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Como a conjuntura do País afeta o ambiente público e o empresarial

Como seria um novo governo Bolsonaro? 

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Por Redação

José Antonio G. de Pinho, Professor Titular Aposentado. Escola de Administração UFBA. Pesquisador FGV - EAESP

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Quando Jair Bolsonaro chegou à Presidência em 2019, carregava uma longa lista de compromissos de candidato anti-sistema, anti-corrupção, promitente defensor de uma pauta de valores conservadores. Muitos se enganaram com suas pregações, muitos louvaram seus arroubos autoritários. Quem sabia da vida efêmera e turbulenta do militar, que teve que abandonar a carreira chegando apenas ao posto de capitão, sabia que suas qualificações não correspondiam ao exigido na vida militar. 

Abraçando a carreira política, tornou-se vereador pelo Rio de Janeiro por um curto período, logo seguido por sete mandatos como deputado federal. Na Câmara abrigou-se no espaço do chamado baixo clero, mas, na realidade, sem fazer parte dele, indicando sua dificuldade de pertencimento a este grupo ou qualquer outro, o que revelava um traço de sua personalidade. Alcançou a ribalta quando começou a participar de programas de televisão de gosto duvidoso, com pautas apelativas, onde se sentia plenamente à vontade para destilar sua veia autoritária, anti-democrática. Aí começou a construir um portfólio que o tornou conhecido de um grande público que o levou à Presidência, catapultado pela facada recebida poucas semanas antes do 1.o turno de 2018. 

Se o Bolsonaro de 2018 surpreendeu e enganou muita gente, o mesmo não se dá agora. O seu mandato, indelevelmente marcado pela sua omissão no que diz respeito ao enfrentamento do Covid 19 e por tantas outras posições que revelaram um mandato de pífias realizações e de muita tibieza por sua parte. Os indicadores de pobreza, fome, miséria, desindustrialização são tão contundentes que revelam o atraso e o retrocesso que assolam o País. 

A Nação ainda teve que assistir envergonhada sua atuação internacional onde se escondeu em fóruns com chefes de estado, culminando recentemente nas comemorações do Bicentenário da Independência quando deslocou o Presidente de Portugal, o convidado mais importante no palanque para uma posição subalterna, quebrando totalmente o protocolo. O talhe de estadista não lhe cabe, não lhe cai bem, como também o de figura pública haja visto o vexame do episódio do "imbrochável", que levará Jair Messias a ocupar na História uma posição de extrema vergonha para a civilização brasileira. 

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É neste patamar que Bolsonaro concorre à reeleição. O que nos propomos a fazer aqui é uma especulação de como seria um segundo mandato, considerando uma vitória ungida pelas urnas (eletrônicas) e não derivado de um golpe. A referência para este exercício será seu mandato, que resta pouco tempo para findar. Um inevitável ponto de partida é que o Presidente se sentirá chancelado pela sociedade e, portanto, empoderado. Governar implica necessariamente eleger prioridades. Uma que está bem clara é a destruição da Amazônia e do Cerrado, o que já vem se dando de forma acelerada pois "a boiada continua passando", a floresta continua queimando. Mais quatro anos de governo ficará dúvida o que restará em pé. Inequivocamente um crime contra a Nação e a Humanidade, tal o papel desempenhado por esses biomas.

Como um corolário destas ações tem-se a facilitação do garimpo ilegal, menina dos olhos de Bolsonaro, um sonho desde sua juventude. Evidentemente, como já vem acontecendo, o garimpo em terras indígenas se intensificará mais ainda, colocando insegurança nos povos originários, certamente outro desejo de Jair Bolsonaro, mostrando sua nanica estatura civilizatória. Ainda cabe um bosquejo sobre a atual política social do governo assentada fundamentalmente no Auxílio Brasil que resultou de uma ação genuinamente eleitoreira para se viabilizar para um suposto 2.o turno. Em outras palavras, Bolsonaro não tem qualquer compromisso com uma política social de corte social-democrata. 

Alguns componentes atávicos ao DNA do ex-capitão serão conduzidos para esse eventual mandato, como o Negacionismo e sua visão anti-científica, haja visto os cortes que foram feitos na área de Ciência e Tecnologia e Educação, outra área que para ele não existe. Essas escolhas refletem bem a ausência de projeto de Nação, de futuro para o incumbente. É de um vazio intelectual e existencial imenso. 

Isto também pode ser aferido na sua prática religiosa, uma decisão de puro oportunismo, Difícil acreditar que Bolsonaro tenha raízes religiosas, haja visto seu comportamento longe de valores religiosos como a piedade, a comiseração e empatia. Outra expressão desse ser humano brutalizado reside na sua política armamentista. Detrás do biombo dos CAC (não é possível se ter tantos CACs assim na população brasileira) a liberação de armas busca o armamento de apoiadores prontos para exercer sua estupidez no caso de um golpe. Mais quatro anos também pode garantir bens imobiliários por parte da sua prole, fazendo um upgrade no patrimônio, atestando o empreendedorismo da família. Apesar de possíveis episódios deste teor e outros mais, o governante continuará defendendo a ausência de corrupção em seu governo. 

Até agora, arrolamos uma série de expectativas sem interferência de organizações da sociedade civil ou instituições do Estado. Um exercício livre, portanto. Se no mandato atual o governante montou uma estrutura de muros de contenção, personificados em dois inequívocos correligionários como Aras e Lira, que mantiveram o ocupante do Palácio do Planalto imune aos inúmeros escândalos que se sucederam, em um novo mandato, o jogo volta à estaca zero. É razoável supor que Bolsonaro, vencendo o pleito, também tenha uma Câmara favorável, o mesmo se aplicando para o seu presidente, possivelmente o próprio Lira. 

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Essa hipótese até agora trabalhada refere-se à uma vitória do ex-capitão através das urnas. Mas a realidade não está sorrindo para ele. Suas iniciativas welfaristas não repercutiram na melhoria da avaliação do candidato, assim dizem as pesquisas. A redução do preço da gasolina e do gás, que deveria impactar o preço dos alimentos principalmente, não chegou à mesa da imensa maioria de brasileiros/as pobres. Parecem resistentes perfilando ao seu lado seu grupo de devotos, os fiéis, e grupos evangélicos que acreditam nas palavras de ordem proferidas por ele. O desastre para as hostes bolsonaristas será retumbante caso a derrota ocorra no 1.o turno, mas também de proporções destrutivas caso se dê no segundo turno. 

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Do que se conhece de Bolsonaro, ele não cruzará os braços assistindo tudo impassivo, acionando, assim, o modo golpista. Ao que tudo indica, o Sete de Setembro não reuniu as condições para qualquer movimentação no sentido do rompimento da ordem democrática. A aposta agora, junto com as agressões e mentiras costumeiras, pode se supor, concentra-se em criar um caldo de caos no dia das eleições, através de um terror causado pelas "pessoas de bem", armadas, de modo a afugentar o eleitorado do comparecimento às seções eleitorais. Esta é a versão física, na versão digital o espaço será inundado de fake news pelas máquinas de produção de mentiras. No entanto, esta hipótese também mostra dificuldade em sua consecução dado o grau de coesão da sociedade brasileira, através de várias de suas organizações, entre as quais a mídia, universidades e entidades de classe, e de instituições do Judiciário, em especial o STF e o TSE. 

De qualquer modo, é necessário que a Nação esteja alerta para os delírios bolsonaristas. Em artigo anterior, neste mesmo espaço, argumentamos que o Brasil deve um impeachment a Bolsonaro. Não se torna prudente correr esse risco de dar mais um mandato ao ex-capitão para executar esta dívida. Sendo um presidente leviano, irresponsável, incapaz para o exercício do cargo, e orientado pelo espírito da morte, merece o impeachment das urnas.

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