Depois de mais de 100 dias de paralisação, os funcionários públicos federais do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) voltarão ao trabalho na segunda-feira. Enquanto assembléias estaduais eram preparadas hoje para avaliar a proposta de reajuste salarial do governo, os servidores começaram a organizar os processos atrasados nas agências de atendimento ao público. Várias pessoas formaram filas em frente às agências, na tentativa de serem atendidas. Com a reabertura das 1.135 repartições, que deixaram de conceder cerca de 850 mil benefícios desde 8 de agosto, o INSS dará prioridade ao atendimento no balcão. Os profissionais trabalharão duas horas a mais por dia para adiantar o serviço atrasado. A dona de casa Suelene Rodrigues Severino, de 27 anos, chegou hoje cedo ao posto de Taguatinga, cidade-satélite do Distrito Federal. Ela quer dar entrada no auxílio-doença para o filho de 5 anos, deficiente visual. "Vivo com a ajuda de familiares, já que meu marido está desempregado há três meses", revelou Suelene. "Com fé em Deus, consigo ser atendida na segunda-feira." Já o desempregado José Fábio Borges, de 42, chegou ao posto do INSS às 19 horas de terça-feira e só foi embora às 9h30 de hoje. Estava indignado por não ter sido atendido. Apesar de não considerarem a proposta do governo "ideal", os sindicalistas admitiram o fim da greve. Segundo o secretário da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Seguridade Social (CNTSS), Vladimir Nepomuceno, a imagem da categoria poderia ser abalada, caso a paralisação se estendesse por mais tempo. Além disso, os funcionários públicos federais não acreditam que o Executivo aumente o porcentual de reajuste salarial. "Mais do que isso não dá", afirmou Nepomuceno. Durante as negociações, os funcionários públicos conseguiram criar um novo plano de carreira para a categoria e aumentar a parte fixa da Gratificação de Desempenho da Atividade Providenciária (Gdap) principal entrave da greve. Pelo projeto de lei original do governo, os funcionários ativos receberiam, no mínimo, 10% do valor da retribuição de serviço extraordinário, enquanto que os 90% restantes dependeriam do desempenho pessoal. Pela nova proposição, acertada terça-feira entre o comando do movimento e o governo, os ativos terão direito a um adicional fixo de 30%. Os aposentados que ganhariam apenas 10% fixos - porque não podem ter o desempenho avaliado - agora também terão direito a 30%. De acordo com o ministro da Previdência, Roberto Brant, o novo acordo representa R$ 193 mensais a mais para os servidores públicos federais do INSS de nível superior, R$ 74,70 aos intermediários e R$ 39 para os auxiliares. Brant disse também que os servidores terão de escolher entre o adicional fixo de 47,11%, concedido hoje à minoria, e o novo plano de carreira. Se quem optar pelo plano tiver o salário reduzido, explicou Brant, o ministério cobrirá a diferença no fim do mês. A direção da greve do INSS realizará uma plenária nacional sábado, quando deverá ser anunciado, oficialmente, o fim da paralisação.
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