PUBLICIDADE

Sem citar Lula, Ciro endossa posição do PDT e diz que apoio é a ‘última saída’

Quarto colocado na votação em 1.º turno, ex-ministro lamenta que eleição tenha se afunilado em duas opções ‘insatisfatórias’

Foto do author Lauriberto Pompeu
Foto do author Beatriz Bulla
Por Lauriberto Pompeu e Beatriz Bulla
Atualização:

BRASÍLIA – O PDT anunciou nesta terça-feira, 4, o apoio ao candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, no segundo turno. O ex-ministro e ex-governador Ciro Gomes (PDT), que ficou em quarto lugar na primeira votação e pautou sua campanha por fortes críticas ao petista, seguiu a decisão da legenda. Em vídeo nas redes sociais, no qual não citou o nome do ex-presidente, ele disse que “frente às circunstâncias”, a opção por Lula “é a última saída”.

PUBLICIDADE

“Eu gravo esse vídeo para dizer que acompanho a decisão do meu partido, o PDT. Frente às circunstâncias, é a última saída. Lamento que a trilha democrática tenha se afunilado a tal ponto que restem para os brasileiros duas opções, a meu ver, insatisfatórias”, afirmou.

O pedetista disse também que não pretende ocupar nenhum ministério caso o petista vença a disputa. “Não aceitarei cargo em um eventual governo, quero ser livre.” Ciro obteve quase 3,6 milhões de votos no primeiro turno, ou 3,04% do total. A votação do candidato do PDT, contudo, ficou abaixo do que indicavam as pesquisas eleitorais.

A decisão do partido foi tomada após uma reunião da Executiva Nacional, realizada de forma semipresencial. Ciro participou por videoconferência e não compareceu à sede nacional da sigla, em Brasília.

Desde 2018, Ciro tem ampliado as críticas ao PT e a Lula, de quem foi ministro da Integração Nacional. Em entrevistas e eventos, o pedetista chamava o petista de “enganador de serpentes” e disse que viu Lula “se corrompendo”.

No vídeo divulgado, ele afirmou que o risco para a democracia não está simbolizado nesta eleição, mas na falta de oportunidades para os mais pobres. “Não acredito que a democracia esteja em risco nesse embate eleitoral, mas, sim, no seu absoluto fracasso da nossa democracia em construir um ambiente de oportunidades, que enfrente a mais massiva crise social e econômica que humilha a esmagadora maioria do nosso povo.”

O ex-governador do Ceará afirmou que uma eventual vitória de Lula pode “oxigenar” a democracia, mas defende a renovação nas próximas eleições. “Espero que essa decisão ajude a oxigenar, temporariamente que seja, a nossa democracia, mas, se não houver a busca efetiva de novos ares, novos instrumentos, estaremos à mercê de um respirador de ar frágil e precário. Pelo Brasil, seguiremos sempre firmes.”

Publicidade

Ciro Gomes e Carlos Lupi, candidato e presidente do PDT, respectivamente, patrocinaram no primeiro turno campanha que atacou o petista Lula Foto: André Dusek|Estadão

O presidente do PDT, Carlos Lupi, minimizou as críticas de Ciro ao PT. “O processo político às vezes se acirra de uma maneira, eu vivi isso com (Leonel) Brizola e Lula lá em 1989. Um teria que engolir o sapo barbudo, o outro fugiu com a saia da mãe. Uma coisa muito forte. Isso não impediu Brizola de estar com Lula na campanha”, destacou Lupi.

De acordo com o dirigente, quem for convidado pelo PT para subir no palanque de Lula deverá ir. Lupi evitou dizer como Ciro vai contribuir com a campanha petista, mas afirmou que o ex-ministro não irá para a Europa, como fez em 2018. “Não viajará, ficará aqui e já declarou esse apoio”.

Ciro também concorreu à Presidência em 1998, 2002 e 2018. Na campanha deste ano, ele teve seu pior desempenho e perdeu até no Ceará, sua base eleitoral e onde sempre liderava os votos nas eleições presidenciais anteriores.

A derrota encerrou a hegemonia do grupo de Ciro no governo cearense em 16 anos. O candidato apoiado por ele, Roberto Cláudio (PDT), ficou em terceiro lugar para governador, atrás de Capitão Wagner (União Brasil) e de Elmano de Freitas (PT), que comandará o Estado a partir de 2023.

MDB

Após o anúncio do PDT e a adesão reticente de Ciro, o PT espera receber hoje o apoio público da senadora Simone Tebet (MDB). Lula falou com ela ao telefone (mais informações na página ao lado). Questionado sobre o assunto, o ex-presidente disse que respeita a construção entre as direções partidárias.

A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, afirmou que conversou com o presidente do MDB, Baleia Rossi, e que o partido se reuniria para tratar do assunto. “Temos de ter paciência”, disse Gleisi.

A campanha de Lula também dialoga com quadros do PSDB e do PSD. Segundo Lula, o PSD nacional irá apoiá-lo amanhã, a despeito do apoio do presidente da sigla, Gilberto Kassab, a Tarcísio de Freitas (Republicanos), candidato de Bolsonaro ao governo de São Paulo que vai disputar o segundo turno contra Fernando Haddad (PT).

Publicidade

O PT também trabalha para que mais tucanos endossem a candidatura de Lula. Se esforçam, por exemplo, por um apoio explícito do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. No primeiro turno, o tucano divulgou uma nota com pedido aos eleitores por um voto pró-democracia, sem mencionar nomes.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.