'Golpe é uma palavra um pouco dura', diz Haddad sobre impeachment

Em entrevista ao 'Estado', prefeito de São Paulo disse que aliança entre Marta, Kassab e Matarazzo 'causa espécie nas pessoas'

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Por Adriana Ferraz , Pedro Venceslau e Tonia Machado
Atualização:

O prefeito de São Paulo e candidato à reeleição, Fernando Haddad (PT), 53, disse nesta quarta-feira, 10, em entrevista à Rádio e à TV Estadão, que considera a palavra “golpe” muito forte para classificar o impeachment da presidente Dilma Rousseff.

A posição dele destoa do discurso do PT, que classifica o presidente em exercício, Michel Temer, como “golpista”. “Golpe é uma palavra um pouco dura, que lembra a ditadura militar. O uso da palavra golpe lembra armas e tanques na rua”, afirmou o petista.

O prefeito de São Paulo e candidato à reeleição Fernando Haddad Foto: Felipe Rau|Estadão

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Ele ponderou, porém, que considera “casuísmo” o processo de impedimento que tramita no Senado. “Não me parece de bom tom o que vem acontecendo: um vice se insurgir contra a cabeça de chapa”.

Quando questionado se pretende contar com a presença de Dilma em seu palanque e no horário eleitoral gratuito na TV durante o processo eleitoral, Haddad desconversou. “Ela está vivendo um momento difícil e me solidarizo. Sobrecarregá-la mais com esse tipo de abordagem não seria justo. Seria desrespeitoso tratar um drama desse pensando se dá voto ou não”.

O prefeito argumenta que na eleição de 2012 fazia sentido usar a imagem de Dilma. “Eu não era conhecido. Nesse caso, fazia sentido terceiros apresentarem o candidato. Agora não”.

Antes de encerrar o bloco de perguntas sobre o governo federal, Haddad reclamou da demora no repasse de verbas do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) . “Faltou um pouco de repasse federal, apesar da União ter renegociado a nossa dívida, que caiu de R$ 67 bilhões para R$ 30 bilhões. Isso foi um feito. Mas os repasses do PAC caíram à conta gotas”.

Sem citar Temer, ele questionou se o programa, criado na gestão Luiz Inácio Lula da Silva, irá continuar na nova administração. “Não sei se a política desse governo interino será de manter ou não o PAC”.

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'Espécie'. Haddad foi questionado ainda sobre a declaração da senadora Marta Suplicy (PMDB), que foi prefeita de São Paulo pelo PT entre 2001 e 2005,  de que levará para a campanha o melhor do PT e do PSDB.

"Às  vezes a pessoa é um pouco personalista, não funciona em equipe. É o mesmo que dizer que o legado no ministério da Educação na minha gestão é meu. O PT teve três administrações. Foi uma melhor que a outra”, afirmou.

Mesmo afirmando que não pretende fulanizar suas posições, a senadora foi criticada por ter mudado de partido e se aliado com Gilberto Kassab e Andrea Matarazzo.

“A aliança que a Marta fez com o Temer e o Kassab em troca da legenda será discutida (na campanha). Ela foi ministra do Lula e da Dilma e cinco vezes candidata majoritária (pelo PT). Essa aliança causa espécie nas pessoas”. O vice de Marta, Andrea Matarazzo (PSD),  deixou o PSDB neste ano após ser derrotado nas prévias para o empresário tucano João Doria.

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Cracolândia. Criticado por todos os adversários, o programa 'De Braços Abertos', que trata da redução de danos dos dependentes químicos da região da cracolândia, foi defendido pelo prefeito. “Atendemos 500 beneficiários. São pessoas que diminuíram o consumo de droga. Jogar essas pessoas na rua não vai fazer bem para a cidade. Seria um crueldade. Não seria melhor esses candidatos conversarem com os beneficários?”.

Segundo o petista, seria "uma pequena tragédia" essas pessoas irem para a rua a partir de 1° de janeiro.Haddad prometeu expandir o programa e acolher mais dependentes. Em referência a Marta Suplicy, ele afirmou que não faz sentido uma psicóloga ser contra uma experiência que é aprovada internacionalmente.

Apesar da crítica, o prefeito disse que a gestão da Marta "foi importante" para a cidade. "Ela foi derrotada pelos erros que cometeu, e ela admite que cometeu muitos erros, sobretudo na segunda metade do mandato”.

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Confira a entrevista na íntegra: