Nesta semana, o governo fará um novo contra-ataque na tentativa de recuperar a aprovação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em queda livre desde o ano passado, como mostrado na pesquisa Genial/Quaest. O ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom), Sidônio Palmeira, vai assumir o slogan informal “O Brasil é dos brasileiros” em uma campanha que, segundo fontes do Planalto, irá comparar as ações do governo Lula com a gestão de seu antecessor, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
A ideia é mostrar à população como o ex-presidente prejudicou os órgãos públicos. Ao mesmo tempo, destacar o trabalho de reconstrução, ampliação de programas existentes e a criação de novos, como o “Pé-de-Meia”. O programa do Ministério da Educação (MEC), uma das meninas dos olhos de Lula, oferece incentivo financeiro a estudantes do ensino médio público inscritos no Cadastro Único (CadÚnico). Como mostrou o Estadão, o programa tem mais beneficiários do que alunos matriculados na rede pública em pelo menos três cidades.
Pesquisa Genial/Quaest divulgada nesta quarta-feira, 2, mostra que a aprovação do governo Lula voltou a cair e atingiu o pior patamar desde o início da gestão em janeiro de 2023. A desaprovação foi de 49% em janeiro para 56% em março. Já a aprovação, caiu de 47% para 41% no mesmo período. O levantamento ouviu 2.004 eleitores de 120 municípios entre os dias 27 e 31 de março. A margem de erro é de dois pontos porcentuais para mais ou para menos, e o índice de confiança é de 95%.

De acordo com interlocutores do governo, as últimas pesquisas qualitativas internas — aquelas em que o eleitor explica sua opinião — mostram uma leve recuperação na popularidade de Lula, mas ainda indicam o desgaste de sua imagem junto ao eleitorado. A principal causa apontada é a perda de confiança entre o que o petista diz e o que o governo efetivamente entrega. A promessa feita durante a campanha, de que os brasileiros voltariam a comer picanha, virou um símbolo dessa discrepância, dado o aumento do preço da carne. Segundo uma fonte, quem perdeu a confiança no que ele diz já não consegue mais levar a sério promessas que não se cumprem.
Cientista político e fundador do Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe), Antonio Lavareda observou que a ideia de mudar os slogans é bem-vinda. “União e Reconstrução”, pondera ele, perdeu o momento, especialmente agora que o País segue polarizado e dividido. Quanto a outro mote usado, “O Brasil dando a volta por cima”, pode servir até para brincadeiras. Afinal, já estamos passando da metade do mandato.
“E se até agora não demos a volta por cima, quando isso irá acontecer?”, questiona Lavareda, em tom de brincadeira. Os slogans foram criados ainda quando o ministro era o deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS), no começo do governo.
Outro ponto que Lavareda considera negativo é a ideia, que vem sendo ventilada por assessores do Planalto, de comparar as gestões Lula a Bolsonaro. Essa perspectiva deixa sempre em destaque o nome do ex-presidente, tornado réu pelo Supremo Tribunal Federal (STF) pela tentativa de dar um golpe de estado e atentado violento ao Estado de Direito. Por outro lado, o cientista político vê com bons olhos a ideia de regionalizar as ações de divulgação, especialmente se for considerado que a queda na aprovação de Lula varia por região. O Nordeste, onde o presidente sempre obteve suas maiores votações, foi uma das áreas em que ele mais perdeu apoio.
Idealizador da chapa Lula e Geraldo Alckmin (PSB), Felipe Soutello afirma que o principal problema do governo não é o slogan, mas a frequência mais permanente na comunicação. “Falta uma comunicação mais frequente e aderente ao cotidiano dos brasileiros”, diz o estrategista e consultor.
Soutello vê com bons olhos a aposta na regionalização. “Não é uma estratégia nova, mas é inteligente, pois aproxima as realizações do governo federal da população. Hoje, o governo não está presente na vida das pessoas, e bandeiras como o Bolsa Família já foram incorporadas pelos brasileiros. Com a regionalização, há uma chance de mostrar, em cada Estado, o que está sendo feito. Inclusive para evitar que governadores capitalizem sozinhos obras importantes. Em São Paulo, por exemplo, destacar onde os recursos do Novo PAC estão sendo aplicados. A ideia de trazer uma apropriação mais local das obras e ações do governo federal é boa pois ajuda a diminuir essa sensação de distanciamento.”
Para Soutello, a comparação com Bolsonaro é prematura e inadequada, já que o ex-presidente está inelegível e não será o adversário de Lula em 2026. “É mais eficaz construir elementos comunicacionais que façam as pessoas perceberem que suas vidas estão melhorando. A comparação com Bolsonaro, nesse momento, pode até ser prejudicial para Lula, porque acaba colocando o adversário em evidência”, avalia.