O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - O governador Marconi Perillo (PSDB-GO) arrastou para a CPI do Cachoeira uma legião de apoiadores, boa parte funcionária do governo, que lotou a sala de depoimento e o ambiente em que foi instalado um telão. Em clima de programa de auditório, a claque aplaudia o tucano a cada lance favorável à sua versão e vaiava estridentemente os parlamentares que o criticavam, o que levou o presidente da comissão, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), a intervir pedindo silêncio.
Além de ex-cabos eleitorais com cargos comissionados no Estado, havia prefeitos, vereadores, militantes do PSDB e líderes comunitários que dão sustentação política ao governador em suas comunidades. Assistente de gabinete na Secretaria da Casa Civil, que trabalhou na campanha de Perillo, Ana Paula Souza, de 26 anos, contou que os diversos setores do governo elencaram quem poderia tirar folga nesta terça-feira, 12, para comparecer ao depoimento.
"Nós fomos liberados. Tinha uma lista lá de quem poderia faltar, a maioria comissionada. Não sei se o governador sabe disso, mas o chefe do setor sabe", relatou ela, dizendo ter viajado de Goiânia a Brasília por "gratidão" ao tucano: "Gosto muito do governador e acho que as acusações vão ser esclarecidas".
Ana Paula embarcou com mais 27 pessoas num coletivo providenciado pelo presidente da Federação Goiana das Associações dos Moradores (Fegam), Sebastião da Paz, que ocupa cargo comissionado na Secretaria de Estado de Desenvolvimento da Região Metropolitana. "Os 'amarra-cachorro', como nós, vieram no ônibus. Os superintendentes vieram de carro", explicou Ana Paula.
Ao Estado, o organizador classificou a viagem como uma iniciativa "espontânea" de "admiradores" de Perillo. Ele negou que qualquer orientação tenha partido do Palácio das Esmeraldas e assegurou que o aluguel do veículo seria rateada pelos passageiros. Questionados, no entanto, muitos não sabiam dizer o valor da "vaquinha". "Quem veio e é do governo, veio por sua conta e risco. E perderá o dia de trabalho",afirmou Paz, explicando, no seu caso, estar de férias.
Houve quem garantisse que a presença em Brasília, a duas horas de carro de Goiânia, não prejudicaria o dia de trabalho. "Na hora em que sair daqui, vou dar expediente", prometeu Divina Neves, representante de Políticas Públicas da Secretaria de Estado da Mulher e militante tucana. A oitiva de Perillo, de mais de nove horas, só terminou por volta das 19h. O tucano saiu aplaudido pela claque.
Veja abaixo as frases de destaque da sessão:
MARCONI PERILLO: "Vendi (a casa) pelo valor de mercado. Depositei o pagamento em minha conta bancária. Declarei tudo no Imposto de Renda (...). Se houvesse qualquer elemento fraudulento nesse negócio, jamais teria anunciado esse negócio. Se alguém tirou vantagem, foi sem meu conhecimento. Não tem qualquer relação comigo."
MARCONI PERILLO: "Venho a esta CPMI com a cabeça erguida e firme no propósito de apresentar a verdade dos fatos." "Desde o princípio me ofereci a comparecer nesta Comissão Parlamentar de Inquérito." "Estou sendo vítima de todos esses acontecimentos deflagrados com a Operação Monte Carlo. Informações distorcidas." "Tentam o tempo todo desconstruir o patrimônio político e eleitoral que construí durante toda uma vida pública."
MARCONI PERRILO: "Estou sendo vítima de uma grande injustiça, que se manifesta de forma velada. Não conheço algo parecido no País desde que resgatamos a democracia." "Respeito a liberdade de imprensa, sempre vou respeitar. Mas devo dizer que há muitas informações fragmentadas, alguns exageros."
MARCONI PERRILO: "(...)Nunca mantive qualquer relação de proximidade com Carlos Agusto de Almeida Ramos. "Nenhuma ligação para mim ou para o meu telefone. Nenhuma ligação dele a mim. Apenas uma minha a ele em cumprimento ao seu aniversário"
MARCONI PERILLO: "O grupo investigado não teve qualquer apoio do meu governo", afirmou o governador mencionando dados de operações policiais sobre apreensões de máquinas caça-níqueis e de combate ao jogo ilegal.
MARCONI PERILLO: "Desafio a fazerem auditoria no meu governo". Governador nega que tenha havido influência de Cachoeira na seleção de empresas ou de servidores em sua administração.
MARCONI PERILLO: "Quando a casa foi colocada à venda, em anúncio de classificados, (ex-vereador) Wladimir entrou em contato e manifestou interesse. Fez a oferta e acertamos valor de R$ 1,4 milhão. Ele deu três cheques. Os cheques foram todos compensados".
MARCONI PERILLO: "Eu nunca mantive nenhuma relação de proximidade com o senhor Carlos Cachoeira. Nunca fiz negócio com ele. Todas as nomeações no meu governo obedecem critérios técnicos"
MARCONI PERILLO: "Todas as despesas da minha eleição (...) foram realizadas dentro do que determina a lei e aprovadas pela Tribunal Eleitoral. Nunca foi feito qualquer pagamento ao jornalista Luiz Carlos Bordoni."
MARCONI PERILLO: Tenho a consciência tranquila. De boa-fé vivo, de boa-fé aqui me apresento. Desde já me coloco à disposição"
MARCONI PERILLO: "Ouvi falar de Cachoeira por volta de 1996 (quando ele havia ganho licitação para administrar loteria em Goiás). Muito depois, o vi pela primeira vez. No governo agora, o recebi uma vez, e estive com ele duas vezes em jantares"
MARCONI PERILLO: "É claro que mantive algumas relações com ele para tratar de assuntos da Casa. (...) A mim ele nunca levou nenhum pleito da Delta nem de Cachoeira"
MARCONI PERILLO: O governador Marconi Perillo diz que o ex-vereador Wladimir Garcez usou indevidamente seu nome para tratar de negociações de dívidas do governo com a Delta. "Usam tanto o meu nome nessas gravações que eu não posso ter a mínima ideia do que tenha acontecido."
CHICO ALENCAR: "Não é usual receber um cheque e não olhar quem emitiu". "Não se lembrar não é esclarecer".
PEDRO TAQUES: "Acha que é porque avisou o Lula sobre o mensalão?", pergunta Taques. "Talvez quem seja oposição a mim use essa CPI para me desgatar. Nunca imaginava que um aviso pudesse trazer tanto problema e perseguição"
FERNANDO COLLOR: "Eles tinham a capacidade de fazer o mal sob o manto de estarem fazendo a favor da sociedade (...) Policárpio agia com Cachoeira", sobre a Veja
MARCONI PERILLO: "Demóstenes gozava de muito prestígio e me ajudou muito na eleição", diz Perillo ao ser questionado por Rosinha. "Minha filha é amiga da sobrinha de Cachoeira e eu não posso fazer nada em relação a isso", diz Perillo.
VANESSA GRAZZIOTIN: "Se você não sabe se tem algum indicado por Demóstenes em seu governo, isso me permite ficar com uma interrogação sobre a vontade do senhor em limpar as suas relações com Demóstenes"
MARCONI PERILLO: "Só posso responder que a escritura foi passado ao Walter e quem me procurou foi o Wladimir. Não considero que foi por um laranja."
MARCONI PERILLO: "Nenhuma folha cai sem que seja da vontade de Deus. Eu precisava estar aqui e cuimpro o meu dever."
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