Em julho de 2013 começava a apuração da Operação Lava Jato, em Curitiba. Um inquérito sobre uma operação suspeita de lavagem de dinheiro colocou no radar uma empresa de Londrina ligada à família do deputado federal José Janene (PP-PR), morto em 2010, e o Posto da Torre, conhecido por vender, além de combustível, dólar no mercado negro.
O delegado Márcio Adriano Anselmo, que começou as apurações com a delegada Erika Mialik Marena, só percebeu estar diante de esquema complexo de corrupção no início de 2014, quando surgiu o nome “Beto” nos monitoramentos telefônicos. Era Alberto Youssef, doleiro condenado no caso Banestado. Dois anos depois - completados na quinta-feira, a apuração de ocultação de R$ 4 milhões virou o maior caso de corrupção do País, com R$ 6,2 bilhões de propinas já apurados em desvios na Petrobrás.DELAÇÕES PREMIADAS Para o delegado, as delações tiveram papel fundamental nas investigações até aqui. Ele diz, no entanto, que a colaboração não funciona sozinha. “Se você não tiver uma investigação bem feita, o colaborador não vai se ver motivado.” O delegado nega que a operação esteja sustentada apenas em delações. “A primeira fase não teve colaboração, a 23.ª (Acarajé, que teve o marqueteiro João Santana como alvo) não teve. E talvez seja uma das mais bem instruídas. São alguns pilares que sustentam a investigação: a apuração bem feita com material probatório, desde quebra de sigilo bancário, fiscal, interceptação telefônica, de e-mail, cooperação internacional e a colaboração. Não dá para falar que a Lava Jato é feita só na base da colaboração. Isso é totalmente errado.”FUTURO E PRESSÃO “Enquanto tiver equipe, enquanto tiver condições de trabalhar sem interferência, acho que esse trabalho vai continuar”, diz o delegado. Ele cita a recente troca de ministro da Justiça. “Muitas pessoas têm defendido que deveria ter alguém para controlar a polícia. Qualquer pessoa que assumir aquela cadeira deve ter em mente que isso, em um estado democrático de direito, não é mais possível. Não adianta trocar ministro. O trabalho vai continuar.” ‘VAZAMENTOS’ Sobre críticas referentes a “vazamentos seletivos” da operação, Anselmo diz que o que é chamado de “vazamento” é, na verdade”, processo que teve o sigilo levantado. “Tem situações pontuais de vazamento, principalmente em casos de colaboração, que estão sendo investigadas. Mas a maioria do que se fala ‘vazamento’ é processo que foi levantado sigilo.”CORRUPÇÃO O delegado cita um advogado que disse que não se colocava um paralelepípedo no País sem pagar para alguém. “A Lava Jato conseguiu escancarar isso de maneira indiscutível e talvez a grande lição é que é possível ter uma persecução criminal para esses crimes e que essas pessoas estão começando a responder por eles. Quem tinha a expectativa de que o crime compensa, talvez hoje repense.”INVESTIGAÇÃO ABERTA E APOIO POPULAR “Talvez exista uma relação direta (do envolvimento e apoio da população à Lava Jato) com a posição do doutor Sérgio Moro de afastar o sigilo nesses casos de corrupção para que se tenha um controle social efetivo. O que acontecia nessas investigações ficava encoberto em escaninhos do Judiciário e ninguém tinha a noção da gravidade dos fatos. Isso foi fundamental para que a população tomasse conhecimento do que estava acontecendo e de que isso não vai mais ser admitido. Acho que isso deve ser um legado da Lava Jato.”
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.