BRASÍLIA - Um relatório sigiloso da Polícia Federal (PF) mostra que os deputados federais Bosco Costa (PL-SE), Josimar Maranhãozinho (PL-MA) e Pastor Gil (PL-MA), organizavam, por meio de mensagens telefônicas, um suposto esquema de venda de emendas parlamentares. Josimar e Gil são influentes no Maranhão e integram a bancada evangélica da Câmara. Bosco Costa, por sua vez, está no quarto mandato como representante de Sergipe.

O Estadão procurou os três parlamentares na noite desta sexta, mas não obteve retorno. Ao portal g1, o deputado Pastor Gil disse que aguarda o julgamento do caso pelo Supremo Tribunal Federal (STF), e que está “confiante de que os esclarecimentos apresentados conduzirão ao reconhecimento da inocência”. Nesta semana, o relator do caso, o ministro Cristiano Zanin, liberou a denúncia contra os três parlamentares para julgamento na Primeira Turma do STF.
Os recursos investigados pela PF eram destinados à área da saúde no município de São José de Ribamar (MA), na região metropolitana da capital maranhense, São Luís. Segundo a PF, a quadrilha da qual os deputados faziam parte cobrava a devolução de um quarto (25%) dos recursos. Entre as provas coletadas pelos investigadores estão conversas onde os deputados mencionam reuniões feitas para cobrar pagamento de comissões, além da organização de agendas com autoridades do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Os nomes dos três deputados foram antecipados em outubro do ano passado pelo Estadão. Na época, foi revelado que a PF encontrou, no celular de Maranhãozinho, uma troca de mensagens com os outros dois deputados e também com o empresário Josival Cavalcanti da Silva, o Pacovan, sobre a negociação de emendas para o município.
Na Câmara desde 2019, Josimar é aliado do presidente nacional do partido, Valdemar Costa Neto. Ele integra o PL desde 2003 e é o principal nome da sigla no Estado. A influência dele é tamanha que, em dezembro do ano passado, Valdemar decidiu contrariar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e manteve o parlamentar no comando do diretório estadual maranhense.
“Não há possibilidade de o partido sair do comando do grupo do deputado Josimar Maranhãozinho. Avisei para o Bolsonaro que viria para o Maranhão e essa história está liquidada. O PL vai marchar unido, como sempre ele marchou e sob o comando do Josimar. O Bolsonaro vai compreender isso, eu já mandei o recado para ele”, afirmou Valdemar.
Antes de entrar na Câmara, Josimar foi prefeito de Maranhãozinho, um pequeno município de 13,7 mil habitantes entre os anos de 2005 e 2012. Entre 2015 e 2019, ele foi deputado estadual. A mulher dele, Detinha (PL-MA), também é deputada federal.

Além da denúncia da PGR contra Josimar e os outros deputados do PL, Bolsonaro pediu a cabeça do parlamentar após ele acertar uma união da sigla com o PT e o PSB para a candidatura do deputado federal Duarte Júnior (PSB-MA) à prefeitura de São Luís. Bolsonaro ordenou que a legenda não deveria se coligar com a esquerda, mas foi ignorado pelo diretório do Maranhão.
Assim como Josimar, Pastor Gil também está na Câmara desde 2019. Liderança evangélica no Estado, ele foi por duas décadas pastor da igreja Assembleia de Deus.
Ele chegou a ser o número dois na administração da entidade evangélica no Estado. Para poder participar das eleições de 2018, onde foi eleito com 47.758 votos pelo PMN, ele precisou passar por uma votação interna do Conselho Político da igreja. No ano em que tomou posse na Câmara, ele se filiou ao PL e se aproximou de Maranhãozinho.

Nas redes sociais, Pastor Gil aparece ao lado de Jair Bolsonaro e do líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, Silas Malafaia, um dos aliados mais próximos do ex-presidente.
Bosco Costa, por sua vez, é o parlamentar com maior experiência na Câmara entre eles, ocupando o quarto mandato no momento. Antes, ele esteve na Casa entre 2003 e 2007, entre 2011 e 2015 e entre 2019 e 2023. Ele também foi deputado estadual em Sergipe entre 1995 e 2003 e prefeito do município de Moita Bonita (SE) entre 1989 e 1992.

A trajetória política dele começou na cidade em que foi prefeito. Em 1984, Costa foi secretário de Serviços Urbanos e, em 1993, quando deixou o comando do município, chefiou a Secretaria-Geral de Governo do sucessor.
A investigação que levou à denúncia dos três é um desdobramento de uma operação iniciada no Maranhão em dezembro de 2020. Durante o inquérito, a Polícia Federal obteve imagens de Josimar Maranhãozinho manuseando uma abundância de dinheiro que, segundo a corporação, teria sido obtido com o desvio de emendas.
Nesta quarta-feira, 5, Zanin pediu que uma denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra os três parlamentares fosse pautado na Primeira Turma da Corte. A PGR avaliou que os parlamentares pediram propina de R$ 1,66 milhão em troca de R$ 6,67 milhões destinados ao município.
“Os elementos informativos demonstram, portanto, que os denunciados formaram organização criminosa, liderada por Josimar Maranhãozinho, voltada à indevida comercialização de emendas parlamentares”, diz a denúncia.