O presidente Luiz Inácio Lula da Silva é um paciente disciplinado, que segue à risca as orientações dos médicos e que aprendeu a cuidar da saúde, evitando exageros no dia a dia. Menos de uma semana depois da cirurgia de emergência a que foi submetido no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, para drenar um hematoma de três centímetros detectado entre o cérebro e uma das membranas (meninges) que envolvem o órgão, a expectativa continua sendo de que Lula deva ter alta e volte a Brasília entre as próximas segunda e terça-feira completamente recuperado.
Um dia a mais ou a menos, considera a equipe médica, não fará diferença. O que fez diferença foi a rapidez com que ele foi levado à sala de cirurgia na noite de segunda-feira. Se os médicos não tivessem feito o diagnóstico e decidido operá-lo naquele mesmo instante, já madrugada de terça-feira, seu médico pessoal e chefe da equipe que o atende, Roberto Kalil Filho, têm dito que seria uma tragédia. O sangramento vai comprimindo o cérebro e isso faz com que o paciente entre em coma ou morra em pouquíssimo tempo.
Após passar pelo procedimento, a recuperação de Lula foi além do esperado. Ainda assim, eles preferiram submeter o paciente ao que os médicos chamam de “procedimento endovascular de embolização de artéria meníngea média” que bloqueou o fluxo de sangue em um vaso da região onde estava o hematoma. A intervenção foi feita na manhã desta quinta-feira.
O Estadão pediu para entrevistar Kalil. Mas desde esta sexta-feira, a assessoria do médico informava que ele decidiu parar com as entrevistas e determinou que toda a equipe envolvida nos cuidados a Lula fizesse o mesmo. Ao comunicar a decisão aos colegas que chefia, justificou dizendo que as conversas com jornalistas estavam criando muita especulação. A ideia, então, é manter apenas os boletins médicos. Se houver algo novo, eles pretendem falar. Caso contrário, eles consideram que não há o que dizer.
Kalil é um dos profissionais mais conhecidos no país. Entre seus pacientes sempre estiveram políticos famosos, presidenciáveis e presidentes como Lula, a ex-presidente Dilma Rousseff e os ex-presidentes Michel Temer e José Sarney. Lula é seu paciente há mais de duas décadas. O cardiologista tem um programa semanal de entrevistas no canal de notícias CNN Brasil, “Sinais Vitais”, em que conversa com colegas sobre temas diversos na área de saúde.
Mas até ele, acostumado ao público e que no governo Dilma era chamado de “ministrinho” - diziam que era uma das pessoas que a presidente mais ouvia - desta vez, pareceu abismado com o volume de informações que circularam sobre seu paciente presidente da República.
Com o ministro chefe da Secretaria de Comunicação, Paulo Pimenta, em vias de deixar o cargo, a desinformação e as intrigas de todo tipo – especialidade de Brasília – correram no ritmo instantâneo das redes sociais. O debate pairou em torno de supostas sequelas e da influência que a cirurgia teria numa possível re-candidatura de Lula em 2026. A perspectiva de sua melhora ou piora interferiram no mercado financeiro, já nesta semana instável com o Copom, que manteve a trajetória de alta dos juros, agora, em 12,25% ao ano.
No meio da semana, o presidente começou a “despachar” desde a UTI. Documentos foram assinados por ele no sistema eletrônico e, em seguida, vieram os telefonemas disparados para o vice-presidente, Geraldo Alckmin, e para o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa.
Mas só nesta sexta, 13, dia que os supersticiosos acreditam que não traz boa sorte, Kalil se sentiu aliviado. Primeiro, Lula passou para um regime de semi-UTI. Logo depois, quando a página pessoal do presidente publicou um vídeo em que ele aparece, vestindo camiseta, calça de moletom e tênis, caminhando no corredor do hospital – praticamente saltitante – ao lado do neurocirurgião que o operou, Marcos Stavale. Com um curativo na cabeça, Lula diz que está “firme e forte”.
E Kalil, com tantas boas notícias, não resistiu e acabou por responder ao telefonema do Estadão: “Foi uma semana que começou muito, muito difícil. Mas o término está sendo muito gratificante”.