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Traduzindo a política

Opinião|Debate na Band medirá reais intenções de Datena, Marçal e Tabata no confronto com Nunes e Boulos

Candidatos que juram que baterão igualmente no emedebista e no psolista têm mirado muito mais no prefeito

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Foto do author Ricardo Corrêa
Atualização:

O debate entre os principais candidatos na disputa pela Prefeitura de São Paulo, na noite desta quinta-feira, 8, na Band, servirá para testar as reais intenções dos candidatos em suas estratégias de campanha. Sobretudo de José Luiz Datena (PSDB), Tabata Amaral (PSB) e Pablo Marçal (PRTB), que prometem centrar fogo de forma igualitária em Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL).

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O caso de Datena é emblemático. Nos bastidores, seu partido sempre usou como argumento para ter um nome próprio o temor de que Tabata Amaral, opção para apoiar, acabasse abraçando Guilherme Boulos no segundo turno. O argumento era que, com o partido querendo retomar o protagonismo na oposição a Lula, não seria possível estar na mesma campanha de Jair Bolsonaro, com Nunes, mas que a proximidade de Tabata com o governo geraria o risco de colocar o PSDB indiretamente ao lado do PT em uma segunda etapa da eleição.

Datena, portanto, teria a missão de se manter equidistante de Boulos e Nunes. Contudo, até aqui tem sido muito mais ferino contra o prefeito nas entrevistas e declarações. Sabe-se que a relação dos dois é péssima. Com Boulos, ao contrário, Datena tem histórico de boa relação. Os dois chegaram a se reunir no início dos debates das eleições na ocasião em que vazou um vídeo em que Datena propunha ser vice do psolista. O apresentador tem relação antiga com o pai de Boulos, figura frequente em seus programas.

Debate na Band colocará frente a frente Boulos, Nunes, Marçal, Datena e Tabata Foto: Werther Santana/Estadão, Felipe Rau/Estadão, Reprodução/Instagram via @pablomarcal1, Alex Silva/Estadão

O jornalista também tem outro desafio. Acostumado a discursar em seu programa na TV em que é pedra, nunca vidraça, terá que se acostumar com o embate direto com os concorrentes e em ouvir em vez de só falar. Nas sabatinas das quais participou até o momento, não permitiu que nenhum jornalista chegasse até o final das perguntas. Em um deles, do podcast “O Assunto”, do G1, precisou ouvir a justa reclamação da apresentadora Natuza Nery. E mesmo quando ela explicava os problemas causados pelas interrupções, continuou interrompendo. Em um debate engessado com o tempo de fala e escuta, terá que se conter.

Tabata também tem lá seus testes em seu primeiro debate. Assim como Datena, terá que mostrar que é real mesmo a intenção de se colocar como alternativa crítica não só a Nunes como a Boulos. Assim como o tucano, ela também tem sido muito mais dura com o prefeito. Além disso, terá a oportunidade de provar que sua estratégia de puxar o debate público para a argumentação de propostas concretas funciona melhor do que a troca de farpas e polêmicas que têm marcado a política brasileira.

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Pablo Marçal, ao contrário, vai ao debate justamente para causar polêmica. Por isso chegou a afirmar que diria no debate que dois candidatos usam cocaína. Ainda que dissesse de fato, o que dificilmente fará, não teria como trazer elementos para tal. Mas deixa claro, com isso, que vai atacar abaixo da linha da cintura.

Sobre ele também paira a dúvida sobre a real postura na campanha. Em tese, pelo posicionamento que tem no eleitorado, deveria focar muito mais em Guilherme Boulos. Críticas fortes ao candidato de esquerda contribuiriam para tentar cativar o eleitorado bolsonarista. Até aqui, porém, também tem batido mais no prefeito e, especialmente, em Tabata Amaral, dissipando dúvidas de que poderia funcionar como uma linha auxiliar de Nunes.

Cabe um registro de um revés que a campanha de Nunes teve com o fato de Marina Helena (Novo) ter ficado fora do debate. Embora seja inconfessável, houve uma estratégia deliberada do PL de Bolsonaro, que está com Nunes, de apoiar a ida de Ricardo Salles ao Novo para engrossar o número de parlamentares e forçar a presença da candidata nos debates. Lá, ela miraria em Boulos, ajudando indiretamente o prefeito. Mas o descumprimento dos prazos previstos na legislação para essa filiação fizeram a estratégia naufragar.

A Nunes e Boulos, por fim, caberá apenas jogar com o regulamento. Driblar os ataques ao máximo e partirem para um confronto direto apenas entre eles, isolando os demais e garantindo um status quo que pode levá-los ao segundo turno. Se nem sequer houvesse debate para eles seria até melhor.

Opinião por Ricardo Corrêa

Coordenador de política em São Paulo no Estadão e comentarista na rádio Eldorado. Escreve às quintas

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