RIO - O novo superintendente da Polícia Federal no Rio, cujo nome não estava na lista de indicados pelo presidente Jair Bolsonaro, é figura conhecida nas operações de combate à corrupção no Rio. Especialista em crimes financeiros, Tácio Muzzi já chefiou a Delegacia de Repressão à Corrupção e Crimes Financeiros e chegou a assumir interinamente o cargo de superintendente no ano passado, em meio a outro tumulto administrativo causado por Bolsonaro no braço da PF em seu berço político.
Hoje no cargo de delegado regional executivo, Muzzi coordenava, antes de ocupar funções no Ministério da Justiça e Segurança Pública durante o governo Michel Temer, o grupo de trabalho da Lava Jato no Rio. Teve protagonismo, por exemplo, na prisão do empresário Eike Batista, em janeiro de 2017, cujos crimes que teria praticado dialogam com a especialidade de Muzzi - tanto como delegado quanto na carreira acadêmica.
Outra operação central na carreira de Muzzi foi a Calicute, de novembro de 2016, que prendeu o ex-governador Sérgio Cabral, personagem-chave de todas as investigações da Lava Jato fluminense. Aquele momento, segundo o próprio delegado afirmou na ocasião, marcava o início da cooperação entre Rio e Curitiba, até então o epicentro da operação.
Dentro da PF, é tido como um conhecedor da estrutura do órgão, além de aberto ao diálogo. “Enquanto entidade representativa da categoria, entendemos que o Tácio é um nome sensato, de extrema confiança dentro da categoria, justamente porque conhece internamente a PF do Rio de Janeiro”, afirma o presidente do Sindicato dos Servidores do Departamento de Polícia Federal no Rio, Gladiston Alves da Silva, para quem a novela em torno das nomeações é mais danosa do que os nomes em si.
Logo após prender Eike, ainda em janeiro daquele ano, Muzzi fez as malas e partiu para Brasília, onde foi diretor-adjunto do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional do Ministério da Justiça e Segurança Pública. Sua nomeação foi publicada por um dos atuais desafetos de Bolsonaro, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, que ocupava a pasta de Justiça. A indicação foi do então diretor-geral da PF, Leandro Daiello.
Depois, o novo superintendente chegou a ocupar outro cargo de âmbito nacional antes de voltar para o Rio. Entre 2018 e 2019, foi diretor-geral do Departamento Penitenciário Nacional.
Muzzi está na Polícia Federal desde 2003. Em paralelo a isso, tocou carreira acadêmica na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), pela qual concluiu doutorado em Direito, em 2015, com a tese ‘Os fundos de pensão (de) estatais na qualidade de investidores do mercado de capitais: deveres, limites e responsabilidades’.
Então braço direito do ex-superintendente do Rio Ricardo Saadi, Muzzi assumiu provisoriamente o posto no ano passado quando os atritos entre Bolsonaro e o ex-ministro Sérgio Moro começaram a aparecer. À época, o presidente já demonstrava interesse em interferir no comando da PF em seu berço político, Estado em que seus filhos Carlos e Flávio são investigados pelo Ministério Público Estadual, sem relação direta com a PF.
Muzzi deixou a função interina depois de cinco meses, quando nomearam Carlos Henrique de Oliveira, também ele no centro da nova polêmica envolvendo a Polícia Federal e o presidente da República. Nesta semana, pouco após a saída de Moro do governo, Oliveira foi levado para Brasília por Bolsonaro e o novo diretor-geral da PF, Rolando Alexandre, que o colocaram no cargo de diretor-executivo do órgão, o segundo mais importante na hierarquia.
Foi no âmbito da nova nomeação de Oliveira que Bolsonaro voltou a atacar a imprensa, quando questionado sobre sua suposta interferência na Polícia Federal. “Cala a boca”, gritou o presidente para os repórteres, quando perguntado se havia interferido no braço fluminense do órgão.