SÃO PAULO - O relator do processo contra Eduardo Cunha (PMDB-RJ) no Conselho de Ética, deputado Marcos Rogério (DEM-RO), afirmou nesta terça-feira, 31, que gostaria que as acusações contra o presidente afastado da Câmara não "fossem verdade". Sem querer adiantar o conteúdo do parecer que apresenta nesta manhã - possivelmente a favor da cassação do peemedebista -, Rogério, em entrevista à Rádio Estadão, chegou a elogiar Cunha como presidente da Casa, mas afirmou que o acusado tem "um passado comprometedor".
Rogério, que não quis antecipar sua posição para não "eternizar" o processo, voltou a afirmar que segue a decisão do presidente interino da Casa, Waldir Maranhão (PP-MA),que limitou seu escopo à acusação de que Cunha teria mentido à CPI da Petrobrás no ano passado sobre a existência de contas no exterior. Com isso, ficam de foras questões como o suposto pagamento de propina ao peemedebista no âmbito da Lava Jato. "Para evitar que o processo se arraste, acabei adaptando. Mas estou levando em consideração um conjunto de provas. Farei menção ponto a ponto sobre o que ouvimos no processo [...] Meu voto não terá pegadinha", disse.
O relator também assumiu que sofreu muita pressão de aliados e oposicionistas a Cunha nos últimos diass "Estamos numa casa política, você é abordado o tempo todo. Isso é normal. O que não considero natural são manobras para trancar o processo", falouRogério, mais uma vez sinalizando uma posição contra Cunha.
Dois lados. Rogério também afirmou que Eduardo Cunha tem "duas faces". "De um lado, é um personagem político de sucesso, que cresceu, é forte e respeitado pelos liderados e por outros. Colocou ordem na Casa, organizou muita coisa e fez a casa produzir muito", destacou Rogério, fazendo comentário favorável ao processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff conduzido por Cunha.
"Por outro lado é um político com passado comprometedor. Ele não vai ser julgado por papel como presidente na Casa. Ele teria ampla margem de aprovação. Mas sobre o que cometeu como cidadão, que usava poder políticos para atos incompatíveis com o decoro parlamentar. Gostaria que não fossem verdade, uma ilação. Esse tipo de conduta depõe contra o parlamento", disse Rogério.
O democrata confirmou que entrega o relatório às 11h ao presidente do Conselho, deputado José Carlos Araújo (PR-BA) . Em seguida, será marcada a leitura do parecer e, depois, a votação no colegiado.
Cunha confiante. Em entrevista à Rádio CBN nesta terça, Cunha voltou a se defender das acusações de quebra de decoro parlamentar. Ele reiterou que não é titular de conta que não esteja declarada no Imposto de Renda e que não mentiu à CPI da Petrobrás. "O dinheiro, não o patrimônio, antes de ser transferido, me pertenceu. No momento em que foi doado ao truste, o truste passou a ser o proprietário do patrimônio. E mesmo se eu tivesse, a pergunta é se eu tinha conta. E conta eu não detinha", disse.
Indagado se está preparado para o processo que poderá resultar na cassação de seu mandato, Cunha disse que pretende ser absolvido e que está confiante por não ter culpa nos fatos elencados.
Ele ainda repetiu que não tem conta que não esteja declarada no Imposto de Renda e que não mentiu. "O processo que quer me condenar é político, sem se ater às provas." Cunha também rebateu as críticas de que teria levado o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff na Câmara por vingança, dizendo que tudo ocorreu de forma legal. E disse esperar que seu processo tenha os trâmites legais respeitados.
Cunha falou que o Conselho de Ética obviamente é soberano, mas em última instância o processo vai para o plenário. "Se o devido processo legal for respeitado, vai rapidamente para o plenário e se não for, terá nulidade a ser arguida na CCJ", afirmou Cunha, em referência à Comissão de Constituição e Justiça. E ironizou que o seu processo interessa muito mais àqueles parlamentares sem expressão na Casa.
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