Renan faz acenos a Planalto e diz que só não conversa com Quintão e Marun

Para senador, Davi Alcolumbre (DEM-AP) "não é Guaidó" e não pode sentar na cadeira para conduzir eleição 

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Foto do author Vera Rosa

BRASÍLIA - Pré-candidato à presidência do Senado, Renan Calheiros (MDB-AL) intensificou nesta terça-feira, 29, as articulações para obter apoio do governo de Jair Bolsonaro, mandando recados ao Palácio do Planalto. Na disputa com a colega Simone Tebet (MDB-MS) para obter a vaga de candidato do partido, a três dias da eleição, Renan minimizou até mesmo as divergências com o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni.

“Só há duas pessoas do governo que eu não vou procurar: o Quintão, que ainda não tem cargo, e o Marun, que está em Itaipu”, disse ele. A frase é, na prática, uma estocada na direção do deputado Leonardo Quintão (MDB-MG) - que já despacha no Planalto com a missão de cuidar das relações com o Senado, embora ainda não tenha sido nomeado - e do ex-ministro Carlos Marun, hoje conselheiro da Itaipu Binacional.

O senador Renan Calheiros (MDB-AL) Foto: Dida Sampaio/Estadão

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Renan também fez acenos ao senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), que enfrenta um desgaste após o outro após o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) descobrir movimentação considerada "atípica" de recursos na conta dele e de seu ex-assessor Fabrício Queiroz. “Conselho de Ética é coisa excepcionalíssima”, destacou o pré-candidato do MDB, ao ser questionado pelo Estado se, caso eleito, levaria adiante eventual investigação contra o filho de Bolsonaro. “Legislativo não é lugar para botar juiz.”

Disposto a presidir pela quinta vez o Senado, Renan vestiu o figurino de um novo homem e referindo-se a ele próprio na terceira pessoa, afirmou que esse parlamentar, “renovado pelas urnas”, está aberto para conversar com Onyx e outros ministros. “Se o velho Renan fosse contabilizar com quem já brigou e fez as pazes, a memória não conseguiria registrar tudo”, comentou. “Não conversei com Onyx, mas não tenho dificuldade em fazer isso. As nossas diferenças foram políticas.”

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No fim de 2016, Onyx, então deputado do DEM, e Renan – à época presidente do Senado – bateram boca várias vezes na esteira da discussão sobre o pacote anticorrupção no Congresso. Renan chegou a dizer que Onyx, relator daquele projeto na Câmara, tinha “nome de chuveiro”, insinuando a existência de lavagem de dinheiro. O deputado reagiu, chamando o senador de “bandido”.

O mal-estar entre os dois teve novo capítulo nos últimos dias, quando, apesar do discurso oficial de neutralidade do Planalto, ficou evidente que Onyx apoia, nos bastidores, a candidatura de Davi Alcolumbre (DEM-AP) ao comando do Senado.

Aliados de Alcolumbre querem agora que ele presida a sessão marcada para escolher o novo presidente do Senado, em 1.º de fevereiro, mesmo sendo candidato. O plano é que, nessa condição, ele enfrente Renan, hoje favorito, e aceite requerimento de algum partido – a ser apresentado em plenário – para que a votação seja aberta.

“Ele quer dar o golpe?”, perguntou Renan. “O Guaidó se sentou na cadeira porque é presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, mas o Alcolumbre é terceiro suplente da Mesa Diretora”, emendou o senador, em alusão a Juan Guaidó, que se autoproclamou presidente interino da Venezuela, desafiando Nicolás Maduro.

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Renan e seus seguidores trabalham para que a sessão da próxima sexta-feira, 1, seja conduzida pelo senador José Maranhão (MDB-PB). Aliado de Renan, Maranhão também defende o voto secreto e promete impedir o que chama de “manobra” no plenário. “Essa turma do voto aberto não tem os votos necessários e agora quer constranger os eleitores”, insistiu Renan. Em conversas reservadas, senadores de vários partidos observam que, se a votação for aberta, a candidatura de Renan corre risco. 

Na reunião desta terça da bancada do MDB, a portas fechadas, Maranhão contou ter recebido um telefonema do senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) dizendo que o colega Tasso Jereissati, pré-candidato do PSDB à presidência do Senado, tinha grande simpatia pela campanha de Simone Tebet. “Imagine agora a sorte do MDB com o Tasso querendo escolher o nosso candidato. Querem nos dividir”, afirmou Maranhão.

Para Renan, o voto aberto representa “a morte” do MDB. “O MDB, dividido, não sobreviverá”, observou o senador, que nesta terça chegou a “renovar os votos” de compromisso com o partido, assinando novamente a ficha de filiação. “O novo Renan é menos estatizante, mais liberal e defende todas as reformas, além de um princípio: o fim de todos os privilégios”, argumentou ele, encarnando o candidato.