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Generais antes tão admirados agora correm o risco de virar alvo e sofrer quebra de sigilo

Alunos ‘nota 10′ nas academias militares desprezaram o próprio brilho e deslizaram para um pântano perigoso

colunista convidado
Foto do author Eliane Cantanhêde
Por Eliane Cantanhêde

Entre mortos e feridos, não se salvaram todos na investida do ex-presidente Jair Bolsonaro para usurpar a imagem das Forças Armadas, triturar biografias e embolar nomes de militares das mais altas patentes com os de gente da estirpe de um Daniel Silveira e de um Marcos do Val, golpistas de chanchada.

O que faziam no time desses tipos, e de figurinhas religiosas carimbadas, o general Augusto Heleno, o almirante Flávio Rocha e o tenente-coronel Mauro Cid? Alunos “nota 10″ nas academias militares, desprezaram o próprio brilho e deslizaram para um pântano perigoso, ao lado dos generais Walter Braga Netto, Luiz Eduardo Ramos e Paulo Sérgio Nogueira.

General Augusto Heleno foi ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) durante o governo Bolsonaro. Foto: Nilton Fukuda/Estadão

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Uns mais, como Heleno e Braga Netto, outro menos, como Ramos e Paulo Sérgio, entram no alvo de investigações e suspeitas sobre conluios nada a ver com o “Deus, Pátria e Família” que atraiu milhões de pessoas, jogou milhares em torno de quartéis e justificou o vandalismo nos três Poderes. Rocha escapa.

Heleno dizia que “Lula não sobe a rampa (do Planalto)” e Braga Netto foi a um acampamento recheado de militares da reserva e de familiares de militares, para “pedir paciência” e clamar: “Tenham fé”. Fé em quê? Num golpe? Nas versões conflituosas e duvidosas de Do Val à imprensa e à PF, a intenção era usar equipamentos do GSI, chefiado por Heleno, para gravar e prender o ministro Alexandre de Moraes (STF/TSE) e anular as eleições. Dos cinco envolvidos, dois seriam militares.

Quando Bolsonaro, um capitão insubordinado, demitiu o ministro da Defesa e os comandantes de Exército, Marinha e Aeronáutica, não foi por seus defeitos, mas pela coragem de dizer não a atos antidemocráticos e ao uso político das Forças Armadas. Os generais Fernando Azevedo e Silva e Edson Pujol ficaram do lado certo da história.

O sucessor na Defesa foi Braga Netto, que saíra por cima com a intervenção na Segurança do Rio, e, no Exército, Paulo Sérgio, que fizera um belo trabalho na pandemia, na contramão de Bolsonaro. Ambos cederam. O Alto Comando nem sequer repreendeu o general da ativa Eduardo Pazuello, que, contrariando o Estatuto Militar e o Regimento do Exército, participou de um ato político de Bolsonaro. “Uma marca profunda na história do Exército”, resume um oficial. E com cem (cem!) anos de sigilo.

O general Ernesto Geisel chamava Bolsonaro de “détraqué”, expressão que define gente desprezível, desequilibrada. É por causa de um “détraqué”, portanto, que generais antes tão admirados correm o risco – entre outros – de terem seus sigilos telemáticos quebrados. Podiam passar sem essa. O Exército e o Brasil também.

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