Desbancado agora por Elon Musk no governo de Donald Trump, mas ainda assim um dos mais reconhecidos ideólogos da direita, Steve Bannon costumava dizer que o partido de oposição a um governo é a mídia. “E mídia, porque é burra e preguiçosa, só pode focar em uma coisa por vez. Tudo que precisamos fazer é inundar o terreno. Todo dia nós jogamos três coisas. Eles vão morder uma, e conseguiremos fazer as nossas coisas. Bang, bang, bang. Esses caras nunca, nunca conseguirão se recuperar. Mas precisamos começar com velocidade de saída.”
A fala foi lembrada neste domingo, 9, pela ombusdman da Folha de S.Paulo, Alexandra Moraes. Treinado por Bannon, Olavo de Carvalho (1947-2022), o ex-presidente Jair Bolsonaro e sua turma rapidamente aprenderam. Assim como tem feito Trump que todos os dias assina decretos e mais decretos, desmancha entidades, anuncia tarifas contra amigos e inimigos e tenta promover o desmanche da mais sólida democracia do mundo, Bolsonaro fez o mesmo em seu governo.

Para tornar a ação mais eficiente, montou uma espécie de “chiqueirinho” na entrada do Palácio do Alvorada. Ali, diariamente se amontoavam os jornalistas e seus seguidores. Durante um tempo ambos os grupos tiveram uma convivência mais ou menos pacífica. Mas os meses mostraram que era impraticável reuni-los. Começaram os xingamentos e até riscos de agressões físicas. A segurança do Planalto, então, montou um cercado de separação e, desde esse momento, Bolsonaro evitava a imprensa e se jogava nos braços dos admiradores.
As poucas perguntas que os jornalistas conseguiam fazer chegar até ele eram respondidas com baixarias de fazer corar o “laranja” Trump. Outra novidade criada por Bolsonaro eram as tais das “lives”, onde anunciava sua agenda, dava recados e, portanto, fornecia mais matéria-prima para os jornalistas. Uma das que ficou mais famosa foi feita durante uma viagem a Tóquio. Prejudicado pelas 12 horas do fuso horário, ele, ao lado do ministro chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno – que não conseguia manter os olhos abertos – sentado à uma mesa resolveu anunciar que o Brasil passaria a explorar “riquíssimas” reservas de nióbio.
Segundo pesquisas, cerca de 90% das reservas do metal - empregado em condutores automóveis; turbinas de avião; gasodutos; tomógrafos de ressonância magnética; nas indústrias aeroespacial, bélica e nuclear – estão no Brasil. Pois eis que o presidente começou a tirar dos bolsos correntinhas, pulseirinhas e todo tipo de bijouterias, anunciado que o metal tinha milhões de utilidades. Não é preciso dizer que o nióbio ocupou páginas de jornal, sites, blogs etc.
O colunista do Estadão Oliver Stuenkel, analista político e Professor de Relações Internacionais da FGV-SP, reforça o raciocínio de Bannon, lembrado por Moraes. De certa maneira, e em proporções infinitamente menores porque os Estados Unidos são o país mais importante do mundo e Trump o homem com mais poder no planeta, nós os brasileiros – principalmente os jornalistas – já sabemos como funciona essa estratégia. Terão trabalho redobrado as nossas autoridades, a diplomacia brasileira, em separar o que, de tudo que Trump fala, é real.