Associações que representam as famílias de vítimas de acidentes aéreos reagiram com preocupação à notícia de que o governo federal pretende ampliar o número de voos comerciais no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Em entrevista a Sonia Racy, do Estadão, Ronei Glanzmann, Secretário da Aviação Civil do Ministério da Infraestrutura, afirmou que, com o investimento de R$ 122 milhões no aumento da capacidade do aeroporto, a quantidade de pousos e decolagens por hora (também chamados de movimentos ou slots) aumentará de 32 para 44 em Congonhas.
“Sempre foi um aeroporto complicado. Agora Congonhas vai passar de 32 para 44 riscos de acidente por hora”, diz o professor universitário Dario Scott, presidente da Associação de Familiares e Amigos das Vítimas do Voo TAM JJ 3054 (Afavitam). Scott perdeu a filha de 14 anos no acidente que matou 199 pessoas em 2007. “Anunciaram a obra de extensão de pista para aumentar a segurança. Agora usam como uma desculpa para aumentar o número de voos e, portanto, aumentar o risco de acontecer um acidente”, diz Scott. “Nossa preocupação continua, mas o que podemos fazer? Infelizmente, não conseguimos sequer a responsabilização por aquela tragédia.” Segundo ele, Congonhas já opera em seu limite.
Para Sandra Assali, presidente da Associação Brasileira de Parentes e Amigos de Vítimas de Acidentes Aéreos (Abrapavaa), a ampliação do número de voos em Congonhas é uma questão delicada e cercada de múltiplos interesses. “Por causa da localização, todo mundo quer chegar e sair de São Paulo por ele”, diz. “Congonhas é um aeroporto de risco. Toda empresa aérea que manifestar o interesse de operar nele tem de fazer um preparo. As tripulações têm um treinamento diferenciado por causa dos requisitos para pousos e decolagens com determinados tipos de aeronave”, diz.
Em 1996, Sandra perdeu o marido na tragédia do Fokker-100. Segundo ela, os acidentes deixaram lições e, depois deles, muitas normas e treinamentos específicos para o aeroporto foram criados. Mas acompanha com otimismo as obras da área de escape que devem ficar prontas no próximo ano. “Será o primeiro aeroporto do Brasil com esse recurso. É uma obra providencial.”
A tecnologia foi contratada em fevereiro de 2021 ao custo de R$ 122,5 milhões. O sistema consiste em uma estrutura formada pelo ajuste entre blocos de concretos que se deformam e contêm o deslocamento do avião, em caso de colisão ou de avanço na área final da pista.
Sem risco
Segundo o comandante Ondino Dutra Cavalheiro Neto, presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas, o aumento da quantidade de pousos e decolagens em Congonhas não representa risco à segurança. “A mudança vai dar mais trabalho ao controle do tráfego aéreo. Um aeroporto com mais pousos e decolagens exige mais atenção de todos, mas não vejo prejuízo à segurança. “Congonhas ficou maculado por dois grandes acidentes, mas a pista não é a menor entre os aeroportos em operação”, diz, citando o Santos Dumont.
“Pela perspectiva do aviador, Congonhas é a pista que podemos chamar de ‘curta-grande’. Não é algo que nos assuste, mas a nova área de escape trará mais segurança porque evitará que o avião caia em um desfiladeiro, caso saia da pista”, afirma ele.
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