BRASÍLIA – O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, disse que a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e diversos militares, por tentativa de golpe de Estado, provocou “indignação”, mas também “constrangimento” nas Forças Armadas. Foi Múcio quem avisou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nesta terça-feira, 18, que a PGR havia enviado a denúncia para o Supremo Tribunal Federal (STF) com 34 nomes.
Lula estava em um jantar, no Palácio Itamaraty, em homenagem ao presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa. Saboreava uma posta de peixe assado envolto em folha de mostarda ao lado da primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja.
Decorada com várias obras de arte, a Sala Brasília do Itamaraty tinha representantes dos Três Poderes espalhados em várias mesas com nomes de escritores. Além de ministros, os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB); do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-Amapá), e do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, também compareceram ao jantar.

Ao ser informado sobre a peça apresentada pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, o presidente pediu a Múcio a lista dos denunciados, que também inclui nomes de generais, como os ex-ministros Braga Netto e Augusto Heleno. Nas rodas de conversa, o assunto era só esse depois das 20h40.
“Estávamos todos esperando, mas o bom é que isso acabe logo. Ninguém aguenta mais. Precisamos virar essa página”, afirmou o ministro da Defesa. “Claro que o que foi feito (tentativa de golpe para impedir a posse de Lula ) causa indignação, mas também constrangimento.”

No último dia 10, ao participar do programa Roda Viva, da TV Cultura, Múcio disse que poderia haver uma discussão sobre anistia a quem “não teve envolvimento muito grande” nos ataques de 8 de janeiro de 2023, para soltar “inocentes” e pacificar o País. Na ocasião, embora tenha usado a palavra “golpe”, o ministro ressalvou que precisaria aguardar as denúncias sobre o caso para cravar que houve uma tentativa de ruptura institucional.
Coordenador do Prerrogativas abraça Múcio após críticas
O advogado Marco Aurélio de Carvalho, coordenador do grupo Prerrogativas, chegou a classificar as declarações de Múcio como “estarrecedoras”. Na noite desta terça-feira, porém, ao encontrar o ministro no Itamaraty, Carvalho conversou com ele.
“A minha preocupação é com a tentativa de naturalizar o movimento de anistia. Aliás, pedir anistia sem julgamento e sem condenação é confissão de culpa, como disse o presidente Lula”, argumentou o advogado no tête-à-tête com Múcio.
Embora a Primeira Turma do STF, conhecida como “câmara de gás”, ainda vá analisar a denúncia apresentada por Gonet, já se sabe que a acusação será aceita. O relator da investigação é o ministro Alexandre de Moraes. Bem detalhada, a peça diz que Bolsonaro liderou uma organização criminosa armada, com o objetivo de dar um golpe para impedir a posse de Lula, em 2023. De acordo com a denúncia, o ex-presidente também praticou os crimes de tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito, dano qualificado pela violência, grave ameaça contra patrimônio da União e deterioração de patrimônio tombado.
Múcio observou ao coordenador do Prerrogativas que defendia apenas a diferenciação das penas para quem quebrou uma cadeira no 8 de janeiro e quem armou a trama golpista, por exemplo. “Compreendo a necessidade de individualização da conduta para efeito de dosimetria da pena. Com isso, temos convergências”, afirmou Carvalho. Os dois terminaram a conversa com um abraço.
Lula saiu do Itamaraty sem falar sobre a acusação contra Bolsonaro, seguindo conselho do ministro da Secretaria de Comunicação Social, Sidônio Palmeira. “Isso não é assunto de governo. É com a Justiça”, avaliou Sidônio.