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As relações entre Executivo e o Congresso

Opinião | Apoios não serão decisivos na eleição para presidente

Perfil dos dois candidatos já é conhecido pelo eleitorado e grande maioria dos brasileiros já formou opiniões fortes sobre Lula e Bolsonaro

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Foto do author Silvio Cascione
Atualização:

Neste início de segundo turno entre Lula e Bolsonaro, os dois lados receberam o apoio de governadores, ex-candidatos e outras lideranças políticas, com farta cobertura de imprensa. Os casos que mais chamaram a atenção foram o do governador de Minas Gerais, Romeu Zema, ao lado de Bolsonaro, e o da senadora e candidata à Presidência Simone Tebet, ao lado de Lula. Muito se falou da importância desses apoios, mas o fato é que eles dificilmente serão decisivos.

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Isso tem a ver com o perfil dos dois candidatos, que já são plenamente conhecidos do eleitorado. Não só isso: a grande maioria dos brasileiros já formou opiniões fortes (a favor ou contra) os dois candidatos à Presidência, ao longo de muitos anos de exposição a essas figuras.

Essa não é uma situação comum. Em anos passados, normalmente havia pelo menos um postulante (Geraldo Alckmin, Dilma Rousseff, Marina Silva, Fernando Haddad, o próprio Bolsonaro em 2018) que ainda estava apresentando-se ao público, e por isso dependia mais de “padrinhos”. Haddad não teria ido ao segundo turno sem os votos de Lula, e Bolsonaro teria mais dificuldades com parte do público sem vincular sua campanha à agenda liberal de Paulo Guedes.

Simone Tebet anuncia apoio a Lula no segundo turno da eleição  Foto: REUTERS/Amanda Perobelli

Muitos candidatos a governador, senador ou deputado usaram o mesmo recurso nas eleições deste ano. Tarcísio de Freitas, em São Paulo, e Jerônimo Rodrigues, na Bahia, são apenas dois dos exemplos mais claros de como o apoio de figuras conhecidas (Bolsonaro e Lula, respectivamente) pode favorecer duas pessoas que nunca disputaram uma eleição. Tarcísio e Jerônimo são favoritos à vitória, superando máquinas políticas fortes em seus estados.

Bolsonaro e Lula são diferentes. Quando Zema apoia Bolsonaro, ou quando Simone apoia Lula, eles atuam mais para reforçar mensagens que já eram conhecidas do eleitor em geral (o antipetismo de Bolsonaro, e o antibolsonarismo de Lula) do que para trazer algum elemento relevante para a decisão do eleitor.

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Governador de Minas Gerais, Zema apoia Bolsonaro no segundo turno Foto: DOUGLAS MAGNO / AFP

É bom frisar, inclusive, que os eleitores já demonstraram no passado, em inúmeras ocasiões, que separam bem as eleições nacionais e locais. Eleitores podem muito bem ter votado pela continuidade de um governo estadual relativamente bem avaliado sem que isso represente qualquer compromisso com a reeleição de Bolsonaro. Já foi assim muitas vezes no passado, com quando Lula e Dilma Rousseff venciam em Minas Gerais, junto com tucanos no governo local.

Esse debate sobre os apoios, portanto, pode ser traiçoeiro para as campanhas se tirar o foco do que realmente importa: o conteúdo. Os eleitores estão de olho naquilo que importa para eles, e nesta eleição o principal assunto continua a ser a economia. Lula continua em vantagem, pois os eleitores indecisos ou menos engajados com a política, em sua maioria, ainda se ressentem da piora nas condições de vida nos últimos anos. Mas o jogo continua aberto.

Opinião por Silvio Cascione

Mestre em ciência política pela UNB e diretor da consultoria Eurasia Group

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