BRASÍLIA - O presidente Jair Bolsonaro ouviu o apelo de uma apoiadora nesta quinta-feira, 2, para que determine a reabertura do comércio no País, em meio à pandemia da covid-19. "Pode ter certeza que a senhora fala por milhões de pessoas", respondeu o presidente à mulher, que o aguardava em frente ao Palácio da Alvorada, residência oficial, acompanhada dos dois filhos.Além da retomada dos serviços, ela também solicitou a presença de militares nas ruas. Logo depois, o presidente compartilhou o vídeo em suas redes sociais.
A mulher se identificou como professora da rede privada e mãe de família. "Não quero dinheiro do governo, eu quero trabalho", disse ela. "Esses governadores querem o que? Eles têm o dinheiro deles", disse. "Venho pedir para o senhor. Não falo por mim, mas por milhares de pessoas que querem ter condições de ter trabalho. Não quero dinheiro do governo, quero trabalhar." Decreto do governador Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB-DF), determinou que as escolas devem ficar fechadas até o fim de maio.
A professora também fez críticas ao trabalho dos jornalistas "A imprensa não ajuda a gente. A imprensa faz é acabar com a nossa vida. Porque eles não passam necessidade. Estão aí só para falar mentira e acabar com a vida do povo."
Ao postar o vídeo, Bolsonaro escreveu nas redes sociais: "Professora em comovente depoimento para o presidente da República. Peço compartilhar".
Na quarta-feira, 1, o presidente compartilhou e depois apagou um vídeo falso que falava em desabastecimento na Ceasa de Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte. "Quero me desculpar publicamente pelo vídeo (publicado) sobre desabastecimento. A gente erra e corrige", disse o presidente à noite.
Desde a semana passada, quando convocou cadeia nacional de rádio e TV para defender o fim do "confinamento em massa", Bolsonaro tem feito críticas a medidas adotadas por governadores e prefeitos para conter o avanço do novo coronavírus, como o fechamento de escolas, shoppings e lojas. As restrições seguem orientações de organismos de saúde, como a Organização Mundial de Saúde (OMS), que aponta o isolamento social como o método mais eficaz de se evitar a propagação da doença, que já causou 37 mil mortes em todo o mundo e 241 no Brasil até ontem, 1º de abril.
No domingo, 30, um dia após o seu ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, pedir, em reunião tensa, que o presidente não menosprezasse a gravidade da pandemia do novo coronavírus em suas manifestações públicas, Bolsonaro foi às ruas e visitou comércios em Brasília, Ceilândia e Taguatinga. "O que eu tenho conversado com o povo, eles querem trabalhar", afirmou em meio a apoiadores que se aglomeravam para tirar selfies. Na ocasião, o presidente compartilhou nas redes sociais um vídeo de um vendendor de churrasquinho que defendia a abertura do comércio. Ainda no domingo, o Twitter tirou o conteúdo do ar. No dia seguinte, o Facebook tomou a mesma medida. A alegação é de violação das normas das redes sociais.
Alvo de críticas, Bolsonaro adotou um tom mais moderado em pronunciamento em cadeia de rádio e TV na terça-feira, 31.
Além da professora e os filhos, outras pessoas também aguardavam a saída do presidente em frente à residência oficial, como ocorre diariamente, mesmo com a recomendação do Ministério da Saúde de evitar aglomerações e de ficar em casa. O número de apoiadores que vão ao Alvorada caiu no início do mês passado, mas voltou a ser numeroso após o presidente passar a defender a "volta à normalidade", defendendo o isolamento apenas para idosos e doentes, considerado grupo de risco da doença.
Outra apoiadora presente no local nesta quinta-feira usou o termo "gripezinha" em sua fala para se referir à covid-19. A expressão é repetida por Bolsonaro."É o terceiro câncer que estou vencendo e essa gripe é uma gripezinha. Estou aqui para dizer que sou prova viva, eu não peguei nada. Também não estou dando mole, mas eu não peguei nada", afirmou a mulher. E acrescentou: "Eu tenho a imunidade baixa e não peguei uma gripe sequer, eu não peguei um vento, para mostrar para a nação que o senhor tem razão".
Bolsonaro vai ao Rio de Janeiro
O presidente também afirmouque deve viajar ao Rio de Janeiro nesta sexta-feira, 3."Devo estar no Rio amanhã", respondeu Bolsonaro para uma apoiadora que comentava sobre uma mobilização por um "bandeiraço" e "dia da oração" em apoio ao presidente previsto para amanhã. A viagem, no entanto, não vai ocorrer, segundo informou no início da tarde a Secretaria de Comunicação da Presidência.
A última viagem feita pelo presidente foi à Flórida, nos Estados Unidos, no início do mês passado. Na ocasião, ao menos 24 pessoas que o acompanharam foram diagnosticados com o coronavírus. Alguns deles, auxiliares próximos, como o secretário de Comunicação, Fábio Wajngarten, e o ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno. Os dois viajaram no mesmo avião de Bolsonaro.
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