Quis o presidente Luiz Inácio Lula da Silva que sua primeira reunião ministerial neste ano coincidisse com o evento mais importante no mundo inteiro na segunda-feira, 20: a posse do presidente dos Estados Unidos, o republicano Donald Trump. Certamente não foi proposital a escolha da data. Pelo horário de Brasília, a reunião com os ministros aconteceu pela manhã. Já em Washington a diferença no fuso horário fez com que no Brasil a solenidade fosse no início da tarde.
Mas um detalhe não passou despercebido pelos que acompanham a política externa e não deixam de olhar o que se passa por aqui. O tempo de reposicionar o Brasil no mundo, definitivamente, ficou lá em 2023. Agora, os palacianos, incluindo o presidente, só têm uma palavra e uma ideia na cabeça: a reeleição de Lula ou de quem seja ungido por ele.

Sendo assim, Lula abriu a reunião passando carão nos ministros e admitindo que o governo não entregou tudo que prometeu ao povo em 2022. Orientou os ministros a não inventarem mais nada e disse que 2025 será o ano das entregas, que ninguém terá o direito de falhar e que 2026 já está aí. Basta ver, destacou o presidente, a movimentação dos adversários que, segundo Lula já estão em campanha, enquanto o governo tem que trabalhar. O presidente reclamou dos alimentos caros que passam à população a ideia de que a economia vai mal. Sobrou também para o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, por causa da crise do Pix.
Leia também
Como é evidente, não se pode ignorar os EUA, o estratégico e segundo maior parceiro comercial – somente atrás da China. Foram registradas US$ 36,9 bilhões em exportações aos Estados Unidos (10,9% de todas as vendas do Brasil para fora) e US$ 37,9 bilhões em importações (15,8% das compras), em 2023. Eles são também o segundo maior parceiro brasileiro na troca de bens e, se forem considerados o intercâmbio de serviços e investimentos, eles são o principal parceiro do País.
Lula, segundo o noticiário da reunião ministerial, fez uma rápida menção à posse de Trump e disse que torce pela gestão e espera manter uma “boa relação com o país”. Seria uma ilusão tentar manter uma razoável relação com o recém-empossado presidente dos Estados Unidos que só pelo tom beligerante de seu discurso, sem falar em outras extravagâncias como mudar o nome do Golfo do México, já inviabiliza a chamada “diplomacia presidencial”.
E esse terreno já está tomado pelo clã Bolsonaro cujo chefe, o ex-presidente Jair, há três dias derrama lágrimas porque não liberaram seu passaporte para que pudesse viajar. O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, negou taxativamente o documento. Bolsonaro está inelegível até 2030 e um dos processos pelos quais responde é o de envolvimento na tentativa de golpe do 8 de janeiro.
No fim, foi uma pena que não tenha ido por que além de poder saudar pessoalmente “seu chapa” Trump, poderia ter aprendido como é uma posse presidencial quando um partido derrotado passa o cargo ao vencedor. Talvez aí chorasse novamente, mas de vergonha por ter se recusado a passar a faixa a Luiz Inácio Lula da Silva e tentado patrocinar um golpe para permanecer no cargo.