BRASÍLIA – Numa transmissão ao vivo com André Ventura, presidente do partido de extrema direita português Chega, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) disse acreditar em uma “interferência do bem” do presidente americano eleito, Donald Trump, no Brasil.
Durante 20 minutos de conversa neste domingo, 19, Bolsonaro fez críticas à democracia brasileira, chamou o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes de “jagunço” e comparou a sua situação – indiciado em três situações, por fraude em cartão de vacina, desvio de joias sauditas e tentativa de golpe de Estado — a uma perseguição.

Bolsonaro e Ventura vinham criticando o que eles consideram ser um “caminho errado” que o Brasil vem tomando nos últimos anos, com um suposto alinhamento a países autoritários, quando o brasileiro afirmou que a falta de “liberdade de expressão” pode motivar uma ação do presidente dos Estados Unidos em seu País.
“O Trump tem dito que sem liberdade de expressão não tem democracia, e ele quer democracia aqui na América do Sul. E ele sabe que se o Brasil de vez continuar nessa ditadura, já estamos com duas patas e um braço lá dentro, e vai interferir, (ter) interferência para o bem”, declarou o ex-presidente.
Como pano de fundo para a conversa entre os dois políticos está a proibição de Bolsonaro de ir à posse de Trump, que ocorre nesta segunda-feira, 20, em Washington, por decisão de Moraes de negar a devolução do passaporte do ex-presidente. O documento está retido como medida cautelar da investigação sobre a tentativa de golpe após as eleições de 2022.
O presidente da Argentina, Javier Milei, lamentou a ausência de Bolsonaro na cerimônia de posse e culpou o “regime Lula” por ter barrado a presença de seu aliado no evento.
No sábado, 18, Bolsonaro acompanhou no Aeroporto de Brasília o embarque da mulher, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, que vai representá-lo no evento ao lado do filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP). A jornalistas, ele disse que está constrangido por não poder comparecer à cerimônia de posse e chorou ao falar que se sente “perseguido”.
Bolsonaro disse esperar o apoio do líder americano para reverter a sua inelegibilidade no Brasil. “Com toda certeza, se ele me convidou, ele tem a certeza que pode colaborar com a democracia do Brasil afastando inelegibilidades políticas, como essas duas minhas que eu tive”, disse Bolsonaro, se referindo a decisões do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O ex-presidente afirmou ainda que discutiu com os pré-candidatos a presidente da Câmara e do Senado a votação do projeto de lei que concede anistia aos condenados por envolvimento na depredação de cunho golpista do 8 de Janeiro. Ele espera que “o devido processo legal seja seguido” no Congresso para que a pauta vá a votação.