BRASÍLIA - O general Eduardo Villas Bôas deixou nesta sexta-feira, 11, o comando do Exército, após quase quatro anos no posto, e vai assumir a função de assessor especial do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), no Palácio do Planalto. Villas Bôas deve iniciar o novo trabalho a partir de fevereiro, a convite do ministro da pasta, general da reserva Augusto Heleno, de quem é amigo.
O governo quer aproveitar a experiência de Villas Bôas como uma espécie de consultor de Heleno, que, por sua vez, é um dos principais conselheiros de Jair Bolsonaro. Tecnicamente, o GSI é responsável pela segurança do presidente e por ações de inteligência e estratégia do governo. Na prática, a pasta ganhou mais força na atual gestão, já que Heleno exerce influência em decisões estratégicas em diversas áreas.
Villas Bôas também possui boa relação com Bolsonaro. Durante a cerimônia de transmissão do cargo ao sucessor, o general Edson Leal Pujol, ele se emocionou ao receber um abraço do presidente. Bolsonaro e a primeira-dama, Michelle, foram os primeiros saudados no discurso do general, para quem o Brasil festeja a chegada deles ao Planalto.
“O senhor traz a necessária renovação e a liberação das amarras ideológicas que sequestraram o livre pensar, embotaram o discernimento e induziram a um pensamento único, nefasto como assinala o jornalista americano Walter Lippman, ‘quando todos pensam da mesma maneira, é porque ninguém está pensando’”, disse o mestre de cerimônias que leu o discurso de Villas Bôas.
Debilitado por uma doença degenerativa, o general se poupou durante a cerimônia, fez uma saudação inicial e voltou a falar apenas na hora de transmitir o cargo a Pujol.
Um dia após assumir a Presidência, Bolsonaro havia citado Villas Bôas como um dos responsáveis por ter chegado ao Planalto. “O que nós já conversamos morrerá entre nós. O senhor é um dos responsáveis por eu estar aqui”, afirmou o presidente, durante a transmissão de cargo do ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva.
‘Instabilidades’
Na cerimônia, Azevedo e Silva citou a instabilidade política que marcou os quatro anos em que o general comandou a força, sem falar abertamente sobre o processo de impeachment da presidente cassada Dilma Rousseff e as eleições de 2018. Ele afirmou que a passagem de Villas Bôas ocorreu “num tempo que guarda as marcas das instabilidades que colocaram à prova a maturidade das instituições democráticas brasileiras, incluídas as Forças Armadas”.
“O general Villas Bôas é reconhecido pelo carisma de líder equilibrado. Mas o seu grande feito não pode ser medido com olhos rasos. A maior entrega deste comandante foi o que ele conseguiu evitar. Foram tempos que colocaram à prova a postura do Exército como organismo de Estado, isento da política e obediente ao regramento democrático”, afirmou o ministro da Defesa.
Em abril, porém, Villas Bôas se envolveu em uma polêmica ao fazer, na véspera do julgamento de um habeas corpus do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Supremo Tribunal Federal, um post no Twitter repudiando a “impunidade” e dizendo que o Exército estava “atento às missões institucionais”.
Villas Bôas classificou 2018 como um ano de “acontecimentos desafiadores para as instituições e até mesmo para a identidade nacional” e destacou o protagonismo de três personalidades para que o País “voltasse ao rumo normal”: Bolsonaro, o ministro da Justiça, Sérgio Moro, e o interventor no Rio, general Walter Souza Braga Netto.
O general fez reconhecimentos a Dilma e a Michel Temer. A petista o indicou para o cargo, e o emedebista o manteve. Apesar disso, fez reclamações por constantes cortes de verbas nos últimos anos. Ele também destacou o papel da imprensa no aperfeiçoamento institucional e citou jornalistas do Estado.