O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reafirmou, ao promover novos oficiais generais, o empenho do governo em buscar recursos para reaparelhar as três Forças Armadas. Lula, no entanto, não citou diretamente a crise do setor aéreo. O presidente participou nesta terça-feira, 3, da posse de novos oficiais e, em discurso de 15 minutos, apenas destacou a importância da "lealdade" e "profissionalismo" dos militares. Lula frustrou a expectativa e a ansiedade das Forças Armadas que esperavam um discurso dele cobrando respeito à hierarquia militar. "Acredito ser oportuno reforçar o meu compromisso público com o ministro da Defesa, os três comandantes das Forças e todos os oficiais de que não medirei esforços para continuar buscando recursos necessários para avançar no reaparelhamento das três Forças", disse. O presidente observou que o comportamento de tropas brasileiras no Haiti recebeu elogios da ONU pela "seriedade", "competência" e "espírito de solidariedade". Lula desejou boa sorte aos novos oficiais e ressaltou que os mesmos alcançaram o objetivos para serem promovidos pela dedicação e pela verdadeira "profissão de fé". Decepção Depois do discurso de Lula, semelhante aos pronunciamentos feitos em cerimônias militares, os generais, almirantes e brigadeiros disseram estar "decepcionados". "Foi uma decepção", afirmou um deles. "Estava esperando um grande discurso num momento de crise", ressaltou outro. Com a saída de Lula do Salão Nobre, onde ocorreu a solenidade, os seguranças retiraram a corda que separava a imprensa dos convidados. O comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito, tentou sair correndo do local. Cercado pelos jornalistas, ele foi lacônico ao assegurar que haverá tranqüilidade nos aeroportos durante o feriado da Semana Santa, após o motim dos controladores de vôo deflagrado na sexta-feira. "Está superado", garantiu ele. Questionado insistentemente se o feriado seria tranqüilo, respondeu: "Tranqüilo". Juniti Saito afirmou, novamente de forma lacônica, que não considerava que tinha sido desautorizado por Lula quando suspendeu a ordem de determinar a prisão dos controladores de vôo que entraram em greve. Ao ser questionado se agora teria a autorização para prender e instaurar inquérito contra os controladores, o brigadeiro respondeu que o procurador militar Giovanni Rattacaso irá investigar o episódio da última sexta-feira. O ministro da Defesa, Waldir Pires, foi outro a deixar correndo o Salão Nobre. "As instituições são as que estão escritas na alma de todos nós, os cidadãos", disse numa rápida entrevista. "O Estado está cumprindo seus deveres essenciais", completou. "O governo quer que as instituições sejam capazes de manter o processo de desenvolvimento em nome de todos os cidadãos, em face dos valores que a Constituição assegura." Minimizar crise Lula tenta minimizar a crise militar que se instalou desde a greve dos controladores de vôo, na última sexta-feira, quando o Executivo tomou a frente das negociações. Os comandantes militares ficaram irritados com a intervenção. Na última segunda-feira, o presidente convocou uma reunião com os comandantes das três Forças Armadas para tentar se explicar e acalmar os ânimos. Para mostrar aos chefes do Exército, Marinha e Aeronáutica que seu governo está empenhado em restabelecer a disciplina militar, o presidente, segundo apurou o Estado, deu a entender aos comandantes que não reconhece o acordo fechado com os controladores em meio aos caos de sexta passada. O próprio Bernardo negou a anistia aos participantes do motim. Mesmo sendo advertido de que o termo estava na nota assinada por ele para o fim da greve, o ministro repetiu que o assunto nunca foi tratado. Depois, assegurou que o governo quer "investir na tranqüilidade e não botar fogo no circo". Em reunião com o Conselho Político de governo nesta terça-feira, 3, o presidente mostrou-se muito aborrecido com o comportamento dos controladores de vôo e já promete não interferir caso os controladores militares sejam punidos por insubordinação. Lula também transferiu a gestão da crise para a Aeronáutica. O governo também endureceu o tom e avisou nesta terça-feira: os controladores de vôo que promoverem motim durante o feriado da Páscoa deverão ser presos e incluídos em inquéritos policiais militares (IPMs). Texto ampliado às 20h19