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PSB confirma Alckmin como vice de Lula e tenta resolver impasse com o PT no RJ e RS

Ex-tucano e adversário histórico do petista será companheiro de chapa de Lula

Foto do author Lauriberto Pompeu
Foto do author Iander Porcella
Por Lauriberto Pompeu e Iander Porcella (Broadcast)
Atualização:

BRASÍLIA – O ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSB) foi oficializado nesta sexta-feira, 29, como candidato a vice-presidente na chapa encabeçada por Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em convenção nacional realizada em Brasília, o PSB aprovou por unanimidade a aliança com o PT.

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O evento contou com a participação de Lula. A campanha do petista preferiu dar prioridade para o evento do PSB. O ex-presidente nem sequer participou da convenção do PT, realizada na semana passada em São Paulo de forma protocolar e que confirmou a candidatura presidencial petista. As cúpulas dos dois partidos ainda precisam resolver impasses nos palanques do Rio e do Rio Grande do Sul. A expectativa é que hajam acordos na próxima semana.

Lula discursou no evento e fez um aceno aos militares. O petista afirmou que sempre teve boa relação com eles quando era presidente. “Nunca tive nenhum problema com as Forças Armadas porque as Forças Armadas têm suas funções estabelecidas na Constituição. As Forças Armadas nunca perguntam para que e nem o porquê da decisão de um presidente. Eles cumprem”.

O ex-presidente Lula durante convenção que selou a chapa entre o petista e o ex-governador Geraldo Alckmin  Foto: Wilton Junior/Estadão

O candidato também criticou o presidente Jair Bolsonaro (PL) e disse que ele trata as Forças Armadas como objeto. “O que nós precisamos é estabelecer uma relação de respeito. É uma relação em que cada um cumpra com a sua função e não ter um presidente que trata as Forças Armadas como se fossem um objeto na mão dele”.

Alckmin discursou antes de Lula e pregou o voto útil no petista. “Quero falar com os brasileiros que ainda relutam a admitir que Lula pode ser e com a força de todos nós certamente será a alternativa mais viável para fazer o Brasil um país melhor, o país que queremos, o país que merecemos. Eu quero dizer a esses brasileiros: Bolsonaro falhou com vocês, mas nós estamos do seu lado”, disse o ex-tucano.

Nesta semana, os deputados e presidenciáveis André Janones (Avante-MG) e Luciano Bivar, presidente do União Brasil, sinalizaram abrir mão de suas candidaturas para apoiar Lula.

Em sua fala, o petista também elogiou a iniciativa da faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP) de reunir assinaturas para uma carta a favor da democracia. A elaboração do documento acontece em meio a reiterados ataques de Bolsonaro às urnas eletrônicas. Em mais de uma ocasião, o atual presidente já disse que não reconheceria o resultado da eleição caso perca.

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“Eu acho que nós deveríamos começar aqui, parabenizando os empresários, os intelectuais, os professores da USP e de tantas outras universidades que resolveram fazer um manifesto em defesa da democracia, que, em apenas três dias, juntou mais de 400 mil assinaturas, numa demonstração de que ninguém acredita mais nos rompantes do presidente que governa esse país”, afirmou Lula.

O candidato do PT também lembrou a reunião que Bolsonaro convocou com embaixadores para apresentar, sem provas, suspeitas de que as urnas não são confiáveis. “Eu nunca imaginei que nós iríamos ver um presidente cometer a idiotice de chamar os embaixadores de quase 70 países para fazer o pior papel que um presidente da República pode fazer, que é mentir para os embaixadores e vender uma ideia falsa de que no Brasil a democracia corre risco por causa das urnas eletrônicas”.

Lula falou que vai, junto com Alckmin, fazer uma “revolução pacífica” e estimulou campanhas nas ruas. “Vamos fazer uma campanha sem ódio, nós não precisamos aceitar nenhuma provocação. Ninguém tem que brigar com ninguém na rua. Ninguém tem que brigar com ninguém em restaurante. Vamos ganhar tendo coragem. Tem gente que acha que não devo fazer comício, que deva fazer em local fechado. Daqui para frente é tudo em lugar aberto”, anunciou.

O colega de chapa de Lula também criticou Bolsonaro e cobrou punição dos ataques feitos às urnas. “Quem alega fraude tem de provar e quem não prova tem de ser punido pela farsa de acusar. Não vamos cair no jogo da mentira, não vamos nos render às manhas de um presidente que não quer voltar para casa”, criticou. “É hora de Bolsonaro ir embora por todo mal que causou ao país, é hora de ir embora e, com ele, as ameaças, a bagunça e a incompetência”, completou o ex-tucano.

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Além do PSB, o Solidariedade, PSOL, Rede, PV e PCdoB também farão parte da coligação presidencial petista. Mesmo com uma aliança nacional fechada entre os petistas e os socialistas, as duas legendas ainda precisam resolver divergências em dois Estados considerados chave.

Rio de Janeiro

No Rio, os petistas pressionam pela retirada da candidatura ao Senado do deputado Alessandro Molon (PSB) e querem que o presidente da Assembleia Legislativa, André Ceciliano (PT), seja o único candidato a senador na chapa de Marcelo Freixo (PSB), que é candidato a governador. Um setor do PT do Rio inclusive tem ameaçado trabalhar para retirar o apoio a Freixo e apoiar o candidato do PDT a governador, Rodrigo Neves, caso Molon seja candidato. Ao chegar na convenção, Freixo evitou comentar o impasse e disse apenas: “Sou candidato a governador” como forma de se desvincular do atrito pela eleição ao Senado. Integrantes da cúpula do PSB avaliam que um acordo deve se arrastar até perto do limite para o registro das convenções, dia 5 de agosto, próxima sexta-feira.

Rio Grande do Sul

Já no Rio Grande do Sul o problema é em relação ao cargo de governador. O ex-deputado federal Beto Albuquerque (PSB) havia lançado uma pré-candidatura ao governo gaúcho, mas a direção nacional do PSB pressiona para um acordo com o PT, que lançou o deputado estadual Edegar Pretto como candidato a governador. Socialistas consideram resolvido o atrito e preveem um anúncio de desistência de Albuquerque na próxima segunda-feira, 1º. Mesmo que não seja candidato, Albuquerque já avisou que não irá apoiar o PT no Estado. O gaúcho é próximo de Ciro Gomes, presidenciável do PDT. Na quarta-feira, 27, Albuquerque republicou uma mensagem que criticava o PT do Ceará e falava sobre a aliança dos socialistas com o PDT no Estado.

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Por outro lado, PSB e PT conseguiram acordos em São Paulo, onde Márcio França (PSB) desistiu de concorrer a governador para apoiar Fernando Haddad (PT) e no Espírito Santo, onde o PT retirou a candidatura do senador petista Fabiano Contarato ao governo para apoiar a reeleição de Renato Casagrande (PSB).

O candidato a vice de Lula foi um dos fundadores do PSDB, legenda que historicamente rivalizou com o PT em todas as eleições presidenciais. O ex-presidente já disse diversas vezes que o convite para Alckmin compor chapa faz parte de uma estratégia de união das forças políticas para impedir a reeleição de Bolsonaro.

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O ex-tucano foi governador de São Paulo por 12 anos e vice-governador por seis. Ele foi o candidato do PSDB à Presidência em 2006, quando perdeu para o próprio Lula no segundo turno, e em 2018, quando ficou em quarto lugar na disputa. O candidato do PSB também já foi deputado estadual, federal, vereador e prefeito de Pindamonhangaba, sua cidade natal.

Alckmin tem o papel de vencer as resistências a Lula em setores como o sistema financeiro, militar e o agronegócio. Oficializado como vice, está prevista uma viagem dele, sem Lula, para o Mato Grosso nas próximas semanas. A ideia é conversar com empresários rurais, setor hoje dominado pelo bolsonarismo. No Estado, o deputado ruralista Neri Geller (Progressistas), filiado a um partido da base de Bolsonaro, será o candidato de Lula ao Senado. O ex-ministro e ex-governador Blairo Maggi, também do Progressistas, e o senador Carlos Fávaro (PSD-MT), são outros que ajudam no diálogo da campanha petista com o meio rural.

O PSB tem hoje quatro governadores, dois senadores e 24 deputados federais. A legenda só teve candidatura própria a presidente duas vezes. Em 2002, a sigla concorreu com Anthony Garotinho (hoje no União Brasil) e ficou em terceiro lugar. Em 2014, quando lançou Marina Silva (hoje na Rede), o partido também ficou na terceira colocação. A legenda já apoiou formalmente as candidaturas de Lula à Presidência em 1989, 1994 e 1998, e também a da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) em 2010.

A partir de 2014, quando planejava lançar o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos ao Palácio do Planalto, o PSB começou a se afastar do PT. Campos morreu em um acidente aéreo em plena campanha eleitoral e foi substituído por Marina Silva. No segundo turno da disputa daquele ano, o PSB decidiu apoiar Aécio Neves (PSDB) contra Dilma.

Em 2016, os socialistas da Câmara foram favoráveis ao impeachment da petista, mas em 2022 recuaram da posição e agora dizem ter sido um erro ter apoiado o afastamento dela. Durante o governo de Michel Temer (MDB), que assumiu o Planalto após a saída de Dilma, o PSB foi inicialmente parte da base e deu votos favoráveis à reforma trabalhista e ao teto de gastos, regras hoje criticadas pela campanha petista. Em 2017, em um processo de retorno à esquerda, o partido pressionou pela saída de deputados alinhados com Temer, como Tereza Cristina, que já foi líder do PSB na Câmara. Ex-ministra da Agricultura do presidente Jair Bolsonaro (PL), ela já passou pelo DEM e hoje está filiada ao Progressistas.

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Ex-governador de São Paulo, Alckmin integrou o PSDB por 33 anos. Após atritos internos, o agora ex-tucano deixou no ano passado o partido que ajudou a fundar. Neste ano, filiou-se ao PSB para formar a aliança com Lula.

Com 69 anos, o agora candidato a vice-presidente já governou o Estado de São Paulo em duas ocasiões, de 2001 a 2006 e, depois, de 2011 a 2018, quando deixou o cargo para concorrer à Presidência. Na disputa pelo Planalto naquele ano, Alckmin obteve 4,76% dos votos no primeiro turno, mesmo apoiado pelos partidos do Centrão - como PP, PL e Republicanos -, que hoje estão com Bolsonaro.

Alckmin iniciou a carreira política em 1973, durante a ditadura militar, como vereador em Pindamonhangaba (SP), onde nasceu. De 1977 a 1982, foi prefeito de sua cidade natal. Depois, atuou como deputado estadual e federal. Também foi vice-governador de São Paulo na gestão de Mário Covas, de 1995 a 2001, e secretário estadual de Desenvolvimento, de 2009 a 2010, no governo de José Serra.

No ato de filiação do PSB, em 23 de março deste ano, Alckmin usou a defesa da democracia para justificar a aliança com Lula. PT e PSDB polarizaram quase todas as eleições presidenciais desde a redemocratização. Os tucanos governaram o País por oito anos, de 1995 a 2002, com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, e os petistas estiveram no poder de 2003 até 2016, no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Em 2006, quando Lula conquistou a reeleição, seu adversário nas urnas foi Alckmin.

O Datafolha divulgado nesta quinta-feira, 28, mostrou Lula com 47% das intenções de voto, mesmo nível da pesquisa de junho, e Bolsonaro com 29%, uma variação de um ponto porcentual para cima, dentro da margem de erro, que é de dois pontos porcentuais. Com isso, ganhou força na campanha petista a estratégia de tentar atrair mais aliados para resolver a eleição no primeiro turno.

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