
O povo brasileiro é bom por natureza.
Não há patrício, em sã consciência, favorável a retrocessos sociais.
Inaceitáveis, sim, são os excessos que hoje permeiam a sociedade.
E apenas eles.
Eu quero somente organizado progresso, como estampado em nossa bandeira.
Foi com essa convicção e sob esse compromisso que elegi um presidente.
E se ele, por conduta no exercício do mandato, trair a confiança depositada, Sobral Pinto já ensinou o que fazer.
Mas se você não pensa assim, tudo bem.
Estarei responsavelmente vigilante ao teu lado, da mesma forma.
Mas eu tenho fé.
O acaso é brasileiro.
*Eloy Ojea Gomes, promotor de Justiça do Estado de São Paulo