A comissão de sindicância formada na Petrobrás para apurar porque os textos dos boletins que denunciavam problemas operacionais na plataforma P-36 não chegaram à direção da empresa concluiu que a ação dos técnicos foi correta e que não houve dolo nem omissão no caso. O grupo, formado apenas por diretores da estatal e coordenado pelo diretor de Exploração e Produção, área diretamente envolvida na questão, analisou o assunto por mais de 24 horas e ouviu todos os gerentes e supervisores responsáveis pela plataforma e pela elaboração dos boletins. "O pessoal sabe trabalhar direitinho", comentou Coutinho, na tumultuada entrevista dada na noite desta sexta-feira, na qual explicou a atuação de seus subordinados. "Demitir seria uma saída muito fácil e certamente atenderia a alguns anseios." A comissão não tinha o objetivo de analisar as causas do acidente - o que está a cargo de outra comissão, que deve concluir os trabalhos em 20 de abril - mas apenas a falha de comunicação entre a equipe técnica de Macaé e a diretoria da empresa, no Rio. "Nem o gerente da Bacia de Campos lê boletim diário de produção", informou o diretor. A comissão considerou normal que o relato dos problemas tenha ficado restrito aos coordenadores (no mar e em terra) da P-36. O diretor de Serviços da Petrobrás, Antonio Luis Menezes, classificou os boletins como "um documento de alerta" e reafirmou que o superintende da plataforma tinha completa autonomia para parar a produção, em caso de constatação de risco. "Ele é o piloto do avião", comparou, dizendo que depois de verificado o problema foi adotada, pelos próprios técnicos, uma solução provisória para manter a P-36 em funcionamento até a substituição da peça defeituosa (o abafador de chamas que estava entupido). "Na avaliação dele a plataforma não corria risco", declarou. O consultor jurídico da estatal, Fernando Viana, também integrante da comissão, acentuou que não cabe à alta direção da Petrobrás determinar o momento de parar a produção numa plataforma de petróleo. "Uma plataforma não pára de funcionar por decisão do presidente, mas do comandante da plataforma", disse Viana. "Se o problema superar a expectativa, poderá chegar até a sede, dependendo da gravidade", completou Coutinho. Nesta sexta-feira foram ouvidos pela comissão o chefe da P-36 em alto mar, Hélio Galvão de Menezes, que redigiu os relatórios, o chefe da plataforma em terra, Claromildo de Covas Santos, a quem foi relatado o problema, e o gerente geral da Unidade de Negócios da Bacia de Campos, Carlos Eduardo Bellot, que retirou da rede interna de computadores da empresa (intranet) as informações. Segundo Coutinho, não apenas os boletins, mas todo o acervo de dados referente à P-36, desde o início de sua operação, em maio do ano passado, foi colocado em um sistema à parte para, segundo afirmou, preservar as informações. A alternativa provisória adotada para o problema não foi detalhada, sob o argumento de que isto fazia parte do trabalho da outra comissão. Apenas foi dito que o tanque de drenagem de emergência foi isolado, para não receber nenhum gás, e uma nova peça foi encomendada no dia 13, data em que foi expedido o primeiro boletim. Estes detalhes, segundo Coutinho, "não tinham mesmo que chegar à direção", já que a solução a princípio atendia às necessidades da P-36 e "o dia a dia dela não mudou", como reiterou Menezes. "Infelizmente houve óbitos e perda da plataforma, mas os supervisores tinham autonomia, competência e responsabilidade sobre a P-36", disse Coutinho.