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Por que a Noruega?

Por que a Noruega? Foi a pergunta que se repetiu pelas redes sociais após o atentado a bomba e a matança a bala. Surpresa por ser um país que é a imagem da tranquilidade, de onde raramente vem uma notícia, quanto menos o assassinato planejado de mais de 90 pessoas de uma só vez. O terrorista alcança seu intento quando faz o mundo pensar que "se nem a Noruega está livre de um atentado, nenhum lugar está, ninguém está seguro".

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Por Redação

O terrorismo explora a dificuldade humana de calcular riscos. Quando um evento traumático nos acontece, ele grava uma impressão tão funda em nossas mentes que suplanta qualquer racionalização. O medo de que aquilo possa se repetir é tão grande que embota o pensamento, impregna o subconsciente e produz reações por instinto, não por raciocínio.

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Não adianta comparar as taxas de homicídio por 100 mil habitantes nos anos seguintes aos atentados em Oklahoma City, Nova York, Madri e Londres com as de outros lugares para concluir que nessas cidades, todas elas alvos de terroristas, a chance de um morador morrer assassinato é uma fração do risco que corre um habitante do "polígono da violência" no Pará.

Quem sofreu um sequestro relâmpago ou um assalto violento sabe dos dias, semanas de paranóia subsequentes. O que é olhar uma pessoa e ver uma ameaça. Difícil imaginar o pânico dos sobreviventes a chacinas como as de Realengo e da ilha de Utoeya. O que eles enfrentam é a definição de terror.

A violência pedestremente criminosa não comove como a violência gratuita. O crime organizado e o desorganizado matam muito mais do que o terrorismo. Matam tanto que, apesar de mais perigosos, banalizaram sua percepção. As pessoas instalam grades nas janelas, blindam os carros, põem câmeras de vigilância nas ruas e se sentem seguras. Contra a aleatoriedade do terrorismo nada disso serve de tranquilizante.

E há a maldade pela maldade, a maximização fria do dano, a ampliação calculada do sofrimento. É a rotação das asas do avião um instante antes de ele atingir o World Trade Center (para aumentar o número de andares atingidos, imagina-se). É planejar uma matança numa ilha sem ponte nem polícia, onde o atirador pode recarregar suas armas à vontade e fazer tiro ao alvo em adolescentes que correm e, depois, nos que nadam em fuga, sem risco de ser impedido tão cedo.

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A mente humana não lida bem com o imponderável. Sua primeira reação é buscar uma explicação supostamente racional, uma justificativa aparentemente lógica, mesmo que sem embasamento: "foi a Al-Qaeda". No ocidente, é sempre mais fácil imaginar a culpa de um grupo de fanáticos religiosos com barba e turbante para uma chacina, qualquer chacina.

Mais difícil é assimilar a loucura imprevisível de um loiro de olhos azuis, como o norte-americano Tim McVeigh e o norueguês Anders Breivik. Esse tipo de sociopata subverte o estereótipo do terrorista exótico, que já nasceu "culpado" simplesmente por ser de uma cultura diferente. Os McVeigh e os Breivik fogem ao esperado, podem ser "qualquer um de nós" -e por isso são mais aterradores.

Mas mesmo o terrorismo, se distante e suficientemente repetido, pode ser banalizado e dessensibilizar. Quem se lembra de quantos policiais iraquianos morreram no último atentando de um homem-bomba por ali? E no penúltimo?

A vida é aleatória. Qualquer um está sujeito a topar com um Porsche a 150 quilômetros por hora na próxima esquina. Mas, se serve de consolo, a maioria de nós só deve morrer depois dos 60 anos (e se for mulher, depois dos 70), vítima não de um terrorista ou de um motorista, mas de doenças como câncer, derrame ou infarto.

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