Padilha e o apelido ‘herdado’ de ACM

Aliado de Temer nunca foi condenado, mas não obteve retratação por ser chamado de ‘Quadrilha’

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Por Luiz Maklouf Carvalho
  Foto: FELIPE RAU | ESTADÃO CONTEÚDO

Entre as estocadas que lhe pespegaram o apelido de Toninho Malvadeza, o já falecido ex-governador da Bahia, ex-senador e ex-ministro Antônio Carlos Magalhães deixou uma que chateia o ex e quase futuro ministro Eliseu Padilha, influente integrante do núcleo duro do provável presidente Michel Temer. ACM, como também ficou conhecido o político baiano, foi quem chamou o gaúcho de Eliseu Quadrilha.

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A ofensa foi para o papel em entrevista do então senador do PFL ao jornal Folha de S. Paulo, publicada em 16 de fevereiro de 2001. Fazia dois dias que ACM amargara ver seu então arqui-inimigo Jader Barbalho o substituir na presidência do Senado – depois de uma briga de foice no escuro contra seu candidato, Arlindo Porto. O presidente da República era Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, de quem o peemedebista Padilha era ministro dos Transportes. Ele entrou na mira de ACM no seguinte trecho do tiroteio verbal:

“Em diálogos privados, vazados para os jornais, o sr. confidenciou que FHC se negara a entregar um ministério a Jader por considerá-lo desonesto. Verdade?

ACM – Por considerá-lo sem condições para o cargo e, inclusive, com receio de que a mídia revivesse os casos de Jader Barbalho. Isso é verdade.

Faz tempo?

Sim. Na ocasião, houve uma mudança de ministério. Sobrou para o Eliseu Padilha a pasta dos Transportes. Ou seria Eliseu quadrilha? Nunca sei direito. Acho que é quadrilha mesmo”.

Outros políticos foram atingidos na mesma entrevista – como o então assessor especial da Presidência e hoje também ministeriável de Temer, o deputado Moreira Franco, “que não poderia ir para lugar nenhum que tivesse cofre”, suposto comentário que Malvadeza atribuiu ao presidente FHC.

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Padilha foi o único dos atacados a reagir publicamente. “O senador está visivelmente perturbado com as derrotas que vem sofrendo; procura colocar no seu nível quem escolhe como desafeto ou quem não se curva à sua vontade”, declarou, em nota oficial.

Não satisfeito, o então ministro entrou com uma queixa-crime, por injúria, no Supremo Tribunal Federal. É o Inquérito 1.740, relatado pelo ministro Sepúlveda Pertence. ACM foi defendido pelo advogado Márcio Thomaz Bastos, ou GOD, já falecido, que anos depois viria a ser ministro da Justiça no governo Luiz Inácio Lula da Silva.

Painel do Senado. Quis o destino – para o bem ou para o mal – que o chamado escândalo da quebra de sigilo do painel do Senado, naquele mesmo 2001, levasse o acusado ACM a renunciar ao mandato de senador. Perdeu, portanto, o direito a foro especial.

Em 20 de junho, sem julgamento do mérito, o ministro Pertence remeteu o processo para a primeira instância – no caso a 5.ª Vara Criminal da Justiça Federal de São Paulo. Lá ganhou o número 0004659-80.2001.4.03.6181. GOD e ACM venceram: não só o mérito nunca foi julgado, como, em outubro de 2002, a Justiça declarou extinta a punibilidade do político baiano, por prescrição.

Padilha, que também foi ministro do governo Dilma Rousseff, não quis falar sobre o apelido incômodo. Argumentou, por sua assessoria, que a outra parte já morreu.

Não se furtou, entretanto, de enviar um curto comentário sobre outras acusações de corrupção a que já teve que responder, sem nunca ter sido condenado: desvio de merenda escolar, tráfico de influência, emprego de funcionário fantasma, improbidade administrativa no escândalo dos precatórios do DNER, crime contra a administração publica, todos eles relacionados em pesquisa no site do Supremo Tribunal Federal e de outros tribunais.

“Existiam inquéritos e, dada a falta de fundamentos, foram todos arquivados. Nenhum deles se converteu em processo. Tratavam-se de denúncias gratuitas com fins políticos”, disse o provável futuro ministro, em nota enviada por sua assessoria.

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Em tempo, foi ACM quem criou outro apelido cuja lembrança voltou à tona, ao chamar o então presidente da Câmara Michel Temer de “mordomo de filme de terror”.