Depois de parlamentares europeus e de líderes políticos britânicos, os índios da reserva indígena Raposa Serra do Sol (RR) que buscam apoio na luta pela homologação de suas terras pelo Supremo Tribunal Federal (STF) conquistaram ontem, em Paris, o suporte de um dos ícones da esquerda mundial, Danielle Mitterrand. Entre militantes pró-direitos humanos e ambientalistas, a ex-primeira-dama da França na gestão de François Mitterrand fez defesa veemente da causa dos indígenas no Brasil. Os representantes das tribos macuxi e uapixana, também líderes do Conselho Indígena de Roraima, tentam na Europa sensibilizar autoridades políticas e organizações não-governamentais (ONGs) para garantir apoio em sua luta jurídica contra arrozeiros instalados na reserva, homologada em 2005 pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A pedido de advogados dos produtores rurais e de políticos da região, em agosto os ministros do STF devem analisar a constitucionalidade da decisão do Executivo. A conferência de Paris foi realizada na tarde de ontem, na sede da Fundação Danielle Mitterrand, e foi a terceira etapa da turnê européia que os dois índios fazem pela Europa, com apoio das ONGs Survival Internacional e Anistia Internacional. As duas primeiras reuniões haviam acontecido em Bruxelas, na Bélgica, e em Londres. Ontem, diante de platéia que lotou o auditório da fundação, Jacir José de Souza (macuxi) e Pierlângela Nascimento da Cunha (uapixana) relataram suas versões da disputa com os produtores rurais em Roraima. Antes disso, um vídeo de um conflito entre índios e arrozeiros impressionou o público. "Jagunços contratados, armados e bombas caseiras nos ameaçam o tempo todo. Já somos 21 os líderes assassinados à bala", afirmou Jacir. "Atos de violência acontecem há mais de 35 anos, mas essa é só a primeira vez que filmamos. Os ataques acontecem contra nossas casas, escolas, contra as pessoas", reforçou Pierlângela, que, como Jacir, evitou críticas ao governo Lula. Danielle Mitterrand mostrou conhecimento sobre a situação indígena na América Latina e pediu providências das autoridades e mobilização das ONGs. "É algo que infelizmente acontece no mundo todo. O direito dos índios brasileiros existe e está assegurado na Constituição de 1988. Esses índios estão em suas terras, as quais habitam há muito tempo, e já tiveram seu direito reconhecido", destacou. A turnê européia prosseguirá hoje, mais uma vez em Bruxelas. Depois, deve chegar a Milão e Roma, na Itália, onde ativistas negociam encontro da comitiva com o papa Bento XVI. Ainda estão previstos atos em Lisboa.
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