Fustigado por uma sentença da 8ª Vara Criminal Federal, que em fevereiro o condenou a 4 anos e 4 meses de prisão, da qual recorre em liberdade, e por uma cobrança de R$ 1,29 bilhão de gastos indevidos na área da saúde municipal, o ex-prefeito de São Paulo Celso Roberto Pitta do Nascimento, 62 anos, pai de dois filhos, volta aos holofotes pelas mesmas suspeitas de outros tempos - evasão de divisas, lavagem de dinheiro e contas irregulares no exterior. Seu nome foi incluído na Operação Satiagraha por causa de um depoimento feito em 2001 por sua ex-mulher, Nicéa Teixeira de Camargo, que dele está separado desde 1999. Convocada pelo promotor Silvio Antonio Marques, do Ministério Público em São Paulo, Nicéa fez afirmações comprometedoras sobre o ex-marido. Deu detalhes, por exemplo, sobre reuniões entre ele, o ex-prefeito Paulo Maluf e secretários municipais, que teriam organizado esquemas de superfaturamento para várias obras - as mais vistosas, financeiramente, eram o túnel Ayrton Senna e a Avenida Águas Espraiadas. Mas o ponto que interessou à Polícia Federal, para a presente operação, foram suas contas no exterior. "No esquema de transferência internacional de valores, é do conhecimento da declarante que seu ex-marido movimentava a conta através do sr. Naji Nahas no Banco Audi de Nova York", relatou o promotor Silvio Marques. Nicéa informou-o de que, em Nova York, assinou as fichas de uma conta conjunta com o então marido, no Commercial Bank. Em São Paulo, o contato de Pitta com esses canais seria o Banco Cidade, de Edmond Safide. ?CRESCIMENTO PESSOAL? Informada, ontem cedo, da prisão do ex-marido, Nicéa limitou-se a dizer que o episódio "deve servir-lhe de lição, para o seu crescimento pessoal, que vem com o sofrimento". E lembrou que, em seu prédio, todos se lembram ainda de suas pressões e tentativas de invasão e ameaças a funcionários, há cerca de dois anos, quando pretendia rever os filhos Roberta e Victor. Iniciado na política pelo padrinho Paulo Maluf, do qual foi secretário das Finanças, Pitta chegou à prefeitura em 1996 graças ao prestígio eleitoral de seu protetor. "Se ele não for um bom prefeito, nunca mais votem em mim", bradou Maluf durante a campanha, em 1995. Sua gestão, até 2000, foi um desfile de denúncias, processos, sentenças e recursos. No escândalo dos precatórios, foi acusado de emitir títulos municipais muito além do permitido e de ter usado o dinheiro para outros fins que não os precatórios.Depois, seu projeto de fura-fila começou com custo de R$ 149 milhões, passou dos R$ 800 milhões e talvez seja concluído no ano que vem. No total, sua participação em pendências com a lei, até setembro passado, chegava a 25 processos cujos valores chegavam a R$ 132 milhões Fora da prefeitura, ele amargou duas derrotas como candidato a deputado federal e, em 2004, chegou a ser preso na Câmara dos Deputados, por desacato, quando depunha na CPI do Banestado.