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Janaina Paschoal diz que Bolsonaro tenta ‘destruí-la’ e que carta da USP é ‘pró-Lula’

Candidata ao Senado por São Paulo critica decisão do presidente de apoiar Marcos Pontes e diz que atos em defesa da democracia se transformaram em manifesto a favor do petista

Foto do author Pedro  Venceslau
Por Pedro Venceslau
Atualização:

A deputada estadual Janaina Paschoal subiu o tom nas críticas ao presidente Jair Bolsonaro (PL), a quem apoiou e de quem quase foi vice em 2018. Na primeira entrevista da série do Estadão com postulantes ao Senado em São Paulo, a candidata do PRTB disse que Bolsonaro está “fazendo tudo para lhe destruir”. “Ele (Bolsonaro) lançou o astronauta (ex-ministro Marcos Pontes) para me atrapalhar. Tenho muito potencial de votação”, afirmou a parlamentar de 48 anos. Ela declarou ainda não saber se vai apoiar o ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos), nome escolhido pelo presidente na corrida pelo governo paulista, a quem acusou de ser desleal.

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Na entrevista, a advogada e professora de direito da USP também criticou o “momento histórico” do ato na Faculdade de Direito da USP em defesa democracia. “A carta se transformou em um manifesto pró-Lula”, disse.

Crítica da obrigatoriedade da vacina no serviço público, Janaina afirmou que teve uma reação alérgica ao imunizante contra a covid-19 e, por isso, tomou apenas a primeira dose. Para ela, a indústria farmacêutica inventou as demais doses para faturar.

A deputada estadual Janaina Paschoal durante entrevista ao ‘Estadão’; candidata ao Senado sobe o tom nas críticas a Bolsonaro, a quem apoiou em 2018 Foto: Marcelo Chello/Estadão

A seguir, leia a entrevista.

A sra. apoia o presidente Jair Bolsonaro? Vai fazer campanha para ele?

Provavelmente vou votar nele porque não voto na esquerda e hoje temos uma divisão muito clara. Os candidatos que se apresentam como alternativa a Lula e Bolsonaro têm 1% de intenção de voto. Não vejo muita possibilidade de se alterar esse quadro. O candidato que tinha potencial o sistema neutralizou: o Sérgio Moro. Mas é subir no palanque de uma pessoa (Bolsonaro) que está fazendo tudo para lhe destruir.

Bolsonaro que destruir a sra.?

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Não tenho dúvida disso. Eu coloco o País acima de verdade. Entendo que a esquerda voltar é algo ruim, por isso (voto) no Bolsonaro. Mas o que ele está fazendo para me atrapalhar... Ele não precisaria me apoiar. Entendo que não tenho o perfil das pessoas que o circundam, que são pessoas que o aplaudem em qualquer circunstância. Mas ele lançou o astronauta (Marcos Pontes) para me atrapalhar. Tenho muito potencial de votação. A última pesquisa me deu 16% (de intenção de voto). Ele disse que o astronauta é o candidato dele. Bolsonaro tem um público cativo que obedece qualquer ordem. O eleitorado que naturalmente estaria comigo se dividiu. Numa eleição de um único turno esse movimento é fatal. Bolsonaro está, na verdade, agindo para eu não chegar ao Senado. Ele prefere dar a cadeira para a esquerda do que permitir que uma pessoa que não é aduladora chegue ao Senado. Eu não me dobro. Ele quer aduladores no Senado.

A sra. acha que Bolsonaro não a escolheu por isso?

No primeiro biênio teria sido muito difícil o nosso convívio se eu fosse vice dele. Eu demorei para entender como ele funciona. Eu demorei muito para entender essas convocações para manifestações. Eu teria batido muito de frente com ele. Foi a melhor decisão. Apoio quando acho que ele está certo e contesto quando está errado. A dinâmica do Bolsonaro é muito parecida com a do Lula: quer ser reverenciado.

Essa sua posição não deixa o eleitor confuso?

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Nunca me apresentei como uma bolsonarista. Eu disse e digo: não quero o PT no comando do meu País e a esquerda de volta. Qual alternativa que tínhamos em 2018? Bolsonaro. Em 2022? Bolsonaro. É uma decisão de racionalidade, e não de adesão. Mas para o petismo e o bolsonarismo só vale a adesão.

A sra. assinou o manifesto e vai ao ato na Faculdade de Direito da USP pela democracia? O movimento teve apoio do ex-ministro Miguel Reale Júnior, que assinou com a sra. o impeachment da Dilma Rousseff.

Não assinei e não assinarei. Mas não diminuo o movimento. Conheço muitas pessoas que votaram no presidente Bolsonaro e assinaram. Neste momento histórico a carta se transformou em um manifesto pró- Lula. Também não assinei o manifesto-resposta, que a deputada Bia Kicis organizou e se não me engano tem até mais assinaturas. Não é o momento.

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Como avalia as atitudes e declarações do Bolsonaro em relação às mulheres?

Não são falas que me agradam. Ele poderia ter se esforçado para cumprir a liturgia do cargo.

A sra. acredita em pesquisa de intenção de voto?

A pesquisa mostra o retrato de um determinado momento.

Então a sra. acha que hoje o Lula lidera a disputa presidencial?

As pesquisas mostram uma tendência. As pesquisas até o momento dão a liderança ao ex-presidente Lula, mas as mais recentes mostram uma inversão. Os números não são absolutos, mas não vivemos sem eles.

Por que a sra. indicou seus irmãos como suplentes no Senado?

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Diferentemente dos demais candidatos ao Senado ao longo da história, eu não vou fazer acordo de me afastar do cargo para o suplente assumir. A prática é colocar alguém muito rico para bancar a campanha. Ou pode haver acordo político. Alguém muito conhecido e com menos resistência vai para cabeça de chapa. Aí o presidente oferece para essa pessoa um ministério para o 2° assumir. Esse é o caso do Márcio França. O Lula ofereceu um ministério para ele. Se a esquerda ganhar o nosso senador será o Juliano Medeiros, presidente do PSOL.

Defende outra forma de escolher o substituto de senador?

Que a segunda pessoa mais votada assuma. Olha a situação do astronauta (Marcos Pontes, candidato do PL). Ele é o único suplente do senador (Luiz) Giordano que ocupou a cadeira do falecido Major Olímpio. Ele pode concorrer? Eu entendo que não. Se ele concorrer e ganhar, o senador Giordano fica sem suplente. Se ele precisar se afastar, quem assume? Seria preciso fazer uma nova eleição. Tem suplente que compra a suplência. Muitas pessoas me procuraram querendo ser meus suplentes e financiar a minha campanha. Alguns presidentes de partido.

A sra. vai apoiar o Tarcísio de Freitas para governador?

Eu não sei. Ele não foi leal comigo. Me disse que eu era a predileta para fazer par na chapa, mas fecharia com o Datena porque ele tinha 33% de intenção de voto. Eu entendi. Só que o Datena saiu. Aí tentaram o Feliciano, Carla Zambelli, Skaf e acabaram lançando o astronauta. Qual o argumento agora, se eu tenho 16% das intenções de voto e ele 10%?

Se o PT ou o PSDB vencerem a eleição para governador em São Paulo, a sra. vai lutar com eles pelo Estado no Senado?

Amigo, veja minha atuação na vida. O que é certo eu apoio e o que é errado eu combato. Jamais combato uma ideia boa para aniquilar um grupo ou fazer subir outro.

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‘Tarcísio de Freitas não foi leal comigo’, diz Janaina sobre ex-ministro de Bolsonaro candidato ao governo de SP  Foto: Marcelo Chello/Estadão

A sra. se vacinou contra a covid?

Tomei a primeira dose da Pfizer e tive uma reação alérgica muito forte. Fui orientada a não tomar as demais doses.

A sra. é contra a obrigatoriedade dos funcionários públicos serem vacinados. Isso não colocaria as pessoas em risco nas repartições públicas?

Entendo que não. A esmagadora maioria se vacinou ou quer se vacinar. Não vejo sustentação jurídica, sobretudo depois do final do estado de emergência sanitária, para a imposição de vacinação para quem quer seja. Entre os que se vacinaram há uma porcentagem pequena de gente que não quer tomar infinitas doses. Existem estudos mostrando que muitas doses de vacinação têm impacto negativo no sistema imunológico.

Quais estudos?

Não tenho aqui. Se você me pedir eu trago. Mas tem um monte.

A sra. tem certeza que são estudos confiáveis e não fake news?

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Tenho. Pode conversar com imunologistas. Se você expõem o corpo a muita produção de anticorpos, isso acaba diminuindo o sistema imunológico. A indústria farmacêutica inventou reforços de três em três meses. Isso não tem precedente.

A sra. é antivacina?

Claro que não.

Mas esse é um discurso antivacina...

Não. É um discurso científico.

Nunca li nada científico nesse sentido. Os infectologistas dizem o oposto disso: é preciso tomar quantas doses forem necessárias

Vou levantar e mandar pra você. Isso é lobby. Só ajuda a indústria farmacêutica. O tempo vai mostrar. Há um endeusamento da indústria farmacêutica sem precedentes. A história dessa indústria é circundada de experiências com seres humanos sem que eles sejam avisados.

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O presidente Jair Bolsonaro insinuou numa live que a vacina podia causar HIV. A sra. concorda com ele?

Ele está equivocado, muito embora ele tenha se pautado em uma matéria que saiu em uma revista.

Ele se pautou numa fake news.

Não. Foi numa matéria de uma revista de circulação grande, não era fake news. Hoje se denomina fake o que não se concorda. Era assim no mensalão, petrolão...

Mas nesse caso da vacina causar Aids é de fato fake news, certo?

É errado, mas estava numa matéria.

A sra. defendia a cloroquina também?

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Não. Inclusive não tomei quando tive covid.

Como candidata a senadora, quais propostas pretende apresentar para ajudar São Paulo?

Não vemos São Paulo representado com altivez no Senado para limitar o agigantamento dos outros poderes. Hoje há um agigantamento do Poder Judiciário.

Como deve se limitar o Poder Judiciário?

A casa legislativa competente para segurar os arroubos do Supremo é o Senado, mas o Senado hoje está de joelhos.

Que tipo de reforma tributária a sra. defende?

Acho muito difícil a gente conseguir um tributo único, mas defendo a redução do número de tributos e a permanência maior deles no Estado de São Paulo para a geração de empregos. Tenho preocupações também com a questão da soberania.

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A sra. vai adotar uma agenda de costumes se chegar ao Senado?

Sou defensora da vida desde a concepção. É o direito de uma pessoa nascer.

A sra. demonstrou preocupação com o excesso religioso nos discursos do presidente e da primeira-dama. Por que?

Tenho preocupação com excesso do envolvimento da política com uma única religião. O estado laico, que não significa estado ateu, fomenta a existência e a convivência de todas as religiões. Atenta contra a ideia constitucional de estado laico haver um estado com uma única religião.

Isso está acontecendo com Bolsonaro e a primeira-dama Michelle?

Tenho preocupação com o tom que a primeira dama está dando. Tenho muito respeito por ela, mas não o tom não me parece apropriado. Todo o discurso político é trazido a público sob a perspectiva de uma religião. Quem a conhece a história pode se preocupar. Essa não é uma preocupação por ser evangélico.

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