O governador de Minas, Itamar Franco (PMDB), desafiou hoje o presidente Fernando Henrique Cardoso ao dizer que não permitirá a privatização de Furnas Centrais Elétricas, cuja principal represa se localiza no Sudoeste do Estado. De manhã, durante a apresentação do plano de ação do governo, Fernando Henrique afirmou que colocará a empresa à venda em 2002. "Vamos lutar com todas as nossas forças contra o esquartejamento do setor elétrico nacional", disse Itamar. "Minas levantará mais uma vez a sua bandeira contra esse esquartejamento", afirmou. O governador citou o comando da Polícia Militar do Estado ao fazer considerações a respeito da estratégia que pode usar para impedir a privatização de Furnas, contra a qual, ao lado da venda da Companhia Vale do Rio Doce, ele disse ter sido "totalmente" contrário durante o período em que ocupou a Presidência da República. "Vocês podem perguntar como nós vamos fazer isso, mas eu não sei. Como diz o meu Gabinete Militar, estratégias a gente não diz, faz", afirmou. Em 1999, o governador mineiro determinou a realização de manobras da PM na região de Furnas e chegou a cogitar a modificação dos cursos d´água no local, como forma de atrapalhar qualquer projeto de venda da empresa. Itamar defendeu ainda a realização no País de um referendo popular para saber se as pessoas querem ou não que se venda Furnas. Segundo governador, ele está tentando fazer isso em Minas, em relação à Companhia Energética do Estado (Cemig), por meio de um projeto enviado à Assembléia Legislativa que também divide a empresa em distribuição, geração e transmissão. "Eu acho que a Cemig não deve ser privatizada, mas pode ser que a população entenda diferente, e por isso o referendo", afirmou. Corrupção No início do pronunciamento, o governador Itamar Franco, pré-candidato do PMDB à Presidência, não poupou ataques a Fernando Henrique, que havia se referido a ele sem citar seu nome, na entrevista da manhã. Itamar lembrou que, durante seu período no Palácio do Planalto, apoiou uma comissão mista especial de investigação da corrupção no poder público federal. Mostrando o "Livro Negro da Corrupção", resultado dos trabalhos da comissão e de autoria de Modesto Carvalhosa, Itamar disse que Fernando Henrique determinou o fim das investigações tão logo assumiu a presidência. "Agora a gente até entende o porquê", afirmou Itamar, referindo-se a denúncias de corrupção contra o governo FHC que partiram de "seus próprios aliados". "Por que ele, que se diz tão honesto e que tem maioria no Congresso, não permite a instalação de uma comissão parlamentar de inquérito mista para apurar denúncias de corrupção?", questionou. Itamar disse ainda que Fernando Henrique, que foi seu ministro, teria sido eleito para o primeiro mandato às custas da administração que o governador desenvolveu no País, como presidente. Mas que, dentro de menos de dois anos, não estará mais no cargo. "Talvez ele saia do cargo em melhores condições que eu, não sei", disse, aludindo à suposta corrupção no primeiro escalão federal.