Se a eleição presidencial tivesse ocorrido há pouco menos de dois anos, no segundo semestre de 2020, Jair Bolsonaro provavelmente teria vencido. Naquele momento, mesmo com o desastre da pandemia, a taxa de aprovação do presidente beirava os 50%, o que o colocaria como favorito segundo um banco de dados com eleições no Brasil e em outros países. Hoje, na média, a taxa de aprovação de Bolsonaro oscila entre 35% e 40%. Ele provavelmente perderá.
O que havia de diferente no Brasil de 2020? Muitos governistas têm a resposta na ponta da língua: o Auxílio Emergencial. Naquele momento, o bônus de R$ 600 para 67,9 milhões de brasileiros (um terço da população!) não só aliviava a fome de milhões de famílias, como também dava um impulso a pequenas reformas e movimentava feiras e mercados por todo o país.
Bolsonaro tenta resgatar essa memória ao propor um novo aumento dos programas sociais do governo, hoje reunidos na marca Auxílio Brasil. O bônus de R$ 200 para as famílias de baixa renda, que passariam a receber um mínimo de R$ 600 até o fim do ano, provavelmente será aprovado pelo Congresso em julho. Fará diferença?
:quality(80)/cloudfront-us-east-1.images.arcpublishing.com/estadao/XVJW6DVB3NHZBEVOOXW66FGXFI.jpg 768w, https://www.estadao.com.br/resizer/o7UZGuq2MdLpqFzJYfbN0zvRm9Q=/768x0/filters:format(jpg):quality(80)/cloudfront-us-east-1.images.arcpublishing.com/estadao/XVJW6DVB3NHZBEVOOXW66FGXFI.jpg 1024w, https://www.estadao.com.br/resizer/m2NzT9GI5UbEkuFoKDcc2UVVEYg=/936x0/filters:format(jpg):quality(80)/cloudfront-us-east-1.images.arcpublishing.com/estadao/XVJW6DVB3NHZBEVOOXW66FGXFI.jpg 1322w)
A resposta mais simples é que o benefício deve sim ajudar Bolsonaro; mais até do que outras alternativas à mesa, como cortes de impostos nos combustíveis. Mas, provavelmente, o efeito será numa escala muito menor do que ele experimentou em 2020, e menor do que ele gostaria – ou precisaria – para vencer a eleição.
Primeiro, é preciso lembrar que o Auxílio Brasil é pago a um contingente menor de pessoas (18 milhões de famílias), e mais concentrado no Nordeste. Dentre os beneficiários do Auxílio Emergencial, havia muitos trabalhadores informais ou desempregados em regiões metropolitanas que hoje não têm acesso ao Auxílio Brasil.
Segundo, o valor de R$ 600 será calculado por família, e não por indivíduo, como no Auxílio Emergencial. Os valores não são comparáveis. Em muitos casos, o programa atual ainda entrega bem menos dinheiro do que o Auxílio Emergencial da pandemia.
Terceiro, esse bônus pode estar vindo tarde demais, muito perto da eleição para converter eleitores fiéis de Lula. O pico da aprovação do presidente com o Auxílio Emergencial começou quatro meses após os primeiros pagamentos. No Auxílio Brasil, seis meses após dobrar o valor do antigo Bolsa Família, a aprovação de Bolsonaro entre os beneficiários do programa ainda era de apenas 18%, segundo levantamento Genial/Quaest.
Tudo isso não quer dizer que não haverá efeito algum. Se a taxa de aprovação de Bolsonaro entre os mais pobres se aproximar da média das outras faixas de renda, o presidente subirá nas pesquisas. Mas, com as considerações de que essa medida é mais fraca do que as políticas de 2020, e com Lula bem à frente no placar, o presidente precisará seguir no ataque para virar o jogo.