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Labirintos da Política

Opinião | Com Damares presidindo a Comissão de Direitos Humanos do Senado, não faltarão fortes emoções

Pastora é conhecida pela veemência com que briga pelas suas ideias conservadoras e a pauta de costumes

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Foto do author Monica  Gugliano

A senadora Damares Alves (Republicanos-DF) ainda é muito vaga ao falar de seus projetos para a Comissão de Direitos Humanos do Senado, cuja presidência ela deve assumir nesta terça-feira, 4. Mas de uma coisa os eleitores, os colegas senadores e o próprio governo podem ter certeza: não vão faltar notícias nem polêmicas no colegiado. A pastora é conhecida pela veemência com que briga pelas suas ideias conservadoras e a pauta de costumes. E não lhe faltarão apoiadores. Damares, “bolsonarista raiz”, defenderá as posições que tornou conhecidas no ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos. A senadora é anti-aborto (incluindo os casos aprovados por lei), defende a tramitação do projeto do Estatuto do Nascituro – que atribui personalidade jurídica ao feto, reforçando a criminalização do aborto – e a Escola sem Partido, feroz crítica do educador e filósofo Paulo Freire, entre outras ideias.

“Ainda preciso ser efetivada na Comissão, a indicação é uma honra”, afirmou ao Estadão, acrescentando que vai priorizar a pauta da proteção dos direitos humanos das crianças e dos idosos, especialmente contra a violência. “Sou atualmente presidente da Frente Parlamentar do Idoso e essa vai ser uma atuação importante minha aqui no Parlamento. A proteção da mulher, dos povos tradicionais. Os direitos das pessoas com deficiência, que têm sido tão atacados ultimamente. Vamos tratar direitos humanos de maneira universal. Todas os projetos que tratarem desse tema devem ser conduzidos com prioridade. E é claro que também estarei aberta ao diálogo com todos os segmentos, mas essas devem ser as prioridades”, disse.

Damares Alves deve assumir Comissão de Direitos Humanos do Senado em acordo de líderes Foto: Dida Sampaio/Estadão

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O problema, para os que acompanharem os debates, deverão ser os pontos de vista e os assustadores relatos de Damares. Fortalecida por uma sociedade que se diz aberta, mas pesquisas e fatos mostram que é extremamente conservadora, a senadora terá na Comissão uma trincheira para, embora diga que vai tratar com todos os segmentos, brigar por sua ideologia. Às mais diferentes plateias, ela costuma rechear suas palestras com terríveis relatos de bebês estuprados ou fetos retirados da barriga das mães – quase sempre adolescentes – já completamente formados, alguns com seis, sete meses de gestação.

A nova missão da senadora se soma com a de outros líderes evangélicos que estão assumindo importantes postos no Legislativo. Além dela, que é pastora da Igreja Batista da Lagoinha, estão Sóstenes Calvalcante (PL-RJ), novo líder do partido de Jair Bolsonaro na Câmara, que é pastor da Igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo e ligado ao pastor Silas Malafaia, e Altineu Côrtes (PL-RJ), que será o primeiro vice-presidente da Câmara, e é membro da igreja evangélica Central do Avivamento, no Rio.

Mas não são apenas comissões e debates muitas vezes inócuos o principal jogo dessa composição de evangélicos, alguns deles bastante reacionários que, assim como deverá fazer Damares, focarão seus holofotes nesses palcos. O trabalho que começa agora tem alguns objetivos muito concretos: o primeiríssimo, obviamente, é inocentar Bolsonaro. Nas trilhas paralelas, porém, se aposta em um projeto de poder que passa por uma futura candidatura de Damares ao governo do Distrito Federal e, no mínimo, uma cadeira no Senado para Michele Bolsonaro.

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Será a hora de Damares retribuir a vitória eleitoral que deve à ex-primeira dama. Michele - melhor amiga da senadora - simplesmente, derrubou a candidatura de Flávia Arruda, então ministra de Estado Chefe da Secretaria de Governo da Presidência, que começou a campanha praticamente eleita, mas acabou perdendo para a pastora cuja frase de maior efeito no governo foi dizer que “meninas vestem rosa e meninos vestem azul”. Tudo isso no maior comedimento. Uma boa lição de alguém que, não parece, mas se tornou, com muita discrição, uma articuladora política de mão cheia. E, para terminar, uma pequena dica para Janja, a mulher do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que anda enrolada em várias polêmicas. Quem sabe ela não ouve alguns conselhos de sua antecessora.

Opinião por Monica Gugliano

É repórter de Política do Estadão. Escreve às terças-feiras

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