Quantas vezes você leu o nome de Donald Trump ou viu o rosto do presidente norte-americano no noticiário nas últimas semanas? Parece que ele é onipresente, não é mesmo? É tanta informação que fica até difícil acompanhar.
Em um dia, ele diz que vai construir resorts na Faixa de Gaza. Em outro, que vai anexar o Canadá ou que vai acabar com a guerra Ucrânia-Rússia em troca de minerais raros e vai impor tarifas a torto e a direito. Algumas coisas acontecem, outras não. A maioria não, mas ninguém sabe ao certo o que vem por aí e todos ficamos perdidos como naquele quadrinho da Turma da Mônica: “o que está acontecendo? eu não sei, eu não sei”.

A estratégia de Trump 2.0 é a mesma de seu primeiro mandato, mas elevada à décima potência. Chama-se “flood the zone”, algo como “inundar o debate público” em português. Foi popularizada pelo estrategista político e ex-assessor de Trump Steve Bannon, um dos gurus da extrema direita. Consiste em bombardear a mídia e as redes sociais com tanta informação - não necessariamente coerente ou verídica - que não sobra espaço para mais nada.
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Assim, o líder em questão sobrecarrega a esfera pública, confunde, distrai e controla a narrativa. Era como o ex-presidente Jair Bolsonaro agia quando falava em “fazer cocô dia sim dia não” ou “virar jacaré se tomar vacina”. Flood the zone.
Apesar de ser mais do que conhecido, estudado e debatido, o método tem dado certo. Trump é o presidente do principal país do mundo e não há como ignorá-lo. Só se fala nele. Mas, por mais que repercutam, os efeitos das falas de Trump tendem a ser modulados à medida que ficar claro que a inundação é mais retórica do que prática.
Nesta semana, por exemplo, ele disse que colocará tarifa de 25% sobre o aço e o alumínio que os EUA compram do mundo todo. Desta vez, os mercados reagiram melhor do que na outra, quando ele anunciou que taxaria México e Canadá e, logo depois, recuou. Até agora de taxa - taxa mesmo - o que temos é 10% para os produtos chineses, o que não faz nem cócegas na competitividade do que a China vende aos norte-americanos.
Mesmo os governantes parecem estar mais escaldados. Apesar de alertas, a palavra de ordem no governo brasileiro é cautela. Em 2018, Trump já havia ameaçado com a mesma cobrança de 25%, que acabou não se concretizando. A sobretaxa foi aliviada com a imposição de uma cota que, se não atendeu totalmente aos interesses brasileiros, aliviou para o lado das siderúrgicas o suficiente para manter as exportações.
A prudência tem prevalecido na fala de autoridades desde o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do vice e ministro do Comércio Exterior, Geraldo Alckmin, até o das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, que dizem que o governo não quer estimular uma guerra comercial e afastaram medidas de reciprocidade. “Sempre é um bom caminho a gente buscar o ganha-ganha”, disse Alckmin. O ministro das Comunicações, Sidônio Palmeira, deve estar orgulhoso da uniformidade do discurso, algo que vem sendo tentado por ele em outros temas, sem sucesso.
Há lógica em o governo brasileiro buscar alternativas até 12 de março, quando a tal tarifa entraria em vigor. O próprio Trump já sinalizou que abriria uma exceção para o aço australiano, uma vez que a balança comercial é superavitária para os Estados Unidos. Se for por esse argumento, o Brasil também importa mais do que exporta para o País. Além disso, o aço que a gente vende para eles é produzido a partir de carvão siderúrgico, que é comprado… dos EUA! E quando chega em solo norte-americano, esse mesmo aço, assim como o alumínio que Trump quer taxar, é usado como insumo para fazer carros, máquinas e outros produtos base para a economia deles, ou seja, a sobretaxa só vai encarecer mesmo as coisas por lá.
Mas a lógica não parece ser o forte da administração trumpista, e somente as próximas semanas dirão o que será realidade ou não no imbróglio siderúrgico. Enquanto isso, a ubiquidade de Trump tende a permanecer, assim como as inundações do debate público. Resta saber os estragos reais que causarão. Stay tuned.