Títulos para jovens foram só o começo, meta agora será fazer garotada votar, dizem ativistas

Integrantes das campanhas pelo alistamento eleitoral de adolescentes comemoram números do TSE

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Por Rayanderson Guerra
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RIO – Eufóricos com a explosão no número de adolescentes de 16 e 17 anos alistados para votar já em 2022, organizadores da campanha pelo voto jovem já miram novo alvo. Agora, a meta será fazer os garotos e garotas efetivamente votarem nas próximas eleições, derrubando os índices de abstenção e votos brancos e nulos. Esse será o “próximo passo”, afirma Letícia Bahia, dirigente do grupo Girl Up, que investe em lideranças femininas. O estímulo vem do sucesso das campanhas pelo alistamento feitas por artistas, influenciadores, organizações da sociedade civil e empresas.

Em março deste ano, a sete meses das eleições, o engajamento de quem tem 16 e 17 anos era o mais baixo já registrado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), como mostrou o Estadão. Com a participação de famosos como a cantora Anitta, o ator Leonardo DiCaprio e o youtuber Felipe Neto, entre outros, a situação mudou. A campanha pelo alistamento de jovens e regularização dos títulos levou a Justiça Eleitoral a um recorde de cadastros.

De acordo com o TSE, entre janeiro e abril deste ano o País ganhou mais de 2 milhões de eleitores com idades entre 16 e 18 anos. Os dados parciais foram divulgados pelo presidente da Corte, ministro Edson Fachin, em sessão nesta quinta-feira, 5. Segundo o magistrado, o número de novos votantes nessa faixa etária cresceu 47,2% em relação ao mesmo período de 2018. E avançou mais de 57% em comparação aos quatro primeiros meses de 2014.

Os números foram comemorados pelos organizadores das campanhas nas redes sociais. O Up Girl coordenou o movimento #SeuVotoImporta. A ação contou a participação de influenciadoras. Mulheres como Miley e Mary Oliveira, Victoria Collen, Mari’i Guajajara, Isa Paoli e Alexia Brito. Juntas, elas falam para quase 2,5 milhões de seguidores. Os organizadores estimam ter levado ao menos 90 mil pessoas ao site do TSE para o registro eleitoral.

A diretora executiva da Girl Up, Letícia Bahia, comemorou os números divulgados pelo TSE. Segundo ela, o movimento de incentivo à participação na política irá continuar.

Eleitores lotam zonas eleitorais para regularizar ou tirar título no Rio. Pedro Kirilos/Estadão Foto: Pedro Kirilos/Estadão

“Os números falam por si só, mas além disso foi lindo ver a participação de tantos setores distintos e – muito importante – da própria juventude. Foi um chamado muito horizontal, de jovem para jovem. A #SeuVotoImporta teve sua primeira edição em 2020 e estávamos ansiosas pela edição de 2022. Aprendemos um bocado nas últimas semanas. Agora é hora de sentar com as meninas da rede para pensar o que vem a seguir. Mas sim, haverá próximos passos. Desde o início sabíamos que o 4 de maio encerrava apenas a primeira fase de campanha. Daqui para frente vamos falar sobre comparecimento eleitoral, sobre levar os jovens que têm título de eleitor a efetivamente irem votar”, conta Letícia.

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Betina Faroe é coordenadora de projetos relacionados à abstenção na Quid, especializada em ações políticas. A agência encabeçou a campanha “Olha o Barulhinho”. Seu objetivo era aumentar a participação dos jovens no processo político. Ela considera que foi muito positiva a mobilização ampla da sociedade, envolvendo organizações, agências, empresas, influenciadores e especialmente os jovens.

“Foi um tema que ganhou as redes de forma orgânica em uma linguagem nativa da internet e dos jovens, a ponto de o prazo de 4 de maio e a importância do voto ficarem evidentes. Nosso foco é buscar reverter a tendência de votos nulos, brancos e abstenções na sociedade. A democracia pode ganhar muito com uma maior participação dos cidadãos brasileiros em toda a sua diversidade”, explicou.

O ator norte-americano, Mark Ruffalo, que interpretou o Incrível Hulk no cinema, foi um dos artistas que entraram na campanha pelo primeiro voto. Ele compartilhou postagens de influenciadores brasileiros, como Raphael Vicente, morador do Complexo da Maré, no Rio. Fez o mesmo com texto de Leonardo DiCaprio, com comentários em português. Nesta quinta, Ruffalo comemorou os números do TSE.

“Foi muito bom fazer parte do movimento dos ativistas e jovens brasileiros, criando uma democracia mais saudável, vibrante e diversificada. Nós estamos todos juntos nisso. Honrado por esta boa notícia”, escreveu Ruffalo no Twitter.

A estudante Maria Luiza Chagas completou 16 anos em março deste ano. Não sabia que poderia tirar o título de eleitor para votar já nas eleições de outubro. Foi alertada para seu direito por amigos. Eles foram influenciados pela campanha do primeiro voto nas redes sociais. Apesar de ter deixado para emitir o documento no último dia, nesta quarta-feira, 4, Maria Luiza deixou a sede da zona eleitoral de Copacabana, na Zona Sul do Rio, com o título em mãos.

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“Eu não sou fã de político, mas só de olhar para a situação do País temos uma motivação para não deixar de votar. Eu achei que não poderia tirar o título porque completei 16 anos no mês passado. Mas uns amigos da minha escola disseram que tinham tirado e que eu poderia fazer”, contou a estudante.

Morador da Rocinha, o técnico de refrigeração Vando Alexandre, de 47 anos, perdeu o título de eleitor. E estava com a situação na Justiça Eleitoral pendente desde 2018. Aproveitou o horário de almoço no trabalho para procurar um posto do TRE do Rio. Queria regularizar seus dados.

“Perdi o meu título logo depois da eleição passada. Esse ano a única forma que temos para evitar a volta do PT é votando. Por isso, aproveitei esse tempo para tirar um novo título e transferir meu domicílio eleitoral”, explicou.

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