O governo saiu na frente na operação política para cooptar os dissidentes do PMDB que não apoiaram a eleição da presidente Dilma Rousseff. Enquanto o líder do partido no Senado, Renan Calheiros (AL), faz os primeiros contatos com "rebeldes" no Congresso, o vice-presidente da República e o presidente licenciado do partido, Michel Temer, trabalha para aproximar do Planalto governadores que bateram o PT na eleição.
"Vou marcar uma conversa sua com a presidente Dilma", prometeu Temer ao governador do Mato Grosso do Sul, André Puccinelli, que o visitou na semana passada em Brasília. Puccinelli anda apreensivo com o andamento dos interesses do Estado junto ao governo federal depois de ter pedido voto para o tucano José Serra na disputa presidencial.
A preocupação maior do peemedebista deve-se ao embate direto com o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva na campanha. Quando o PMDB decidiu escolher Temer para vice de Dilma na convenção do partido, o governador até cogitou ficar neutro. Na conversa com Temer, porém, disse que mudou de postura depois que, em discurso inflamado no palanque do adversário Zeca do PT, Lula disse que ele, Puccinelli, "não tinha caráter".
O vice-presidente não apenas se colocou à disposição do governador para ajudá-lo a encaminhar os pleitos do Estado junto ao governo, como já relatou o encontro à presidente Dilma. Foi rápido como Renan, primeiro senador a procurar o colega Luiz Henrique da Silveira (PMDB-SC) no gabinete do Senado.
Quando o senador Aécio Neves (PSDB-MG) abraçou Luiz Henrique em um jantar da bancada oposicionista de Santa Catarina em Brasília, na semana passada, Renan já havia feito a visita de cortesia, buscando a aproximação em nome do governo Dilma. Não é à toa que Aécio está disposto a se articular com o peemedebista. Afinal, foi sob a liderança de Luiz Henrique que a oposição derrotou Dilma em Santa Catarina e ainda levou o DEM a conquistar o governo em parceria com o PSDB.
Embora o peemedebista tenha comandado a resistência ao PT em seu Estado, Renan apressou-se em procurá-lo com uma proposta de paz, em nome do vice Michel Temer. Feita a tradicional saudação de boas vindas, Renan quis primeiro saber se Luiz Henrique seria governo ou oposição no Senado.
O catarinenses foi igualmente objetivo na resposta, deixando claro que será "cordato" com o Palácio do Planalto na medida em que for bem atendido pelo governo. Lembrou que representa Santa Catarina no Senado e que tem compromisso com o governo estadual do DEM e do PSDB, para concluir: "Se o governo nos tratar bem, tudo bem. Mas não poderá ser como nos últimos dois anos do presidente Lula. O governo nos tratou mal, discriminou o Estado".
Habilidoso, Renan avisou que o governo está aberto ao diálogo e que Temer vai procurá-lo e quer ouvi-lo. Durante a campanha, o próprio Temer tomou as devidas cautelas para facilitar a reaproximação futura. Nas cinco ocasiões em que visitou Santa Catarina em busca de apoio para sua chapa com Dilma, Temer fez questão de pedir voto a Luiz Henrique, lembrando aos catarinenses que ele era o candidato do PMDB ao Senado.