Páscoa eleitoral de Lula

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Por Jose Roberto de Toledo
Atualização:
Potencial de voto - Ibope - abril 2017 Foto: Estadão

Lula da Silva tem o maior eleitorado cativo entre possíveis candidatos a presidente. Segundo pesquisa inédita do Ibope, publicada aqui com exclusividade, 19% votariam "com certeza" nele e em mais ninguém - além de outros 11% que dizem que votariam com certeza não só nele, mas em outros também. Para se comparar, o segundo maior eleitorado exclusivo é o do ex-ministro do Supremo Joaquim Barbosa: 4%, um quarto do de Lula.

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Considerando-se os que votariam com certeza e quem poderia votar em cada nome testado pelo Ibope, Lula chega a 47%; Marina Silva (Rede) tem 33%; Jose Serra (PSDB), 25%; Joaquim Barbosa, 24%; Geraldo Alckmin e Aécio Neves, 22% cada; Ciro Gomes (PDT), 18%; Jair Bolsonaro (PSC), 17%; e João Doria (PSDB), 16%. Mas Doria, Bolsonaro e Joaquim são desconhecidos para 40% ou mais do eleitorado e, por isso, sofrem menos com a rejeição.

Lula é o único cujo potencial de voto (30% que votariam com certeza nele mais 17% que poderiam votar) quase iguala sua rejeição: 47% a 51% - a diferença está no limite da margem de erro. Para Aécio e Ciro, por exemplo, seu potencial é cerca de um terço de sua rejeição. Quem se aproxima mais de Lula nessa taxa é Barbosa: seu potencial equivale a 75% de sua rejeição.

Lula renasceu eleitoralmente por três motivos: o governo Temer, a memória do bolso do eleitor, e, paradoxalmente, a Lava Jato - que respingou em quase todo político relevante. A pesquisa Ibope foi feita antes de o Jornal Nacional dedicar 33 minutos ao petista na cobertura da Lista de Fachin. Se Lula continuará vivo na disputa até 2018 é questão para pitonisas forenses.

Quanto pior é a avaliação do governo Temer, maior fica o capital político acumulado por Lula. Todo tropeço presidencial - das gafes em discursos sobre mulheres até o jeito de apresentar a reforma da Previdência - acaba virando ponto para o petista. O desemprego em massa, é claro, também ajuda.

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Aos eleitores pobres, do Nordeste e de outras partes do interior do Brasil, pouco importa que a crise econômica tenha começado com Dilma Rousseff. Quando se lembram da última vez em que seu bolso não esteve vazio, que tinham emprego e podiam comprar de tudo à prestação, eles se lembram do governo Lula. O bolso tem memória comparativa - e votar é comparar, sempre.

"Lula é investigado por corrupção". Ele e, desde a semana passada, uma centena de políticos de quase todos os partidos, como mostram as delações da Odebrecht. "Com ele a corrupção foi maior". Pode ser, mas, para o eleitor do Brasil profundo, se todos roubam, ao menos sob Lula sobrava algo para ele. Isso explica o fato de o petista estar com rejeição menor que os três ex-candidatos a presidente do PSDB, Serra, Alckmin e Aécio.

A Lava Jato acabou por nivelar o campo da corrupção. Se todos são moralmente iguais, o custo-benefício favorece Lula. O raciocínio cínico de parte do eleitorado que se notabilizou com Adhemar de Barros e ganhou força com Paulo Maluf está agora sendo ressuscitado para Lula. E se aparecer um adversário novo? Alguém não nivelado pela Lava Jato? Será o antípoda do petista. Por ora, os candidatos ao papel são Bolsonaro e Doria.

A menor intersecção do potencial de voto em Lula é com ambos: 13% e 10%, respectivamente. Quase ninguém que votaria no petista votaria neles também. É porque são menos conhecidos, mas isso é uma vantagem: dos que não votariam de jeito nenhum em Lula, 37% não conhecem Bolsonaro e 41% não conhecem Doria o suficiente para opinar sobre eles. Significa que ambos podem somar até 20 pontos a seus potenciais de voto cativando quem rejeita Lula. Seria o suficiente para levar um deles ao segundo turno.