Por que Bolsonaro não quer Marcos Pontes como presidente do Senado? Entenda

Ex-presidente e senador astronauta trocaram farpas sobre a candidatura de Pontes; PL apoia Davi Alcolumbre para a presidência da Casa

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Foto do author Guilherme Caetano

SÃO PAULO E BRASÍLIA – A pouco mais de uma semana para a eleição do novo presidente do Senado e dos demais integrantes da Mesa da Casa, a sucessão de Rodrigo Pacheco (PSD) tem causado atritos no PL de Jair Bolsonaro. Em uma troca de farpas pública, o ex-presidente deu uma “bronca” em seu ex-ministro da Ciência e Tecnologia, hoje senador Astronauta Marcos Pontes (PL-SP), que se lançou como candidato para disputar o cargo sem o aval do partido.

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Chamando a postura do correligionário de “lamentável”, Bolsonaro disse que se o partido “embarcar na candidatura” do senador, acabará ficando sem comissões.

“Hoje em dia, Marcos Pontes, convoque um ministro para falar sobre qualquer assunto via Senado. Você não vai conseguir. Você não tem nenhuma comissão contigo. Participe da confecção de pautas com a Mesa do Senado, Marcos Pontes. Não temos ninguém lá. E nós estamos dando um passo agora ao apoiar quem já vai ganhar uma vaga na Mesa e pelo menos uma comissão”, disse o ex-chefe do Executivo em entrevista ao canal AuriVerde Brasil no YouTube, nesta segunda-feira, 20.

Senador Marcos Pontes (PL-SP) e o então presidente Jair Bolsonaro (PL), em convenção do Republicanos, em 2022.  Foto: Reprodução/Republicanos

Na mesma entrevista, o ex-presidente foi enfático ao dizer que Marcos Pontes não tem chances de ser eleito presidente da Casa. “Se não conseguimos ganhar com o Rogério Marinho, que é um baita do articulador, não vai ser com você agora.”

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Um senador do PL relatou ao Estadão que a candidatura de Pontes causa “desconforto” na bancada, uma vez que o projeto foi decidido sem alinhamento com o restante dos colegas. Há também uma avaliação de que Bolsonaro não deveria ter “dado palco” à empreitada de Pontes.

A irritação de Bolsonaro tem como pano de fundo a experiência vivida pelo PL em 2023, quando o senador Rogério Marinho (RN) se lançou candidato contra Pacheco. O mineiro venceu a disputa e, como o PL não integrava a coalizão vitoriosa, acabou privado dos principais espaços de tomada de decisão da Casa.

Na ocasião, Pacheco foi reeleito com 49 votos, ante 32 do candidato de Bolsonaro. O atual presidente do Senado também ficou com todos os cargos de direção da Casa. Comparado à eleição anterior, em que o PL apoiou Pacheco e ficou com um cargo na Mesa do Senado, a escolha em lançar candidatura própria em 2023 deixou o partido isolado. Ou, com as palavras de Bolsonaro, como “um zumbi”.

Desta vez, o PL se antecipou e confirmou apoio tanto ao deputado Hugo Motta (Republicanos-PB) para a presidência da Câmara quanto ao senador Davi Alcolumbre (União-AP) no Senado. Seguindo o critério de proporcionalidade do tamanho das bancadas, o PL (segundo maior partido da Casa, com 14 senadores; PSD tem 15) se encaminha para ter a primeira-vice-presidência, com o senador Eduardo Gomes (TO) cotado para a vaga.

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Na ausência do presidente do Senado, o primeiro vice é quem assume seu posto e pauta os projetos na Casa – cenário que tem sido especulado por bolsonaristas como uma oportunidade para colocar em votação proposições ou de seu interesse ou que possam confrontar o governo Lula.

O Senado é estratégico para o bolsonarismo, já que a Casa pode pautar impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Alexandre de Moraes, responsável pelas principais investigações contra o grupo de Bolsonaro na Corte, é tido como o principal alvo desse projeto.

Valdemar Costa Neto, presidente do partido, no entanto, diz acreditar que a anistia via Congresso é a única solução para Bolsonaro concorrer de novo à Presidência em 2026 – e isso passa por estar bem posicionado no Senado.

O dirigente partidário relata ter ouvido de um parlamentar da ala bolsonarista que a sigla deveria lançar candidatura ao Senado mesmo que fosse para perder, “para marcar posição”. Diante da insistência, diz ter respondido ao correligionário: “E daí você quer colocar quem na CCJ, na Comissão de Educação? Você não vai ter nada”.

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Enquanto isso, Pontes afirma ter dito a Alcolumbre que sua candidatura é independente de sua legenda e “não atrapalha de forma nenhuma qualquer acordo do PL com ele”.

“Nós temos pautas extremamente importantes aguardando há muito tempo. Em primeiro lugar, tirar da gaveta aquele pedido de impeachment, assinado por mais de 150 deputados, mais de 1,5 milhão de pessoas aguardando. Precisa colocar isso aí para apreciação do plenário, assim como a questão da anistia”, disse o senador em entrevista ao canal O Antagonista no YouTube, nesta terça-feira, 21.

O principal projeto mirado por Bolsonaro é o que concede anistia aos envolvidos nos ataques golpistas de 8 de Janeirodo qual o próprio ex-presidente, indiciado pela Polícia Federal por tentativa de golpe de Estado, pode se beneficiar.

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