Marinha compra Viagra quando Exército já detinha tecnologia para produzir

Gastos de R$ 33 milhões com remédio contra a impotência é investigada pelo Tribunal de Contas da União

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Por Daniel Weterman
Atualização:

BRASÍLIA – Documento apresentado em audiência pública das comissões de Fiscalização Financeira e Controle e Seguridade Social e Família da Câmara aponta que a Marinha comprou comprimidos de uma versão genérica do Viagra quando as Forças Armadas já detinham o conhecimento para produzir o medicamento, que é usado para a impotência sexual.

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Segundo o deputado Elias Vaz (PSB-GO), a Marinha gastou R$ 33 milhões na compra de 11 milhões de doses do medicamento, entre 2019 e 2022. Ao mesmo tempo, o Exército comprou, ao custo de R$ 88,2 mil, 75 quilos da substância ativa para produzir 3,75 milhões de comprimidos. O remédio foi comprado pela Marinha do laboratório EMS, do empresário Carlos Sanches, próximo ao presidente Jair Bolsonaro (PL). A compra é alvo de uma investigação no Tribunal de Contas da União (TCU).

“Por que a Marinha tem que pagar pedágio para a EMS se o Exército tem a tecnologia para produzir?”, questionou o deputado. “É uma situação muito grave e revela que o Ministério da Defesa nem sabe o que está acontecendo sob o seu comando. É um escândalo com dinheiro público”, afirmou Elias Vaz. Pelos cálculos dele, caso a Marina solicitasse ao Exército a produção dos comprimidos que comprou gastaria por volta de R$ 200 mil. Procurada, a farmacêutica não se manifestou.

Resposta

Presente na audiência da Câmara, o ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, disse que “as compras nas Forças Armadas ocorrem com total transparência e lisura”. “Cada Força tem sua peculiaridade e sua autonomia administrativa. Temos um controle interno e externo rigorosos”, disse o ministro.

A EMS afirmou que o contrato prevê desenvolvimento do produto e transferência tecnológica para que o laboratório da Marinha possa produzir o medicamento. “O valor estipulado contempla toda essa prestação de serviços por parte da empresa”, disse a empresa.

O ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, esteve presentes nesta quarta-feira, 8, em encontro da omissão de Fiscalização Financeira e Controle (CFFC) e Comissão de Seguridade Social e Família (CSSF). Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agencia Brasil

Além dos comprimidos, a compra de próteses penianas também é alvo de uma apuração do TCU. Os militares compraram 60 próteses por R$ 3,5 milhões para unidades ligadas ao Exército. Os contratos foram defendidos por aliados do governo na comissão. “O senhor perdeu tempo vindo aqui, ministro. São seis próteses para 530 mil militares”, afirmou a deputada Soraya Manato (PTB-ES). Ao todo, foram compradas 60 próteses.

A reunião foi marcada por diversos episódios de bate-boca entre parlamentares de oposição e governistas. O Palácio do Planalto escalou uma tropa de choque de bolsonaristas, que formaram maioria na audiência, para defender o ministro e criticar os governos do PT por denúncias envolvendo corrupção em governos passados. Os gastos foram alvos de questionamentos por parlamentares por serem destinados à compra de Viagra em doses acima do recomentado nos protocolos sanitários e prescrito até por pediatras nas Forças Armadas.

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