Também não existe nada de político em crimes como o estupro. Isso mesmo: nada! Pena que para grande parcela da sociedade, de acordo com o Sistema de Indicadores de Percepção Social do IPEA, parece que sequer seja um crime muito preocupante. Isso porque o levantamento aponta que para 60% dos brasileiros a atrocidade é justificada pelo fato de as mulheres se "vestirem inadequadamente", ou se "comportarem de forma pouco razoável". Elas seriam os "agentes provocadores"? O ser humano, nesse caso, parece reduzido a um pedaço de carne cobiçado por bichos numa realidade irracional. Detalhe: o bicho é o próprio ser humano. Algo literal para sentenças do tipo "o homem é o lobo do homem", que consagrou Thomas Hobbes em sua tentativa de explicar o "estado de natureza". Portanto, por mais que culturalmente o país caminhe sobre uma faixa que nos aproxima da Idade Média, é impossível afirmar que o estupro seja um crime político. Será?
O ex-prefeito de uma pequena cidade do interior paranaense tem utilizado tal justificativa para explicar sua prisão. Dizendo-se um "preso político do 45", em alusão ao número que representa o PSDB nas urnas, partido do governador do seu estado, um ex-assessor da então ministra da Casa Civil e senadora Gleisi Hoffman (PT-PR) afirma que todo o caso é uma grande armação para prejudicar a candidatura dela ao governo. Que pretensão! Detalhe: por serem acusados de coagirem testemunhas, outros cidadãos ligados a Eduardo Gaievski, o ex-prefeito, já foram detidos. E pelo teor das denúncias, parece que a cultura ogra e a lógica dos abusos sexuais se faziam presentes no gabinete oficial do então prefeito. O caso soma cerca de 40 crimes continuados envolvendo estupro qualificado, assédio sexual e oferecimento de cargos na prefeitura em troca de encontros íntimos. Em seu depoimento a tese do "crime político". E nos relatórios do IPEA mais uma constatação importante sobre esse tipo de aberração: estima-se que 70% dos estupros no Brasil sejam cometidos contra crianças e adolescentes. E óbvio e infelizmente, tal "requinte" não poderia faltar na lista de atrocidades do acusado: está lá o estrupo de vulnerável. Em Realeza, isso mesmo, estamos falando da cidade de Realeza, o nome parece fazer um irônico sentido. O prefeito seria o rei absolutista que doentiamente se servia de suas "súditas"? E o governador de seu estado, sob suas palavras, controlaria o Judiciário? Se confirmados os crimes, só podemos dizer que na cabeça do "estuprador oficial" habitam as faces mais sombrias de tudo o que não entendemos por democracia. A sua realeza seria absolutista, e se lembrarmos de um ícone chamado Luís XIV, ou Rei Sol, só podemos torcer para que o astro rei, aos olhos do acusado, continue a nascer quadrado.
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