BRASÍLIA - Cada vez mais acionado para resolver questões políticas, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, contratou como assessora a ex-secretária-geral do Senado Cláudia Lyra Nascimento. A servidora chegou ao cargo no início do mês por indicação do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Cláudia já circula pelos corredores do Congresso a serviço de Levy, num momento em que o governo tenta emplacar seu ajuste fiscal. Uma das principais tarefas, no momento, é aprovar a medida provisória 665 no Senado. A MP que restringe acesso a seguro-desemprego e abono salarial deve ir ao plenário hoje.
Analista legislativa do Senado desde 1981, ela foi secretária-geral de 2007 a 2014, abrangendo, entre outras, as gestões Renan e José Sarney (PMDB-AP). O cargo é uma espécie de braço direito do presidente do Senado. Nas eleições passadas, a servidora concorreu a uma cadeira de deputada federal pelo PMDB. Cláudia não conseguiu se eleger. Um dia antes de ter sua nomeação para a Fazenda publicada no Diário Oficial, no dia 6 passado, ela foi homenageada por Renan Calheiros em plenário. "Nos momentos mais tensos, mais dramáticos desta Casa, Cláudia, sempre sorridente, esteve firme em defesa do Brasil", elogiou o peemedebista. Em ação. Apesar de já contar desde o início do mês com ajuda para suas tarefas de negociação política, Levy não deixou de trabalhar na área. Ontem ele teve um típico dia de "negociador". Primeiro, teve de convencer agricultores familiares que protestam na porta do ministério a liberar sua entrada no prédio. O grupo reivindicava crédito, habitação e investimento. Houve confusão e empurra-empurra, mas Levy acabou passando. Depois, o titular da Fazenda se dirigiu ao Itamaraty, onde ocorreu um almoço para a delegação chinesa. Em um dos intervalos do compromisso, teve uma conversa com o presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski. O magistrado ficou ao menos 20 minutos tentando convencê-lo a conceder o reajuste do Judiciário, que deve ser votado hoje na Comissão de Constituição e Justiça do Senado. "Agora não dá, agora não dá", repetia Levy. Depois, o ministro da Fazenda foi para o Congresso para negociar as propostas do ajuste fiscal. Logo de cara foi surpreendido com as declarações do líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), relator da proposta que revê a política de desonerações. Segundo Picciani, os setores de transporte, tecnologia da informação e comunicação devem ser poupados dos aumentos de encargos nas folhas de pagamento. Na véspera, o governo havia negociado com o peemedebista o comando da Companhia das Docas do Rio, órgão que administra os portos do Estado, em troca da manutenção do texto original do governo: fim da desoneração para todos os setores ainda em 2015. Levy se reuniu com a bancada do PMDB para defender sua proposta. Depois, seguiria para conversar com as bancadas do PR e PSD. Picciani ainda mantinha negociações a respeito de seu texto final na noite de ontem. O projeto, que chegou ao Congresso em março, deverá ser colocado em votação na Câmara hoje. Depois ainda vai precisar passar pelo Senado. Ele prevê uma economia anual de R$ 6 bilhões e é central no ajuste fiscal.
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