A desistência do ex-governador de São Paulo João Doria (PSDB) de concorrer à Presidência da República representa, antes de qualquer coisa, um potencial de desbloqueio para que os partidos da terceira via possam finalmente viabilizar uma candidatura única e alternativa à polarização entre Lula e Bolsonaro.
A despeito de seu governo virtuoso no Estado de São Paulo, a candidatura de Doria paradoxalmente não decolou eleitoralmente, perdendo viabilidade política dentro do seu próprio partido, mesmo tendo sido o legítimo vencedor de um inédito processo de primárias no PSDB para escolha de seu candidato à presidência.
Esta decisão traz dilemas não desprezíveis para o PSDB que, pela primeira vez desde a sua criação, pode vir a deixar de oferecer um candidato a Presidência. Isso significa abrir mão do protagonismo e dos ganhos conferidos pela trajetória majoritária. A partir de agora terá que trilhar uma trajetória essencialmente legislativa, como um potencial coadjuvante de um majoritário vencedor.
:quality(80)/cloudfront-us-east-1.images.arcpublishing.com/estadao/QRZ3MZESFVFDHD3CVCN3QJZNJE.jpg)
A mudança de trajetória do PSDB, na realidade, teve início quando o partido decidiu ocupar a posição de pivô legislativo da coalizão do governo Michel Temer e enfrentou dificuldades de sair desse governo após as denúncias de corrupção oferecidas pela PGR. Mas foi após o desempenho pífio da candidatura de Geraldo Alckmin à Presidência em 2018 que o PSDB passou a considerar que não valeria mais a pena correr riscos de perdas ainda maiores que decorreriam da possibilidade de uma nova derrota acachapante nas eleições de 2022.
A candidatura de Doria simplesmente ficou muito cara para o PSDB. O partido seria obrigado a arcar com os custos da sua campanha sem os potenciais benefícios de se tornar mais uma vez o majoritário vencedor. E o que é pior, com menos recursos para as candidaturas a governador (notadamente de São Paulo) e, de maneira especial, para deputado federal, cuja performance é o que vai definir o montante de recursos alocados para o partido provenientes dos fundos partidário e eleitoral no novo ciclo legislativo.
Por outro lado, a candidatura da senadora Simone Tebet (MDB) à Presidência ficou relativamente mais barata para os partidos da terceira via. Com a obrigação de alocação de uma cota de 30% do fundo eleitoral para candidaturas femininas, tanto para campanhas proporcionais como também majoritárias, a candidatura de Tebet praticamente libera o MDB para alocar os recursos restantes para candidaturas que mais lhe interesse, independentemente de ser homem ou mulher.
Comentários
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.