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Tarcísio precisou montar grupo político e já sofre pressão de siglas

Candidato nega ‘destucanização’ de governo se eleito e não garante atual divisão partidária; aliados descartam espaço para bolsonarismo radical

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Foto do author Pedro  Venceslau
Foto do author Gustavo Queiroz
Foto do author João Scheller
Atualização:

Se vencer a disputa pelo governo paulista neste domingo, 30, o ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos) terá o desafio de criar um grupo político próprio com quadros de sua confiança e outros de partidos aliados para atuar no seu entorno e constituir o primeiro escalão, após 28 anos de administração do PSDB. Na primeira eleição que disputou na vida e sem história em São Paulo, o ex-ministro bolsonarista está em um partido médio, o Republicanos, que orbita na área de influência da Igreja Universal. Ainda no segundo turno a legenda sofre pressão de União Brasil, PSDB e PP para manter as respectivas “ilhas” numa futura máquina.

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O candidato prometeu que não vai dar um “cavalo de pau” nem promover uma “destucanização” do governo, mas também não garantiu a manutenção de áreas de influência. Tarcísio tem dito em conversas reservadas que vai desalojar, por exemplo, o grupo do vereador Milton Leite (União Brasil) da pasta de Logística e Transportes e da Dersa e indicar para a vaga um técnico de sua confiança. O mesmo vale para Habitação, pleiteada por tucanos.

Se eleito, Tarcísio terá de administrar a pressão para abrigar bolsonaristas, mas sinaliza que vai barrar os integrantes da ala mais radical. “É óbvio que os partidos têm de ter participação (no governo), mas essa participação será com quadros técnicos”, disse ao Estadão o deputado federal Cezinha de Madureira (PSD), que atuou próximo à campanha.

O candidato e ex-ministro Tarcísio de Freitas lidera as pesquisas para o cargo de governador de São Paulo Foto: Felipe Rau/Estadão

O ex-ministro promete um gabinete com vozes moderadas, e já disse que nomes como seu coordenador de campanha, Guilherme Afif, e o médico Eleuses Paivas terão influência, sendo que o segundo é cotado para assumir a Saúde. Rafael Benini, que já atuou na Agência de Transporte do Estado de São Paulo e no Ministério da Infraestrutura, é cotado para assumir uma secretaria. “É preciso separar o joio do trigo. Não vejo espaço para radicais em São Paulo. O Tarcísio deve respeitar o bolsonarismo, mas com filtros”, disse o prefeito de São Bernardo do Campo, Orlando Morando (PSDB), aliado de primeira hora do ex-ministro no segundo turno.

O tucano afirmou que Tarcísio assumiu o compromisso de manter programas das gestões do PSDB, como o Poupatempo, o Bom Prato e os AMEs. E receberá o governo com cinco a seis folhas de pagamento em caixa. “Ele vai entregar 34 novas estações do metrô, entre monotrilho e convencionais.

Promessas

Outro desafio será lidar com propostas polêmicas e complexas feitas no calor da campanha para agradar ao eleitorado mais à direita e radicalizado, como tirar as câmeras dos uniformes da PM, desmembrar a Segurança Pública, acabar com a obrigatoriedade de comprovante de vacina no serviço público, privatizar a Sabesp e levar a sede do governo para o centro. Algumas foram relativizadas no segundo turno, quando foi detectada a rejeição do eleitorado. Os casos da Sabesp, câmeras e vacinas se tornaram munição de Fernando Haddad (PT) em debates, sabatinas, entrevistas e comerciais de TV, o que deixou o ex-ministro na defensiva.

“A questão das câmeras, ele falou que vai avaliar, a da Secretaria de Segurança ficou mal debatida. Tudo o que falou foi no âmbito da disputa eleitoral. Se for eleito, vai enfrentar a realidade de governo”, afirmou o cientista político da FGV Marco Antonio Teixeira.

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“Na vida política, você vai tendo informações e ajustando a sua opinião. Em relação às câmeras, o que ele tem dito é que, a princípio, pode ser mudado, mas com a responsabilidade que terá como governador não vai tomar nenhuma decisão sem conhecer com profundidade os estudos que balizaram a implementação. Se perceber que não é necessário mudar, vai manter como está”, disse ao programa Roda Viva o ex-ministro Gilberto Kassab, presidente do PSD e um dos principais aliados de Tarcísio.

O ex-prefeito teve um papel de destaque na campanha em São Paulo, especialmente no segundo turno, quando alugou um jatinho para viajar pelo interior com outras lideranças do Centrão em busca do apoio de prefeitos que eram da base do PSDB.

Alesp

Tarcísio também deve lidar com uma disputa que já se forma pelo comando da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). Seu partido, o Republicanos, atua como braço político da Igreja Universal do Reino de Deus e é um dos que se interessam pela presidência da Alesp. Especialistas apontam que a articulação com o Centrão será decisiva para um bom trânsito na Alesp, que agora terá o PL como maior bancada.

O ex-ministro chega ao dia 30 de outubro em meio a um segundo turno mais atribulado, com desgastes da disputa pela reeleição do padrinho político Jair Bolsonaro resvalando em sua campanha.

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Depois de sair na liderança no primeiro turno, com um resultado que surpreendeu tanto sua equipe quanto a do adversário Fernando Haddad (PT), Tarcísio se propôs a percorrer uma agenda intensa no segundo turno, que incluiu uma maratona de cultos e encontros com religiosos.

A principal marca do período, porém, aconteceu em visita a Paraisópolis, na zona sul da capital paulista, quando Tarcísio teve sua agenda interrompida por um tiroteio nos arredores. Minutos depois, o candidato foi às redes sociais e disse ter sido “atacado por criminosos”. Mais tarde, recuou e disse que os disparos poderiam se tratar de disputa territorial. A troca de tiros resultou na morte de um homem identificado como Felipe Lima, de 27 anos. O episódio serviu de munição para ataques dos opositores nas redes sociais.

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