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Labirintos da Política

Opinião | Assombrado por ‘melancias’, Bolsonaro tenta interferir no STM e força anistia nas ruas

Ex-presidente quer que a CCJ dificulte a aprovação de indicada do governo Lula, chamada de ‘esse tipo de gente’

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Foto do author Monica  Gugliano

Ainda que por enquanto os fatos se passem com a máxima discrição possível, tem tudo para acabar em barraco a indicação da advogada Verônica Abdalla Sterman para o cargo de ministra do Superior Tribunal Militar (STM). Ela precisa ser sabatinada pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado e ter o nome aprovado para assumir o posto. Mas, para começo de conversa, alguns integrantes do colegiado já estimam um longo tempo até que o nome dela seja apresentado.

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“Primeiro tem o orçamento, depois a pauta que está lotada, vai demorar, muito”, declarou o senador Hamilton Mourão (Republicanos), ex-vice-presidente da República. Mourão ressalvou que não fez nenhum juízo de valor sobre a advogada, mas lembrou que ela nunca teve um julgamento na justiça militar. Em outras palavras, vai ter que aprender.

Com vocábulos não necessariamente explícitos, tem surgido um porém aqui, outro lá, contra Sterman. Já deve ter sido difícil para os senhores magistrados do STM, engolirem a nomeação da nova presidente do Tribunal, Maria Elizabeth Rocha. Fosse pouco, aparece agora outra mulher e, segundo se diz, em Brasília, indicada por Janja e Gleisi Hoffmann. Como assim? Duas petistas vão indicar nomes que julgarão militares? Ah....não...Porque o que ocorre a boca pequena é que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou a indicação. Entretanto, o ato foi patrocinado por ambas.

Plenário do STM em posse da presidente da Corte militar, Maria Elizabeth Rocha Foto: José Cruz/Agência Brasil

E, se Janja e Gleisi são petistas, é óbvio que Sterman há de ser petista também. E que mal há se ela for petista, pepista, pedetista, tucana, emedebista? Aparentemente, nenhum. Porém, não é o que pensam muitos desses homens, que justificadamente seguem a liderança do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro.

Em entrevista publicada no UOL, concedida a uma emissora de rádio, o ex-presidente Jair Bolsonaro não perdeu tempo e disse que já começou a conversar com os senadores da CCJ para vetar a indicação da advogada. “É hora de darmos um chega pra lá. Não queremos esse tipo de gente dentro do STM”.

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A que tipo de gente será que ele se referia? A políticos inelegíveis por oito anos? A militares investigados e que respondem a inquéritos, aos que atentaram contra o estado democrático de direito? Aos que chamavam seus superiores de “melancias”, verdes por fora, vermelhos por dentro? Faziam tráfico de joias?

Ou será que ele se referia a “essa” mulher? Sim, porque na opinião de Bolsonaro (e justiça seja feita, Lula também muitas vezes escorrega nesse tema) as mulheres sempre são “essazinhas”, feias demais para serem estupradas e com uma série infinita de problemas, a começar pela burrice. Repórteres, ele já chamou de quadrúpedes ou simplesmente mandou calar a boca.

Sei não, mas se eu estivesse na situação de Bolsonaro passaria dia e noite com advogados tentando encontrar uma saída para as denúncias contra mim. Deixaria de lado atos públicos, como os de domingo na praia de Copacabana, que contou com a presença de 18,3 mil pessoas, segundo a USP. Já a PM do governador Claudio Castro – que esteve no palanque com Bolsonaro – informou que seriam 400 mil.

Se eu estivesse na situação de Bolsonaro, teria pesadelos com a cadeia da qual, ao que parece e segundo dizem civis e militares, ele não vai escapar. Nunca promoveria atos com o mote “pela anistia”. Primeiro, porque o Brasil já teve uma anistia e vimos no que deu. Segundo, porque ele e seus amigos do peito cometeram crimes que não podem ser anistiados, sob pena de que voltem a suceder, caso ninguém seja punido.

O grande problema para Bolsonaro talvez aconteça à noite. Lembram que o ex-presidente Michel Temer dizia ver fantasmas no Palácio da Alvorada? Nos quartéis em condições de receber militares no topo da carreira, parece que há outro inconveniente pelos que trabalham, ali. Tão logo se apagam as luzes, aparecem assombrações. Quem viu diz que são melancias gigantes tentando apanhar os detentos. É um pavor.

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PS: a atual presidente do STM é mineira e casada com um general da reserva.

Opinião por Monica Gugliano

É repórter de Política do Estadão. Escreve às terças-feiras

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