Há três semanas no comando da comunicação oficial do governo, o marqueteiro Sidônio Palmeira vem apagando incêndios provocados sobretudo por discursos improvisados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Escalado para comandar a Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom), o novo ministro tem a missão de melhorar a imagem do Executivo federal.
Nesta quinta-feira, 6, Lula sugeriu que a população deixe de comprar produtos que estejam muito caros, como “solução” para regular os preços dos alimentos. A declaração foi alvo de críticas de políticos da oposição, com afirmações de que o presidente “zomba da população na cara dura”.
No mesmo dia, o presidente publicou em seu perfil do X (antigo Twitter) uma proposta num tom mais assertivo, afirmando que, ao lado dos setores produtivos e atacadistas, estava disposto a encontrar uma solução para a alta dos preços.
Apesar das redes sociais serem um ambiente mais controlado, em que as publicações passam pela equipe antes de irem ao ar, sozinhas elas não contornam as derrapadas que Lula já tem fama de dar em discursos improvisados. A lista de declarações controversas do presidente contém episódios como no qual confundiu nome do atual presidente da França, Emmanuel Macron, com o de ex-governante do país europeu, Nicolas Sarkozy, e a ocasião que disse que nasceriam uvas numa oliveira.
Em janeiro, uma nova “gafe” do presidente virou motivo de uma “cutucada” do ex-ministro Paulo Pimenta, então de saída da Secom, em Sidônio, dias antes de assumir a pasta. Conforme narrou a jornalista Renata Agostini, do O Globo, após Lula falar que homens são, na maioria, mais “apaixonados pelas amantes do que pelas mulheres”, Pimenta falou para o sucessor, rindo, que “esse problema agora é seu”.

No final do mês, o próprio Sidônio deixou escapar sua reação frente a uma dessas ocasiões, no instante seguinte a uma fala de Lula com potencial para dar trabalho ao novo ministro.
Em coletiva de imprensa no dia 30, no Palácio do Planalto, o presidente disse que o governo “não está entregando aquilo que a gente prometeu” e questionou sobre os resultados das pesquisas. “Então, como que o povo vai falar bem do governo se ele não tá entregando? É preciso ter muita paciência”.
Na mesma hora, como mostrou o jornal Folha de S. Paulo, Sidônio reagiu levando a mão ao rosto e, em seguida sorrindo, alternando o peso do corpo entre as pernas e com os dedos apoiando o queixo. A imagem foi compartilhada por opositores nas redes sociais.
Recuo no Pix após embate nas redes
Considerada a primeira derrota do governo do ano, a revogação da medida da Receita Federal que ampliava o monitoramento sobre transações financeiras, incluindo o Pix, foi uma disputa travada no campo das redes sociais, onde ocorreu a primeira contribuição de Sidônio na pasta, dias antes de assumir o cargo oficialmente, em 14 de janeiro.
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Quatro dias antes da nomeação do novo ministro, Lula postou um vídeo mostrando que fez uma doação para a “vaquinha” da Gaviões da Fiel, que junta dinheiro para pagar a dívida do Corinthians. Ao doar R$ 1.013, Lula desmente que o Pix seria taxado pelo governo federal – hipótese levantada por oposicionistas, sobretudo pelo deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), que produziu um viral com as insinuações. Como mostrou o Estadão, os vídeos compartilhados pela oposição atingiram cerca de 20 vezes mais visualizações do que as peças produzidas por parlamentares petistas.
As declarações, a alta no preço dos alimentos e irregularidades fiscais no pagamento do programa “Pé-de-Meia”, destinado a custear bolsas para estudantes do ensino médio, têm engrossado críticas da oposição, que tenta acumular “motivos” para pedir o impeachment do presidente – possibilidade já rechaçada pelo novo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB).
Enquanto isso, Sidônio segue com o plano de tentar melhorar a imagem do petista diante do baixo índice de aprovação indicado pelas últimas pesquisas. Nas próximas semanas, Lula deve cruzar o País de norte a sul em viagens para promover agendas com o objetivo de aumentar sua popularidade.