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Os bastidores do Planalto e do Congresso

Opinião | Quem ganhou a batalha dos bonés, símbolo do vale-tudo da política nas redes sociais?

Líder do PL, Sóstenes Cavalcante diz que a cada ação de Sidônio Palmeira haverá uma reação: ‘Estou de olho nesse cara’.

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Foto do author Vera Rosa
Atualização:

O líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT), estava ao lado do presidente Lula, na manhã desta terça-feira, 4, quando a equipe do ministro da Comunicação Social, Sidônio Palmeira, entrou animada no gabinete do Palácio do Planalto. Nos oito segundos de gravação, com um mapa-múndi ao fundo, Lula não diz uma única palavra, mas aparece em efeito Boomerang, com um boné azul na cabeça.

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Não era qualquer boné. Era o acessório que ganhou fama na disputa com bolsonaristas pelo conceito de patriotismo, na esteira da posse do presidente dos EUA, Donald Trump. Desta vez, no entanto, o bordão não foi importado. “O Brasil é dos brasileiros”, destaca a inscrição, uma versão repaginada de “O melhor do Brasil é o brasileiro”, que marcou o primeiro mandato de Lula.

“Este é o retrato do que é a política nos dias de hoje”, afirmou Wagner. “Você faz dez mil discursos e não fura a bolha ideológica. Aí você faz um negócio desses e fura”.

O boné usado por ministros e aliados de Lula desde o dia 1.°, quando houve a eleição da nova cúpula do Congresso, virou a nova batalha das redes sociais entre governistas e seguidores do ex-presidente Jair Bolsonaro. Pior: nos dois fronts, já tem gente comercializando o produto.

Um levantamento feito pela consultoria de análise de dados Bites, a pedido da Coluna, mostra que, desde sábado, Lula conseguiu pautar as redes com o boné.

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Na contraofensiva, o líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), mandou confeccionar outras 30 peças, em verde-amarelo, com os dizeres “Comida barata novamente – Bolsonaro 2026″.

“Paguei do meu bolso: R$ 2.262 com Pix. Só não fui taxado porque o Nikolas me salvou”, ironizou ele, numa referência ao deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), que no mês passado emparedou o governo e acabou obrigando o governo a recuar de uma medida que ampliava o monitoramento do Pix. A postagem, que continha uma fake news, ultrapassou 300 milhões de visualizações.

Munidos de embalagens onde se lia “Nem Picanha e Nemcafé” e aos gritos de “Fora, Lula”, bolsonaristas fizeram muito barulho no plenário da Câmara nesta segunda-feira, 3, com o boné distribuído por Sóstenes, e prometem investir no duelo também nas comissões temáticas. “A cada ação deste marqueteiro que virou primeiro-ministro, haverá uma reação nossa. Estou de olho nesse cara”, disse Sóstenes.

Deputados da oposição posam com boné que provoca o governo Lula no plenário da Câmara. Foto: @sostenescavalcante via Instagram

De qualquer forma, embora o mote da “comida barata” tenha atingido o calcanhar de Aquiles da gestão Lula 3 – que é o preço alto dos alimentos –, a mensagem da oposição não bateu a força daquela postada pelos governistas.

Dos dois lados, foram 260 mil menções em redes sociais e notícias, até a tarde desta terça-feira, 4, com 2,6 milhões de interações. “Das dez mensagens com mais repercussão na guerra dos bonés, sete defenderam a estratégia do governo”, observou André Eler, diretor técnico da Bites. “Foi um acerto de comunicação, mas representa seis vezes menos o pico de menções sobre o Pix”.

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A ideia não teve um planejamento estratégico nem passou pelo crivo de Lula. Surgiu de um militante do PT em São Paulo, amigo do ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, inconformado com o fato de parlamentares bolsonaristas aparecerem na posse de Trump, em 20 de janeiro, ostentando bonés vermelhos – cor do Partido Republicano – com a inscrição “Make America Great Again” (Faça a América grande de novo).

É triste ver, porém, que a política de hoje se transformou em disputa de quem tem mais cliques, e não programas, nas plataformas digitais. Vale tudo para aparecer. Só falta agora o eleitor escolher o presidente da República pelo repertório musical.

Opinião por Vera Rosa

Repórter especial do ‘Estadão’. Na Sucursal de Brasília desde 2003, sempre cobrindo Planalto e Congresso. É jornalista formada pela PUC-SP. Escreve às quartas-feiras

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