Avião cai na Barra Funda: Difícil apontar tendência que explique alta de acidentes, diz Lito Sousa

Segundo especialista em aviação, modelo que caiu em São Paulo é considerado seguro e ainda não há elementos para indicar a causa da queda

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Foto do author José Maria Tomazela
Atualização:

Ainda é cedo para apontar as possíveis causas para o acidente de avião na Barra Funda, na zona oeste de São Paulo, que deixou dois mortos e seis feridos na manhã desta sexta-feira, 7, disse o especialista em aviação Lito Sousa em entrevista ao Estadão.

As imagens que mostram os momentos anteriores ao desastre, ainda segundo ele, só permitem afirmar que a aeronave não ganhou muita altura e o piloto tentou um pouso na Avenida Marquês de São Vicente, uma das mais movimentadas da região.

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As causas do desastre serão investigadas pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), braço da Força Área Brasileira (FAB).Ainda conforme Sousa, que mantém no YouTube o canal Aviões e Músicas, é perceptível um aumento de acidentes aéreos entre o fim de 2024 e o início deste ano.

Nos últimos quatro meses, o Brasil assistiu a uma série de ocorrências com aeronaves de pequeno porte, como os casos de Ubatuba, Gramado, entre outros. No exterior, chamaram a atenção casos nos Estados Unidos, na Coreia do Sul e no Cazaquistão.

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No entanto, como ainda não foram publicados os relatórios de investigação, é difícil dizer se há uma tendência de mais erros humanos ou outros fatores externos por trás do fenômeno.

Veja os principais trechos da entrevista:

O que pode ter causado o acidente com o King Air que caiu na Barra Funda?

É muito cedo para dizer o que aconteceu. O que há de fato é que ele decolou da pista 30 do Campo de Marte, não ganhou muita altura e tentou pouso na avenida. É só o que se sabe.

É um acidente de grande impacto porque ocorre no meio da cidade, atinge outras pessoas, e entendo a pressa em querer entender o que aconteceu, mas é muito cedo.

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O único fato que temos é que ele não ganhou altura e, para ganhar altura, é preciso de tração, é preciso que os motores produzam potência para ganhar altura, e ele não ganhou. Pode ter relação, mas por outro lado pode ser também um problema de controle de voo. Não dá para definir nada ainda, é muito cedo.

Técnicos do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) analisam a área do acidente Foto: Werther Santana/Estadão

Esse modelo de avião é considerado seguro?

O King Air F90 é um avião seguro, bastante usado nos meios executivos. Ele tem dois motores muito confiáveis e, apesar da idade — é um avião de 1981 —, sofreu atualizações, então não tem nada que desabone esse avião.

Temos tido uma recorrência de acidentes aéreos. O que pode estar acontecendo?

Realmente as estatísticas mostram que houve um número maior de acidentes ocorrendo do fim do ano passado para este ano. Isso é visível. Como esses acidentes têm acontecido em um período em que ainda não saiu o relatório dos acidentes, é difícil definir se há uma tendência de mais erros humanos ou outros fatores externos que estejam causando esse número elevado.

Algumas pessoas tendem a pensar que o fato de termos mais aviões voando poderia levar a um aumento no número (de acidentes). Isso não é verdade. Hoje temos na aviação regular, de avião de grande porte, um número cinco vezes maior do que existia na década de 1970, por exemplo, e o número de acidentes é infinitamente menor. O número de aviões voando não justifica o número de acidentes. Mas é preciso aguardar os relatórios para ver efetivamente os fatores que contribuíram.

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Na década passada, se falou no fechamento do aeroporto Campo de Marte. Como o senhor vê essa questão?

Não existe uma relação direta entre os acidentes que aconteceram e o fechamento do aeroporto. O fechamento é mais por uma questão econômica que se arrasta por décadas e que não tem uma solução prática. O aeródromo em si não tem uma ligação direta com o acidente. Por exemplo, digamos que fosse constatado que houve combustível contaminado. Então nós teríamos um número de acidentes muito maior devido a isso. Como não é o caso, não podemos afirmar que há relação do aeroporto com os acidentes que têm acontecido.

Analisando o ocorrido, é possível dizer que o piloto tentou um pouso de emergência?

Me parece razoável. Logo após a decolagem, ele faz uma curva para a esquerda, o que indica, primeiro, uma possibilidade de que ele teria tentado retornar para o aeroporto. Como não foi possível, ele teria tentado pousar num local que seria uma avenida mais larga, e a mais próxima seria a avenida Marquês de São Vicente. Acho plausível que ele tenha tentado o pouso na avenida.